quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"Inferno eleitoral" de Kassab a um ano da sucessão

Popularmente, "inferno astral" é o período de um mês que antecede o aniversário da pessoa, justificativa para todo e qualquer tipo de dificuldade enfrentada. Por livre associação, o que o prefeito paulistano Gilberto Kassab enfrenta atualmente é uma espécie de "inferno eleitoral" a um ano da sucessão.

Sem nome forte para a eleição e envolvido em temas espinhosos como o bloqueio de seus bens em razão de irregularidades no serviço de inspeção veicular, além da polêmica e desgastante criação a toque de caixa do insípido, inodoro e incolor PSD, Kassab não tem dado sorte nem quando o assunto é a simples implosão de um prédio "condenado": dá nota 10 para um serviço malfeito, assim como dá 10 para a sua própria gestão, que vem enfrentando os menores índices de aprovação desde 2006.

Na hora em que o poder público resolve, enfim, agir na chamada "cracolândia", uma terra de ninguém ocupada há anos por zumbis movidos pelas drogas, a notícia é de que um albergue da Prefeitura específico para atender essas pessoas vai atrasar um mês.

O "inferno eleitoral" de Kassab é agravado ainda pelo movimento errante dos principais envolvidos: o PSD flerta com o PT, com alguns seguidores do novo partido kassabista ávidos por um ministério no governo Dilma. O DEM, seu antigo partido, ameaça se coligar ao PMDB, do "inimigo" Gabriel Chalita. O antigo aliado PSDB também pode lançar candidato alguém mais crítico à sua administração - não alinhado a José Serra, seu antecessor e até então principal fiador político-eleitoral.

Das soluções caseiras, Guilherme Afif não tem a densidade imaginada a princípio para se lançar à Prefeitura e Henrique Meirelles parece ser um "plano B" mais para poupar a administração de ataques pesados do PT, PSDB e PMDB - já que ele tem vínculo com todas essas legendas - do que propriamente para ganhar a eleição.

Parece difícil reverter tão baixo índice de popularidade em 9 meses, ainda mais com a onda contrária dos formadores de opinião. A Folha de S. Paulo publica hoje artigo detonador, em que rememora até o humorista Sérgio Porto, com o seu impagável Stanislaw Ponte Preta, criador, entre outros, do Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País) e do Samba do Crioulo Doido. Leia:

FEBEAPÁ

Rogério Gentile, da Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Gilberto Kassab tem revelado, nos últimos tempos, um traço de sua personalidade que pouca gente conhece. O prefeito paulistano é, antes de tudo, um piadista.

Primeiro, declarou que o seu novo partido, o PSD, não seria "nem de direita, nem de esquerda, nem de centro". Depois, confrontado com o fato de que muitas das suas metas administrativas não tinham ainda sido cumpridas, afirmou que a nota de sua gestão é "dez com louvor".

Agora, o prefeito decide extinguir, oito meses após sua criação, a Secretaria Especial de Articulação para Grandes Eventos -engendrada para ajudá-lo nos preparativos de acontecimentos importantes como a Copa.

Não entendeu a sutileza do humor kassabiano? Pois bem, a mando do prefeito, o secretário especial Walter Feldman trabalhou praticamente esse tempo todo na Inglaterra, a cerca de 9.500 quilômetros da cidade que paga seu salário.

A sua missão era recolher dados e acompanhar a organização da Olimpíada que ocorrerá em Londres, em julho. Informações que, evidentemente, serão extremamente importantes para que São Paulo possa ajudar o Rio de Janeiro a organizar a sua competição, em 2016, bem como para auxiliar a própria capital paulista na Copa de 2014.

O agravante nessa história toda é que Kassab exonerou Feldman anteontem de suas funções na prefeitura para que possa assumir uma cadeira do PSDB na Câmara dos Deputados.

E os preparativos para a Copa, acabaram? E a tal necessidade de ter alguém que fizesse os entendimentos com os órgãos internacionais, leia-se Fifa, como previa o decreto que fixou as incumbências da secretaria? Nada disso mais importa?

Em seu blog, o deputado disse que entregou a Kassab um relatório "com mais de mil páginas de projetos em diversas áreas para que São Paulo possa definitivamente agregar negócios e desenvolvimento sustentável". Ok, então está certo. Resta saber se alguém acha isso tudo engraçado.