Com toda a pompa (e o uso indevido da máquina governamental), enfim a "famiglia" petista lançou oficialmente a campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, com direito à presença do chefão Lula e até do padrinho José Sarney. Não deixa de ser irônico o anúncio de um "lançamento oficial", quando a legislação eleitoral proíbe e o TSE pune a propaganda eleitoral antecipada antes da realização das convenções partidárias no mês de julho, que oficializam as candidaturas e dão início ao prazo legal de campanha.
Mas o que é a lei diante da ânsia e da necessidade petista de fazer Haddad, o homem-traço de Lula, subir nas pesquisas de intenção de voto, né?A presidente Dilma Roussef entrou declaradamente na campanha, em dois eventos festivos criados pelos marqueteiros, por dois dias seguidos, com direito à transmissão ao vivo da TV Brasil, discursos emocionados, fotos oficiais e todos os indícios do atropelo que virá por aí da máquina pública contra o "resto" (os pobres mortais que se candidatarem à Prefeitura de São Paulo contra o ungido de Lula).
O primeiro ato
(artigo de Igor Gielow na Folha de S. Paulo)
BRASÍLIA - A cena no Planalto ontem era toda simbolismo, um mar de poderosos e acólitos em concentração há muito não vista em Brasília.
Sob tratamento contra o câncer, Lula jogou no sacrifício e abriu ala sob ovação, incorporando uma versão tropicalizada do Marlon Brando sendo adulado em "O Poderoso Chefão". Dilma resignou-se por um momento ao antigo papel de sombra.
A saída de Fernando Haddad e a posse de Aloizio Mercadante marcaram mais do que uma transição no Ministério da Educação. Transmutaram-se no primeiro ato público da pretensa etapa final do projeto lulista de hegemonia política: conquistar, enfim, São Paulo, capital e Estado.
Lula inventou uma candidatura viável para Haddad, que, no mínimo, irá se tornar conhecido. Terá Dilma a defendê-lo como ontem e falta-lhe oposição hoje, mas a ausência de Marta Suplicy na posse é reveladora do que o espera em casa.
Mas Mercadante chama mais atenção. Após anos como boi de piranha do lulismo, parece que finalmente a sorte lhe sorriu. Será? Sua nova estatura é capaz de vitaminar uma nova candidatura a governador em 2014, ainda mais se a capital voltar para o PT.
Repete assim o tucano José Serra, que também sempre quis comandar a economia sob FHC e se viu catapultado a uma forte pasta social visando um projeto eleitoral. Não deu certo, mas isso é outra história.
Em sua autoimportância, aliás, Mercadante sempre foi uma espécie de Serra do PT. Sua tese de doutorado, que em plural majestático enaltecia os anos Lula, é nota cômica disso -para não lembrar da "renúncia irrevogável" de um dia de 2009.
O plano está dado e terá de enfrentar a realidade em São Paulo, ao menos em nível estadual, um reduto tucano. Mercadante terá de lidar também com a nova geração lulista (Haddad e Alexandre Padilha), além de consertar os erros em série na aplicação do Enem. Não é pouco.
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