segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Como nunca antes na história deste país... Agora cabe a frase ufanista de Lula, para a corrupção no Brasil!

Parece emblemático que, no aniversário de 125 anos da República, a manchete de todos os jornais deste 15 de novembro tenha sido a notícia da prisão de mais de 20 executivos das grandes empreiteiras do país, envolvidos no maior escândalo de corrupção da História do Brasil.

A operação da Polícia Federal atinge em cheio o coração financeiro do nosso falido sistema político-partidário, com seu complexo sistema circulatório alimentado pelo desvio de dinheiro público.

Parte ínfima desses recursos é registrada oficialmente como contribuição eleitoral, enquanto o maior volume abastece contas no exterior e o "caixa dois" de partidos governistas e de candidatos corruptos, em todas as instâncias.

Pela primeira vez, faz-se um elo entre corruptos e corruptores. Não é por acaso que os primeiros presos sejam de empreiteiras e construtoras. Há uma corrupção sistêmica no setor de obras públicas. Em troca do financiamento de partidos e políticos do governo (na esfera federal, estadual e municipal), as empresas tem garantida a participação nos contratos firmados com o setor público. A comissão faz parte do negócio.

Segundo as investigações sobre a corrupção na Petrobras, as maiores construtoras do país estão envolvidas no esquema: Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Iesa, UCT, Andrade Gutierrez, OAS, Engevix, Galvão Engenharia. Todos os executivos presos até agora na Operação Lava-Jato são destas empresas.

Também é bastante ilustrativo que, no dia 10 de novembro, o maior e mais influente jornal do país, a Folha de S. Paulo, tenha publicado um caderno especial intitulado "O Brasil que dá certo", com patrocínio da Andrade Gutierrez e da Camargo Corrêa, exaltando as maravilhas dos governos do PT.

Os gigantes da construção civil e do ramo imobiliário alimentam não apenas o sistema de financiamento político-partidário, mas estão também entre os maiores anunciantes dos principais veículos de comunicação do país, ao lado do próprio governo e das empresas estatais, dos bancos, da indústria de automóveis, bebidas e alimentos, dos laboratórios farmacêuticos e setores de telefonia, varejo, mineração e energia.

Ou seja, fecha-se uma triangulação (governo / iniciativa privada / mídia), bilionária e conveniente, que explica em grande parte a perpetuação, sem investigações a fundo, da existência desses esquemas de corrupção. Todos se beneficiam direta ou indiretamente deste "Brasil que dá certo" (para eles, acima de tudo!).

Não há aqui nenhuma nova acusação, mas uma constatação óbvia: as nove empresas implicadas nessa etapa da Operação Lava-Jato desembolsaram mais de 610 milhões de reais nas campanhas eleitorais de 2010 e 2014, segundo os registros oficiais no TSE.

Quem são os maiores beneficiados? Alguma dúvida de que o PT e os partidos da base são os líderes de arrecadação? Leia: Sete dos dez maiores doadores de campanha são suspeitos de corrupção.

Veja abaixo, apenas para exemplificar, os links com as doações de algumas destas empresas a partidos políticos e candidatos nas eleições municipais de 2012 e nacionais de 2010:

Eleições municipais de 2012 (prefeitos e vereadores) - Construtora Norberto Odebrecht S AConstrutora Norberto Odebrecht Brasil S/AOdebrecht Oleo e Gas S/AOdebrecht Realizacoes Imobiliarias e Participacoes S.A..




Construtora Queiroz Galvao S A., Queiroz Galvao Bom Retiro Desenvolvimento Imobiliario LTDAQueiroz Galvao Bosques do Japi Desenvolvimento Imobiliario LTDA. Queiroz Galvao Caio Pereira Desenvolvimento Imobiliario LTDAQueiroz Galvao Empreendimentos LTDAQueiroz Galvao Isla Desenvolvimento Imobiliario LTDAQueiroz Galvao Nature Etapa 2 Desenvolvimento Imobiliario LTDAQueiroz Galvao Oleo e Gas S/AQueiroz Galvao Platinum Desenvolvimento Imobiliario LTDAQueiroz Galvao Reserva do Japi Desenvolvimento Imobiliario LTDAQueiroz Galvao Tower Desenvolvimento Imobiliario LTDAQueiroz Galvao Vilas Boas Desenvolvimento Imobiliario LTDA.

Eleições nacionais de 2010 (presidente, governadores, deputados, senadores) -  Construtora Norberto Odebrecht Brasil S/AConstrutora Norberto Odebrecht S AOdebrecht Realizações Imobiliarias S/A.
Além de serem as campeãs disparadas no financiamento político e eleitoral, vejamos como as construtoras e também as empresas do setor imobiliário dominam a circulação de dinheiro nos jornais, principalmente.

Tomemos como referência a edição histórica deste sábado, 15 de novembro, da Folha de S. Paulo. No seu primeiro caderno ("Brasil"), o mesmo que publicou as prisões efetuadas pela Polícia Federal, há 17 das 28 páginas (ou 60% do total) estampando a publicidade de construtoras e o lançamento de empreendimentos imobiliários.

São diversos anúncios de página inteira, meia ou dupla, de empresas que também são doadoras de campanhas, principalmente Abyara / Brasil Brokers (veja as doações em 2012 e 2010) e Gafisa (2012 e 2010).

Mas nos cadernos internos isso não difere muito: Mercado (9 páginas de 12, ou 75%), Esporte (2 de 4, ou 50%), Mundo (15 de 24, ou 62,5%), além do próprio caderno de Imóveis, todos são dominados por anúncios de empresas como Yuni, Fernandez Mera, Lopes, Even, Esser, EdalcoEztec, Queiroz Galvão, Onni, AAM, Five, Helbor, Toledo Ferrari, Coelho da Fonseca, Sinco, Exto, Atua, Fibra Experts, MAC, Bueno Netto, PDG, Dialogo, Elite Brasil, Marques Construtora, entre outras.

Repetimos, não existe aí nenhuma ilegalidade intrínseca, mas um enorme incômodo de quem enxerga nessa relação paradoxal os interesses econômicos envolvidos entre o financiamento de campanhas políticas e a relação posterior entre essas empresas e o governo, além dos veículos de comunicação que se dizem independentes, mas que sobrevivem da publicidade paga por ambos.

Quer mais exemplos concretos do que estamos dizendo sobre os interesses econômicos entre governo, iniciativa privada e a suposta (in)dependência dos veículos de comunicação?

Leia aqui:

Haddad, o prefeito amigo do mercado imobiliário




Aliás, vale dizer que, se o setor da construção foi quem mais doou recursos para os candidatos e partidos, o maior doador individual das campanhas em 2014 é o grupo J&F.

A holding que controla o frigorífico JBS (carnes Friboi) contribuiu sozinha para a eleição de pelo menos 160 deputados federais (ou mais de 30% da Câmara, composta por 513 parlamentares).

Aí você pensa: Qual será o interesse de um frigorífico na política? Quando surgem rumores de que os mesmos investidores do grupo J&F são os "favoritos" para vencer a concorrência da iluminação pública da cidade de São Paulo e futuramente até do setor de transporte municipal, terminada a auditoria particular da Prefeitura e o contrato emergencial que foi prorrogado nesses dois anos da gestão Haddad, você começa a entender que deve fazer algum sentido.

No momento em que a Câmara de São Paulo também está envolvida em denúncias de corrupção, se não bastasse a polêmica do financiamento eleitoral, vale lembrar que doações de uma associação do setor imobiliário, consideradas ilegais pela Justiça, na legislatura anterior, levaram à condenação em primeira instância de vereadores de São Paulo.


O assunto do financiamento das campanhas (público? privado?) e da necessária reforma política está na ordem do dia, dividindo espaço com a apuração dos escândalos de corrupção. Os debates sobre o tema prometem dominar o ano de 2015. Estamos de olho!