quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Artigo: "Incorporadora Haddad & Boulos Ltda."

Artigo de Carlos Fernandes (PPS/SP)
Ao anunciar como se fosse uma grande ação da Prefeitura de São Paulo "entregar" o controle de 20% do Programa Minha Casa Minha Vida aos movimentos sem-teto, a imprensa cai (por ingenuidade ou má fé) na armadilha do marketing petista.

Será que setores da mídia não percebem ou querem deliberadamente omitir o fato de que essa é mais uma prova da incompetência e do despreparo do prefeito Haddad? Ele está prevaricando (não cumprindo com as obrigações da sua função) ao "privatizar" uma responsabilidade que é da gestão pública e furar a fila dos programas habitacionais.

Em vez de atuar em parceria com entidades organizadas idôneas, até por meio de mutirão, promovendo a justiça social e priorizando quem está há mais tempo à espera da casa própria, o prefeito  não consegue cumprir as promessas de campanha e joga essa responsabilidade para cima da própria população. 

Calcula-se em mais de 250 mil imóveis o déficit habitacional na cidade. Porém, há quase um milhão de famílias na fila dos programas de moradia, esperando por um local para morar (no caso dos sem-teto e de famílias que habitam áreas de risco) ou uma casa melhor (no caso de moradores de favelas, por exemplo).

E o que Haddad faz? Passa por cima de todo esse ordenamento administrativo para atender ao MTST nos novos empreendimentos imobiliários paulistanos, como se fossem todos sócios de uma grande incorporadora, funcionando alheia aos interesses da maioria da população. 

Explica-se: numa canetada de Haddad, os movimentos sociais (MTST à frente) ganham o terreno da Prefeitura, contratam ao bel prazer a empresa que fará a construção das moradias e indicam segundo seus próprios critérios quais famílias irão receber as chaves das casas.

É um prato cheio para quem fingia fazer oposição à atual gestão, como o bem-nascido Guilherme Boulos, líder do MTST, com ações orquestradas e a cumplicidade criminosa da Prefeitura do PT. Também parece um perigoso precedente, ao ensinar que quanto maior a pressão e a ameaça sobre o governo, maiores as "conquistas" dos movimentos.

Neste ano, Haddad usou o MTST para chantagear a Câmara a aprovar mais rapidamente o Plano Diretor. Em troca, prometeu entregar ao movimento a posse de terrenos públicos e privados invadidos pelos sem-teto, incluindo áreas de mananciais. Um absurdo! 

Não será com irresponsabilidade, lavando as mãos de suas obrigações como homem público, que Haddad vai resolver os problemas habitacionais da cidade ou recuperar a sua popularidade perdida, já visando a reeleição. Não vamos nos calar diante deste descaso pela "coisa pública". Isso é crime e vamos denunciá-lo!

Carlos Fernandes foi subprefeito da Lapa e preside o PPS paulistano.