Diário do Comércio
Candidata à Prefeitura de São Paulo em 2012 pelo Partido Popular Socialista (PPS), a jornalista Soninha Francine propõe mudanças radicais na gestão da administração municipal da capital paulista. Quer eliminar "as burrices" no sistema de Saúde, por exemplo.
Em entrevista ao Diário do Comércio, a candidata – hoje responsável pela Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco) do governo do Estado –, entra na disputa pela chefia do executivo paulistano pela segunda vez.
Em 2008, registrou 266.978 votos (4,19% dos válidos) e terminou em quinto lugar (atrás de Kassab, Marta, Alckmin e Maluf). A seguir, os principais trechos da entrevista.
Diário do Comércio – Quais são suas propostas para o trânsito de São Paulo?
Soninha Francine – O básico é priorizar o coletivo em relação ao individual motorizado. Agora, enquanto para muita gente isso se traduz em mais metrô, eu tenho certeza de que a gente precisa melhorar muito o transporte por ônibus. Não só porque é atribuição direta da prefeitura, mas porque o ônibus tem uma capacidade enorme de transporte de passageiros. O problema é que ele é muito mal distribuído. Você tem sobrecarga em muitos lugares e linhas ociosas com ônibus vazios em outros.
DC – A gestão...
Soninha – Tem um problema de gestão de linhas de ônibus que é muito sério. Com os corredores que temos, com a estrutura que já temos, só com melhoria na gestão já é possível melhorar muito a qualidade do sistema, com mais informação para as pessoas e pontos mais confortáveis. Algumas linhas foram ficando obsoletas com o passar do tempo e acabaram ficando superpostas. Elas podem ser melhor distribuídas.
Outro ponto que é tão importante e está diretamente relacionado com esse é o uso do solo. A distribuição de moradia versus a atividade econômica na cidade. Precisamos aproveitar melhor a infraestrutura urbana já instalada para que mais gente more nesses locais. Nos últimos anos, os lugares onde temos menos atividade econômica foram os que mais incharam, como o extremo noroeste, o extremo leste e o extremo sul. Se não resolvermos esse desequilíbrio, não vai ter ônibus, metrô, trem urbano ou via expressa que dê conta de tamanho êxodo, com milhões de pessoas se deslocando no mesmo horário e sentido.
DC – É a busca de mais qualidade de vida...
Soninha – Mobilidade e equilíbrio na moradia e atividade econômica interferem diretamente na vida das pessoas de todas as maneiras. Quanto tempo elas têm para dormir, para ficar em casa com a família, para o lazer ou atividade física. A solução começa ao compreendermos por que as pessoas se deslocam, para diminuir essas distâncias.
DC – O que mais a incomoda na cidade?
Soninha – A saúde é sempre um incômodo, mas tudo está integrado. O transporte coletivo também está ligado a isso. Para uma vida mais saudável, diminuir a distância entre a casa e o trabalho jê é um grande passo. Mas para as doenças mesmo, o atendimento em saúde não tem só gargalos ou a sobrecarga versus a falta de médicos e equipamentos. Tem burrices no sistema. Novamente, uma questão de gestão. Tem alguns lugares onde a demanda fica represada, porque é mal administrada.
DC – Por exemplo?
Soninha – Para você ter uma consulta com um especialista, é preciso passar primeiro por um clínico geral. Isso é absolutamente dispensável. Até porque o clínico vai ouvir sua queixa e falar "é caso para um especialista". A pessoa espera três meses para passar no clínico, fica cinco minutos no consultório e espera dois meses para ser atendido pelo especialista. Tem coisas que podem ser melhoradas na logística do sistema por mais qualidade de vida.
DC – O PPS é pequeno... Você acha que vai até onde?
Soninha – Eu quero ir para o segundo turno. Até porque os partidos grandes, nossos rivais de maior porte, estão em um momento especial de desorganização interna. Não tenho como adversários os velhos nomes de sempre, que já disputaram eleições e tiveram milhões de votos. Estamos em uma época especialmente propícia a surpresas, e gostaria de ser uma surpresa.
DC – Os recursos do partido são suficientes para a campanha?
Soninha – Olha, ainda bem que eu preciso de pouco dinheiro, graças a Deus. Eu não faço a menor questão de ter um programa eleitoral gravado na melhor produtora com iluminação cinematográfica e diretor badalado. Para minha campanha, que também tem muita mídia espontânea, não preciso de tanto dinheiro quanto meus adversários.
DC – Todo candidato tem um público especial. Seu público especial ainda é o jovem?
Soninha – Nisso, eu já saio com vantagem. Não vou fazer nenhum esforço para me dirigir aos jovens, até porque é bobagem segmentar discurso em eleição majoritária. Mas tenho essa vantagem, porque eles já me conhecem. Já me viram falando de meio ambiente, de sexualidade, drogas, cultura, esporte, enquanto outra parte do eleitorado precisa de apresentação. Conhecem a Soninha, aquela da bicicleta, da TV Cultura, da maconha... com referências negativas, inclusive.
DC – Por que você acha que é uma boa opção?
Soninha – Primeiro, minha experiência no Legislativo. Foi muito intensa minha passagem pela Câmara. Eu exerci meu mandato com o máximo interesse e curiosidade. Tive uma experiência de executivo que também é uma pós-graduação em dificuldades, que é ser subprefeito. Não é mais difícil que ser prefeito, porque você tem os mesmos problemas e nem um centésimo das possibilidades de resolvê-los.
DC – O que você vai dizer, mostrar, em sua campanha?
Soninha – Mostrar que a gente tem uma visão diferente das coisas. Não é um discurso, simplesmente. É uma demonstração de que é possível ser diferente. Essa experiência já tive em 1998. Comecei de traço nas pesquisas e acabei com quatro e meio.
DC – Você tem um caminho pela frente...
Soninha – Claro, e um caminho longo, mas tudo bem. Se o preço de encurtar o caminho é fazer mil e duas concessões, eu prefiro o caminho longo.