Sobre a tal ONG Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia, que dita regras sobre o parlamento paulistano e pauta a grande imprensa em reportagens quase sempre depreciativas sobre a Câmara Municipal (inclusive a já mencionada matéria da Vejinha), nada é pesquisado, nada é questionado.
Não que haja algo suspeito ou ilegal, nem existe a intenção de "desconstruir" (para usar um termo politicamente correto) a credibilidade de uma década de trabalho dito "apartidário" e "apolítico", mas há fatos e informações que não atiçam a curiosidade dos colegas jornalistas, como deveriam.
Por exemplo, a ONG critica corretamente o nepotismo na política - assim como o PPS também critica e combate - mas curiosamente é dirigida em família: Gilberto de Palma, sua irmã Ísis de Palma e o "companheiro" dela, José Domingos Vasconcelos.
Veja que o termo "companheiro" e o parentesco entre os dirigentes da ONG Ágora é uma informação pública (ainda que ignorada ou desprezada pela grande imprensa), que consta num currículo de Ísis de Palma disponível em cinco idiomas desde 2006 na internet.
Fã declarada de Lula e Nabil
Ísis de Palma se apresenta como "educadora que trabalha com educação sócio-ambiental, comunicação, cultura e cidadania". Faz questão de ressaltar que em 2003, "com a eleição do presidente Lula no Brasil" (destaque feito pela autora), passou a ser "consultora do Ministério da Educação".
Ou seja, uma função pública no Governo Lula, a convite de Rachel Trajber, coordenadora geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação e mencionada no currículo de Ísis de Palma como "minha grande amiga", além de sócia de Ísis há mais de 15 anos em uma empresa chamada Imagens Educação - que presta serviços para empresas públicas e privadas.
O petismo exacerbado de Ísis de Palma não é uma suposição pela ligação pessoal e profissional com o Governo Lula. Ela foi também eleitora e apoiadora declarada do petista Nabil Bonduki (vereador de 2001 a 2004 e derrotado nas eleições de 2004 e 2008), inclusive como signatária de um manifesto pró-Nabil.
Cada um vota em quem quiser e se expressa politicamente como bem entender, mas parece um posicionamento no mínimo incompatível para quem se propõe a avaliar de forma imparcial, apartidária e apolítica o trabalho dos 55 vereadores paulistanos.
Verbas públicas e privadas
Afinal, o Ágora sobrevive com quais recursos? Seria salutar abrir as contas da ONG, para entre outras coisas verificar se recebe dinheiro público de convênios para ministrar "Oficinas de Política e Cidadania", onde os jovens aprenderiam, segundo seus diretores, "um pouco mais sobre direitos, deveres e sobre a política brasileira".
Entre os parceiros do Ágora na iniciativa privada está, por exemplo, o empresário Michel Haradom, da indústria química Fersol. Das "ações sociais" conhecidas de Haradom consta o lançamento de um manifesto de apoio à eleição de Lula em 2002, mesmo ano em que o "apolítico" Ágora realizava com apoio declarado da Fersol o evento "Brasil em Debate".
Anti-Serra
Outra ação "apolítica" e midiática do Instituto Ágora foi a ameaça de entrar com uma ação na Justiça contra o ex-prefeito e então candidato ao governo de São Paulo José Serra, em 2006.
O presidente da ONG, Gilberto de Palma, alegou que a medida se justificaria porque Serra teria quebrado “um contrato de representação” e deveria “renunciar à renúncia”.
“Ele assumiu o compromisso de governar a cidade por quatro anos e deve honrar o compromisso com os eleitores”, segundo Palma, que voltou a destacar o caráter apolítico e apartidário de sua ação.
Objetivo: ganhar dinheiro
Uma autoapresentação de Gilberto de Palma, colhida também na internet, é igualmente interessante e esclarecedora. Veja o que diz o idealizador do "Troféu Joinha", que o colocou na mídia ao "eleger" os piores projetos dos vereadores de São Paulo (ao invés de destacar os projetos bons para a sociedade):
Eu fui professor durante toda minha vida. (...) depois de muito tempo, mais de 10 anos e cansado de ser aviltado no meu salário e ser desrespeitado, não pelos alunos e pelo meu meio, mas pelo país em que vivemos, resolvi mudar de emprego, mudar de vida. Abri uma editora e disse para mim mesmo: “Vou ser empresário”. E minha vida de empresário foi rapidíssima. Um verdadeiro fracasso na área empresarial.
Imagino que todos nós sentimos essa necessidade de extrair sentido da vida e, para mim, é no trabalho. Ser empreendedor social aos 44 anos foi a grande oportunidade que eu tive. (...) Minha vida era muito irregular. Há momentos em que se conseguem contratos, compromissos de trabalho e se ganha dinheiro. Mas há períodos em que você fica em situação difícil perante sua companheira, sua família. Você tem que trabalhar e não há pleno emprego neste país. Aliás, eu vinha desse processo negativo junto às empresas. Eram poucos os projetos na área cultural que vingavam. E já estava até habituado a ouvir respostas negativas e andava meio triste com minha vida.
Quando você me pergunta assim: “Como é que foi a trajetória do Ágora em três anos?” Foi a trajetória de idas e vindas, refluxos, pisadas na bola de maneira muito clara. E a grande aventura, o grande barato é poder ter isso não como traumático, mas como degrau. Só no terceiro ano que o Instituto Ágora conseguiu parceiros financeiros. Nos primeiros dois anos, foi totalmente ancorado no trabalho voluntário, que é muito irregular e problemático. O meu velho trauma na área empresarial de captação de recursos teve uma grande revelação.
Quando eu captava recursos para um projeto que era meu, padecia de um monte de problemas, mas quando o projeto não é da pessoa que o idealizou, porque foi incorporado pela sociedade, é notória a mudança de espírito. Fica clara a promessa para a sociedade, há uma proposta séria. E o grande trabalho foi o de tentar sociabilizar o projeto, o que foi feito intuitivamente. Quando as pessoas conhecem o Ágora, comentam: “Esse negócio vale a pena”. Ora, se não é mais meu e se vale a pena, posso dizer que superei muitas barreiras e entro na sala dos empresários com tranqüilidade. O Ágora é mesmo um excelente projeto, um empreendimento viável, factível.