terça-feira, 6 de maio de 2014

São Paulo: legitimar o caos ou proteger a vida?

Num primeiro momento, a base de Haddad cedeu à pressão e à chantagem de baderneiros, e legitimou a invasão de uma área de preservação de mananciais. Pode recuar a tempo, em nome do bom senso e dos verdadeiros interesses da cidade, ou persistir nesta insanidade. E agora?


Passada a ressaca do feriadão e a dor de cabeça resultante da polêmica 1ª votação do Plano Diretor (a 2ª está prevista para acontecer antes do início da Copa), marcada pelo tumulto e pela omissão da maioria governista perante a irresponsabilidade do prefeito Fernando Haddad, recomeçam nesta terça-feira (6 de maio) os trabalhos e articulações na Câmara Municipal de São Paulo.

Resta saber como será o comportamento dos vereadores, pois os manifestantes já avisaram que vão radicalizar: o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que comandou os protestos violentos da semana passada, afirma que desta vez vai mobilizar 10 mil pessoas para pressionar o Legislativo. Se, com duas mil, já causou estrago e barulho, ganhando literalmente na força e no grito, calcule agora na votação definitiva.

Como diria o folclórico e bom jornalista Juarez Soares (por sinal, ex-vereador petista na gestão de Luiza Erundina): "Onde passa um boi, passa uma boiada". Os movimentos pró-moradia, que já ganharam a primeira batalha na base da truculência, consideram o método infalível. Aliás, promoveram novas invasões no fim-de-semana. Onde isso vai parar?

A imagem da Câmara não é das melhores. Ao contrário: é a instituição que tem exatamente a pior avaliação, ano após ano, nas pesquisas encomendadas pela Rede Nossa São Paulo.

Pois agora os vereadores vão enfrentar outro dilema: ceder mais uma vez às pressões de um movimento organizado, barulhento e violento, manipulado pelo PT e insuflado por um falso conflito de classes, ou encarar a situação com responsabilidade e colocar em primeiro plano os interesses da cidade, ainda que diante da claque de plantão isso pareça impopular?

Aprovar em 1ª votação o Plano Diretor naquele contexto, além de passar a impressão de terem cedido à pressão e ao constrangimento pessoal, fez crer que estão legitimados os métodos truculentos e as ocupações irregulares na cidade. Afinal, os invasores da área denominada Nova Palestina se consideram vitoriosos na reivindicação, inclusive com o apoio demagógico e oportunista do prefeito Haddad e de sua base.

A demanda por moradia é justa e legítima, mas Executivo, Legislativo e Judiciário não podem concordar que essa conquista de um grupo de milhares de famílias se dê em prejuízo da totalidade da população, numa área de proteção dos mananciais.

A gestão petista acenou com a cessão de 300 mil metros quadrados à habitação popular, com a decretação de zona de interesse social onde a lei e o bom senso exigem proteção ambiental. Mas o MTST já avisou que cobrará a totalidade do terreno de 1 milhão de m² às margens da Represa Guarapiranga. Não aceita meio termo.

O que faria, nesta situação, um governo responsável, preocupado com a sustentabilidade e comprometido com a integridade e a qualidade de vida da sua população?

Certamente o contrário do que faz o prefeito Haddad e o seu partido, que incita a violência, tenta cooptar seus opositores e faturar eleitoralmente ao patrocinar o conflito de classes ("ricos" x "pobres") e interesses ("movimentos de moradia" x "ambientalistas"), como se ambos fossem inconciliáveis.

Um retrocesso sem precedentes para São Paulo. Lamentável.

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