sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Entrevista de Soninha à Folha de Vila Prudente
Na manhã da última terça-feira, a jornalista, ex-vereadora e ex-subprefeita da Lapa, Soninha Francine (PPS), 44 anos, cedeu entrevista exclusiva à Folha sobre a sua segunda candidatura para a Prefeitura de São Paulo, onde afirmou estar mais preparada para assumir o comando da maior cidade do país do que em 2008, na sua primeira eleição para o cargo.
Logo de início Soninha fez questão de ressaltar que não se sente perseguida por não ter tanto destaque na mídia quanto os outros candidatos. “Já trabalhei com isso e sei que como tudo na imprensa algumas coisas ou pessoas acabam tendo mais atenção do que outras. É normal. Nós, candidatos, que somos considerados pequenos, sempre reclamamos. Só que de acordo com as pesquisas Datafolha e Ibope, eu estou em terceiro lugar na intenção de voto, então não podem me chamar mais de pequena”.
Soninha também descartou a possibilidade de se aliar com outro candidato e concorrer como vice na chapa. “Eu quero ser prefeita. E para isso vou disputar quantas eleições forem necessárias. Para mim, participar da campanha já é um grande passo. Posso discutir temas importantes para a Cidade e debater com jornalistas sobre assuntos essenciais. Concorrer já é um terço do que desejo na vida política, liderar o executivo são dois terços”, comenta a candidata.
A ex-vereadora não fugiu de assuntos polêmicos e fez questão de dar sua posição sobre as ações da Prefeitura e da Polícia Militar na cracolândia, no Centro. “O que está sendo feito já existe na lei. A internação do dependente químico pode ser feita de três maneiras: voluntária; involuntária e compulsórias. A internação involuntária é possível, pois o usuário de crack, especificamente, pode ser considerado incapaz, então ele pode ser retirado. O problema é que este processo envolve vários setores. A primeira abordagem tem que ser feita pela assistência social em conjunto com a saúde. A polícia pode sim intervir para preservar os funcionários da Prefeitura e também por se tratar de um local onde há tráfico de drogas e violência, até mesmo de uns usuários contra os outros. O que não pode é usar cacete e bombas de efeito moral para dispersar. Mas agora não se pode deixar as pessoas vivendo em buracos como aqueles. Ignorar essa situação é que é não respeitar os direitos do ser humano”, completa Soninha.
Confira alguns dos principais trechos da entrevista:
Folha – Como ex-subprefeita, você acredita que o atual sistema de subprefeituras funciona ou tem que ser mudado?
Soninha Francine – Não tenho a menor dúvida de que devemos descentralizar a administração da Cidade. A Subprefeitura Lapa, por exemplo, tem seis distritos sob sua jurisdição, entre eles Perdizes e Jaguaré. Uma área não tem nada de parecido com a outra. São necessidades e anseios diferentes. Em são Paulo existem 31 Subprefeituras para administrar 96 distritos. Outra questão é que devem ser criadas coordenadorias das secretarias dentro das subs. Não tem como comandar um local se você não sabe as prioridades da população naquela determinada área. Temos que criar o Plano do Bairro. Para apontar o que precisa ser feito em cada lugar. A Companhia de Engenharia de Tráfego também é outro órgão que precisa se descentralizar. Hoje ela conta com seis divisões e uma delas só para cuidar das marginais.
Folha – Quais são os principais problemas que você apontaria na Vila Prudente e região?
Soninha Francine – Esta é uma área mal planejada, sem verticalização, como em boa parte de São Paulo. Temos que criar projetos para criar centros regionais, onde o morador não precise sair de casa e atravessar a cidade para trabalhar. Poderíamos facilitar a instalação de indústrias por vários lugares do município. Isto criaria mais empregos em cada região. Outras áreas profissionais também têm que ser revistas. Hoje você pega o telemarkerting de um banco daqui, que é instalado em Manaus. Por que não fazer o telemarketing em Itaquera e criar empregos lá? Outro problema é o desaparecimento dos comércios locais. Se você não tem mais a padaria, o mercadinho e a loja da sua rua, você tem que ir até o shopping ou ao hipermercado. E para isso você tem que usar o carro. Hoje você vê ruas com um grande trânsito de veículos, mas que estão desertas, não tem ninguém andando na calçada.
Folha – Outra questão preocupante em São Paulo é quanto ao descarte de lixo, o que fazer neste caso?
Soninha Francine – Existem problemas nas coletas de lixo da Prefeitura, na coleta seletiva então nem se fala. O ideal é a coleta mecanizada mesmo, onde as pessoa não precisem ficar colocando sacos de lixo na calçada e sim nos contêineres específicos. Também tem de dar mais ajuda as cooperativas de reciclagem. Mas o problema do lixo você se resolve mais com uma mudança de cultura da população, do que com leis. Não adianta você proibir, se não fiscaliza. Um exemplo é o fim das sacolas plásticas. Finalmente a população, com a ajuda dos empresários, que aderiram a ideia, está criando a consciência dos problemas que este tipo de material acarreta. Além do lixo, temos que pensar no entulho também. Existem vários projetos para a reciclagem dos mesmos e a Prefeitura têm que facilitar este trabalho. Os ecopontos, por exemplo, que já deviam existir há anos, são insuficientes. Eu defendo que tem que existir um ecoponto em cada distrito.
Folha – Você se considera capaz de ser prefeita de São Paulo?
Soninha Francine – Me considero. Como jornalista tenho experiência para debater e em confrontos, e as experiências como vereadora e como subprefeita me ensinaram muito como funciona a administração da cidade. Fora isso, diferente dos outros candidatos, utilizo ônibus, metrô e as Unidades Básicas de Saúde (UBS), então conheço bem os serviços do município.
Folha – Qual a mensagem que você quer deixar para os leitores do jornal?
Soninha Francine – Acreditem que São Paulo tem jeito. É viável isso. Da para ser uma cidade mais inteligente, mais vivível, mais saudável e menos burocrática. A política também tem jeito. É possível. Ninguém proíbe, ninguém impede de você fazer mudanças. Você pode até fazer concessões durante uma administração, mas não mudar os seus princípios. São Paulo por si só, já é um milagre, mas pode ser bem melhor. Da para fazer uma cidade melhor. E não é utopia. Não é um sonho dormindo e sim um sonho acordado. Podemos mudar para melhor.