Veja o relato da própria candidata do PPS à Prefeitura de São Paulo, Soninha Francine, sobre a atitude abominável do "companheiro" que se julgava dono da comunidade:
Ontem , fui convidada para um evento do Fórum de Saúde da Zona Sul que discutiria as OSs (Organizações Sociais). Ótimo – tá aí um assunto que tem muito a ser discutido.
Não sabia bem se o convite era para a vereadora ou a candidata – podia ser que quisessem ouvir minhas propostas sobre esse tema. De todo jeito, como as duas são uma pessoa só, lá fui eu. Também não sabia se haveria uma mesa, se eu seria convidada a falar e responder perguntas, se haveria outros vereadores ou outros candidatos à prefeitura presentes. O fato é que o debate me interessava e pronto.
O presidente municipal do PPS também foi e chegou antes de mim. Por telefone, avisou: “Quem convidou a Soninha? Porque eu cheguei aqui, me apresentei, e me olharam de um jeito tão desconfiado... Só faltou me proibirem de entrar. A recepção foi muito hostil”.
Quem tinha convidado era um dos organizadores do evento; ainda pediu para confirmar presença, o que eu fiz. E o evento, em princípio, era aberto à participação de qualquer um. Com ou sem hostilidades, resolvi ir.
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O encontro aconteceria em um salão de uma paróquia. Enquanto procurava a entrada, já no pátio de estacionamento da igreja, um grupo de cinco ou seis jovens reparou em mim e um deles disse: “Nossa, como você parece com a Soninha!” Dei risada: “Eu pareço comigo?”. Eles se empolgaram: “Soninha! Que legal! Eu gosto de você! Eu vou votar em você! Minha mãe vai votar em você!”
Contei para eles que era muito comum as pessoas não me reconhecerem – mesmo as que já me viram muitas vezes na televisão. De manhã, entreguei um folheto em uma lanchonete em frente ao Palmeiras e o rapaz perguntou, apontando para minha foto: “É sua prima?”. Ele não estava brincando; realmente achou que aquelas duas moças – a arrumada da foto e a desengonçada à sua frente-- eram parecidas...
Eles deram risada, e eu perguntei: “Posso pegar um folheto meu para deixar com vocês? Aí vocês levam e lêem com calma”. “Claro, queremos!”
Corri até o carro e peguei uma pilha de adesivos e folhetos no porta-malas. Quando voltei para perto deles, comecei a entregar um folheto para cada um, explicando que atrás tem o site, um email, telefone...
Imediatamente tomei uma bronca: “A senhora não pode fazer isso aqui!”, disse um senhor muito bravo. “Olha, eu não vim fazer campanha, estou entregando esse folheto para eles porque eles quiseram. Não estou panfletando”. “Não importa. Pare com isso. Não pode. Aqui, não pode”. Não foi gentil, educado, não estava me avisando que a igreja não queria nenhuma atividade de campanha ali dentro. Foi rude, como se eu tivesse desobedecendo alguma regra óbvia. “Nossa, parece até que eu estou cometendo algum crime. Não é crime ser candidato. Não é crime entregar um folheto para uma pessoa que quer receber”. “Mas aqui mando eu e estou dizendo: na minha igreja NÃO PODE”. E saiu.
Outro continuou ali, vigiando. “Olha, tanto eu não vim fazer campanha que não tinha nem tirado o material do carro. Só peguei porque eles se interessaram”. “Nós vimos”, disse, com ar detetivesco, como se tivesse me flagrado contrabandeando armas. “Nós estávamos acompanhando o seu movimento”.
Virei para os rapazes, que estavam acompanhando a discussão: “Bom, vocês querem ir comigo até o portão, porque lá fora eu posso entregar estes folhetos para vocês?”. Era irritantemente absurdo, mas tudo bem, eu andaria 20 metros para passar um folheto da minha mão para a deles. Eles sorriram – “Não, deixa, não se preocupe, depois a gente pega”.
O homem da paróquia tentou brincar com os jovens, para descontrair: “Ah, então foram vocês que pediram, seus baitôla ”. Eu não me conformava: “Olha, desse jeito, parece que é feio ser político, é crime ser candidato, é errado fazer campanha. Não é à toa que a política está desse jeito...”. “Não pode. E se todo candidato quiser vir aqui entregar folheto?”. “Deixa que venha, ué. O certo é que todos possam fazer sua campanha igualmente!”. “Não. Não pode”.
“Olha, eu nem vi aqui fazer campanha”. “Então veio fazer o quê?”.” Vim para a reunião da Saúde”. “E você é de onde?”.
Me senti em um morro dominado por uma quadrilha, tendo de dar satisfações para o chefe do pedaço. “Por que, que diferença faz de onde eu sou?”. “Quero saber, fala, é de onde? De onde você vem?”. “Eu nasci na Zona Norte e hoje moro na Zona Oeste. E daí?”. “Você não é daqui, nunca veio aqui antes. Por que veio hoje?”. “Porque me convidaram!”.
“Você não é daqui, não tem nada que fazer aqui”. “Por que, já implantaram o voto distrital e eu não estou sabendo?”. “Se você não é daqui, não tem que aparecer agora, em época de eleição”. “Ah, não posso vir aqui se eu for candidata? Só posso ir a lugar a que já fui? Eu sou candidata a PREFEITA, da CIDADE TODA, que história é essa de onde eu posso e não posso ir?” Fui ficando cada vez mais irritada, mais louca da vida. Ele também subiu a voz: “Não precisa gritar, eu não estou te tratando mal”. “CLARO QUE ESTÁ! VOCÊ JÁ CHEGOU ENCRENCANDO, FALANDO GROSSO. NÃO VEM COM ESSA DE QUE EU QUE COMECEI”.
Fui embora para a bendita reunião do Fórum. Eu me despedi dos jovens (que não encontrei mais): “Não era para ser assim; parece que a gente estava fazendo alguma coisa feia... Desculpem".