quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Ricardo Young reflete: "Fazendo as contas"

Foi muito estranho o surgimento espontâneo do PROS na Câmara Municipal, em um movimento que se deu da semana passada para esta.

Os rumores da migração de vereadores para o novo partido levam as digitais de João Antonio, secretário de relações governamentais de Haddad, e apontavam para até sete parlamentares, de diversas legendas.

Mas qual esforço justificaria aumentar uma bancada governista que já é esmagadora, contando com 42 dos 55 parlamentares?

No final das contas, somente três migraram: meu ex colega do PPS, Ari Friedenbach, Noemi Nonato e Ota, ambos do PSB. Ficou claro, portanto, que o que houve foi uma ação orquestrada contra a coligação PSB-Rede.

João Antonio fez as contas ao perceber que, sendo eu, Ricardo Young, um fundador da Rede e o PPS um partido candidato a participar da coalizão Rede-PSB, a tendência natural seria se criar um novo bloco parlamentar de quatro vereadores: Ricardo Young, Ari Friendenbach, Noemi Nonato e Ota. Os dois do PSB, portanto, passariam a se alinhar com a oposição. 


42 - 2 = 40. Assim ficaria o tamanho da base governista.

Mas os números poderiam cair ainda mais com a possibilidade de retorno do secretário do trabalho, Eliseu Gabriel (PSB) para a Câmara. Para se candidatar nas próximas eleições, ele deve voltar ao exercício original do mandato e assim tiraria a vaga do seu suplente, o petista Alessandro Guedes, retornando a cadeira para uma bancada que não seria mais do governo.

Aí a conta complica. 40 - 1 = 39. 


Para um governo que preza pelo atropelamento do Legislativo, do debate das ideias e da democracia legítima, este é um número perigosamente próximo do mínimo necessário para aprovar projetos que exigem a maioria qualificada, ou seja, dois terços do plenário: 38 vereadores.

Como criar um partido

Desesperado com o efeito Rede-PSB sobre a Câmara e a maioria de Haddad, João Antonio orquestra um movimento onde, para garantir a presença de Ota e Noemi na base e neutralizar a eventual perda de Alessandro Guedes, cria o factóide PROS. Aproveita-se da janela das migrações para os partidos novos e ainda coopta Ari Friendenbach, eleito pela população para fazer oposição ao governo. É assim que se cria um partido com aval da autoritária máquina petista.

Uma manobra em vários níveis

O movimento, portanto, não aumenta a base do governo, mas neutraliza o perigoso efeito que a coligação PSB-Rede teria sobre a maioria do governo Haddad. Que coincidência: a manobra açodada na casa municipal reverbera as razões pelas quais se sabotou a possibilidade de a Rede Sustentabilidade nascer no Planalto, quando as pesquisas indicavam uma ameaça real à reeleição do governo Dilma.

Após a tempestade que significou para o governo a surpreendente coalizão entre PSB e Rede, surge o cogumelo PROS para garantir aqui a governabilidade de Haddad. Tanto esforço denota a crise de legitimidade do PT, que um dia falou pelos trabalhadores do Brasil e hoje se desnutre pelo próprio autoritarismo. No fim, a relutância petista contra a contagem das assinaturas coletadas pela Rede é a mesma de uma conta que não fecha aqui no parlamento municipal: a da representatividade.


Ricardo Young, vereador, é o líder do PPS na Câmara Municipal de São Paulo.

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