Do ponto de vista político, é impecável a lógica do condomínio Kassab-Alckmin de decidir agir na cracolândia de São Paulo.
A situação sabe que Fernando Haddad (PT) está flanando na pré-campanha à prefeitura. O ministro da Educação é um poste, mas está mais do que provado que postes têm potencial quando bem apadrinhados -e, fato novo, Lula, o patrono, passou a influenciar o voto paulistano.
Kassab passou 2011 na operação bem-sucedida de montar o PSD. Mas foi punido em casa, com grande rejeição, pela percepção de que se esqueceu de administrar a cidade.
Falta um nome razoável para uma candidatura de continuidade, mas o primeiro passo dentro dessa lógica é melhorar a aprovação da gestão.
Daí a decisão de intervir na cracolândia, local que já atraía os olhos do governo federal, via Ministério da Saúde, com igual objetivo eleitoral.
Fácil não é, e a patrulha é brava. Há uma falácia esquerdista que tenta colar o rótulo de "higienismo social" em qualquer medida nesse sentido.
É ridículo dizer que os farrapos humanos que praticam crimes para sustentar sua doença têm direitos que se sobrepõem aos da massa impedida de andar pelas ruas do "centrão" sem correr riscos. Se alguém está ameaçado no seu ir e vir é o não usuário de crack. Vá à Luz e veja por si.
Mas não se trata de defender o exílio dos "noias" ou algo assim. São pessoas doentes que precisam de ajuda. É aí que reside o segredo do sucesso ou do fracasso da operação atual e onde mora o maior risco para a estratégia governista.
Se ficar claro que Kassab apenas disseminou o problema, o jogo estará perdido. Já se houver algum grau de sucesso social e se, de fato, o centro for retomado pelo Estado, a situação ganhará um trunfo.
Seja como for, é lamentável que nada disso passe por uma real preocupação administrativa, da situação ou do governo federal. É puro cálculo eleitoral e talvez efêmero como tal.
(Artigo do jornalista Igor Gielow publicado na Folha de S. Paulo deste sábado, 7 de janeiro de 2012)
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