quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Opinião: "Os indignados, 1968 e os partidos"
Por Claudio de Oliveira http://chargistaclaudio.zip.net
As pessoas de opinião progressista têm acompanhado com simpatia os protestos de jovens em diversas partes do mundo.
A Primavera Árabe
Como se sabe, a juventude está na linha de frente das manifestações da Primavera Árabe. Algumas delas já derrubaram ditaduras de décadas, outras obtém vitórias que parecem comesinhas, como o direito de dirigir automóveis concedido às mulheres sauditas. O traço comum: a demanda por liberdades democráticas, direitos civis e inclusão social.
Ensino público e gratuito
No Chile, na França e no Reino Unido, a estudantada perservera nos atos em prol do acesso ao ensino público e gratuito.
Ocupe Wall Street
Nos Estados Unidos, jovens organizam em mais de uma centena de cidades o movimento Ocupe Wall Street, em protesto contra a desregulamentação e os privilégios do setor financeiro, apontado como o responsável pela presente crise mundial.
Indignados e Geração à Rasca (em apuros)
Continuam vivos os movimentos dos Indignados, na Espanha, e da Geração à Rasca, em
Portugal.
Assim como os demais, protestam contra a crise, o desemprego, a falta de perspectivas, as medidas de austeridade e reclamam que o sistema politico dos seus países não lhes escuta, que as instituições estão capturadas pelos interesses dos grandes grupos econômicos e financeiros.
Partidos falidos?
Outro traço comum aos manifestantes é o uso das redes sociais da internet como meio de mobilização. Alguns de seus líderes proclamam a falência dos partidos como meios de representação. E que há novas formas de fazer política.
Eu me pergunto: será mesmo que os partidos estão falidos? Todos eles? Uma coisa exclui a outra? Ou seja, as novas formas de fazer política excluem as tradicionais? Ou uma complementa a outra?
Democracia representativa e Democracia direta
A chamada democracia representativa (partidos, parlamento) não exclui as possibilidades da democracia direta, creio que devam se complementar.
O centro da tomada de decisões
Há quem analise, com alguma razão, que o setor financeiro e algumas instituições como FMI, o Banco Central Europeu etc. têm mais poder de decisão do que os governos.
Mas os parlamentos e os governos ainda continuam sendo o principal centro decisório das nações. E os parlamentos nacionais, se quiserem, podem barrar decisões do FMI ou, no caso da Europa, da União Europeia.
A ampliação da sociedade civil
A combinação entre sociedade civil, movimentos sociais e democracia representativa, é um bom caminho. Os eurocomunistas do Partido Comunista italiano defenderam essa via nos anos 1970/1980.
O discurso de 1968
As afirmações ingênuas de que os partidos estão falidos me fizeram lembrar as manifestações de maio de 1968, especialmente na França, quando então jovens e líderes estudantis contestaram os sistemas politicos de então.
Apesar de contextos politico, social e econômicos distintos, a estudantada predominantemente de classe media refutava todos os partidos dominantes, inclusive a chamada esquerda tradicional representada tanto pelo Partido Socialista quanto pelo Partido Comunista.
Conservadores ganham eleição
O presidente da República, o general Charles de Gaulle, dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições parlamentares. O seu partido, conservador, ganhou o pleito. E “a situação revolucionária dissipou-se quase tão rapidamente quanto havia surgido”. Leia.
É curioso que mesmo após os vigorosos protestos dos Indignados na Espanha e da Geração à Rasca em Portugal, os vitoriosos nas eleições que se seguiram foram os partidos conservadores, cuja pauta política é contraria às reivindicações dos jovens manifestantes.
Podemos perguntar: o poder politico e o comando das decisões e do centro decisório foram corretamente disputado pelos jovens?
Atuar nos partidos
Creio que a atuação nos partidos ainda é determinante. Os jovens devem buscar os vários partidos que possam atender seus interesses. E os partidos, por sua vez, devem democratizar-se ao máximo e abrir suas portas às novas gerações.
Cláudio de Oliveira, jornalista e chargista