Vamos ter uns dedinhos de prosa? Nem com muito esforço e criatividade, a nova edição do IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), pesquisa anual divulgada pelo Ibope e pela Rede Nossa São Paulo, na sua mais recente versão publicada nesta quinta-feira (22/1), conseguiu levantar a bola da gestão do prefeito Fernando Haddad. E olha que tentaram, hein?
Até desviar o foco da análise dos problemas da Prefeitura de São Paulo para o Governo do Estado essa edição conseguiu! É verdade que a crise hídrica, com a drástica redução do volume das represas e a possibilidade concreta de falta d´água na cidade, é o tema emergente de 2015. Daí a deixar Haddad em segundo plano e eleger Alckmin como o principal personagem da pesquisa, quase um vilão paulistano, é apelar demais. Ou não?
Mas nem se juntarem três dos mais crédulos personagens do nosso universo literário - a Velhinha de Taubaté, de Luis Fernando Veríssimo, Eremildo, o idiota, de Elio Gaspari, e a menina Pollyana com seu "jogo do contente", que procura extrair algo de bom e positivo em tudo, até nas coisas mais desagradáveis - vão conseguir convencer o cidadão paulistano das qualidades enrustidas do prefeito petista e da suposta vilania do governador tucano.
O IRBEM se propõe a avaliar a gestão pública municipal, o nível de satisfação dos moradores de São Paulo em relação à qualidade de vida e ao bem-estar na cidade, além de quantificar os índices de confiança nas principais instituições (Prefeitura, Câmara Municipal, Polícia Militar, Tribunal de Contas, Poder Judiciário, entre outras).
A pesquisa aborda 25 temas, tanto os relacionados às condições objetivas de vida na cidade – nas áreas de saúde, educação, transporte, meio ambiente, habitação e trabalho – quanto os ligados a questões subjetivas, como sexualidade, espiritualidade, consumo e lazer.
A versão recém-divulgada foi realizada entre os dias 24 de novembro e 8 de dezembro de 2014. Ou seja, o levantamento livra Haddad do impacto negativo dos pacotes de maldades instituídos por ele e pela presidente Dilma agora no mês de janeiro.
Em resumo: não abrange o período do aumento da tarifa de ônibus, nem dos reajustes do IPTU e do ITBI, da zona azul, dos combustíveis, dos juros, da conta de luz etc.
A pesquisa também foi realizada antes do caos provocado com as chuvas de verão, as enchentes, o apagão energético e as milhares de árvores caídas em decorrência da falta de cuidados e de manutenção da Prefeitura.
Quer dizer, se a avaliação do governo petista já é péssima sem incluir o último tsunami de incomPTência e inaPTidão, imagine se os 1.512 cidadãos pesquisados pudessem rever seus conceitos diante das últimas notícias.
Mas vamos nos ater aos dados mais relevantes do IRBEM sobre a gestão "ruinddad", que o olhar de Pollyana dos amigos do PT tentou transformar em algo positivo para o prefeito na divulgação da pesquisa:
Revelou-se como o dado mais positivo, em tese, que a qualidade de vida na cidade de São Paulo "melhorou" para 37% dos entrevistados. Se não bastasse a subjetividade da avaliação, para outros 50% a qualidade de vida "permaneceu estável".
Olha quanta incoerência! Como pode ter melhorado a "qualidade de vida" numa cidade que - segundo a própria pesquisa - aponta a falta d´água como principal problema? Entende-se que aqui há uma mãozinha para destacar as ciclovias e as faixas de ônibus de Haddad como ganhos para a "qualidade de vida". Tá bom, vai... Faz-de-conta.
Outros dados festejados pela claque petista: a espera nos pontos de ônibus teria caído, assim como o tempo para ser atendido nas unidades de saúde, tanto para consultas médicas quanto para exames e procedimentos mais complexos. Será?
Aí você vai atrás dos números que embasam esse positivismo pró-governo e depara com a realidade: o tempo de espera nos pontos teria baixado de 25 para 20 minutos na comparação com a pesquisa anterior. Ok, com a proliferação de faixas exclusivas de ônibus pela cidade é o mínimo que se espera (e ainda foi pouco!). Mas nem uma palavra sobre o Movimento Passe Livre que voltou às ruas!
Porém, o mais gritante se observa ao detalhar os números da suposta melhora no atendimento à saúde (informação que, por si só, já causa suspeita para quem conhece a trágica realidade do SUS):
Segundo a pesquisa, o tempo médio da espera por consultas no sistema público de saúde passou de 60 dias, em 2013, para 56 em 2014. Para exames, de 79 para 78. E para procedimentos mais complexos, de 170 para 169 dias. (É brincadeira, né?)
Os dados oficiais da Prefeitura mostram calamidade ainda maior: há uma espera de 205 dias na fila para consultas e de 124 dias para exames. Ou seja, o paulistano leva SEIS MESES para ser consultado e mais QUATRO MESES à espera de um exame clínico. Quase um ano perdido só para descobrir se está doente.
Aí vem os patrocinadores do IRBEM dizer que "melhorou" o atendimento à saúde, pois os prazos teriam sido reduzidos (vale a pena repetir) de 60 para 56 dias (consultas), de 79 para 78 (exames) e de 170 para 169 dias (procedimentos). Uau! Que beleza! É UM DIA a menos numa espera de UM ANO!!!
Em contrapartida, como era de se esperar, os amigos do PT trazem mais uma promessa de Haddad: reduzir para 60 dias a espera máxima por consultas e exames. Mas, calma cidadão paulistano, não se anime. Isso é só para 2017 (!!!) - já que o prefeito não cumpriu a meta para 2014 e já admite que também não cumprirá em 2015 nem em 2016 (detalhe: no seu último ano de gestão!). Então, o que Haddad faz? Simplesmente empurra a promessa para o sucessor, no incerto e distante 2017!!! (Que cara-de-pau!!!)
Outros números que, maquiados, animam o PT: a aprovação de Haddad aumentou 4 pontos percentuais!!! Uhuuu!!! Ulalá!!!! Passou de ridículos 11% para 15% os que consideram “ótima” e “boa” a gestão municipal atual. Por outro lado, diminuiu de 49% para 45% os que avaliam como “regular” e aumentou de 39% para 40% os que consideram “ruim” e “péssima”.
Conclusão: Haddad continua sendo uma decepção para 85% do eleitorado paulistano, que não vai cair outra vez no conto do vigário, nem se render aos factóides do marketing eleitoral petista. Basta de PT!
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