Passaram-se 120 dias da lambança promovida pelo prefeito Fernando Haddad no aumento dos 20 centavos na tarifa de ônibus em São Paulo até este aumento de 20% do IPTU residencial (e 35% nos outros imóveis) aprovado em 1ª votação nesta quinta-feira, 24 de outubro. Será necessária ainda uma 2ª votação antes da sanção do prefeito.
Mas não se engane: pouca coisa mudou nesses quatro meses. A gestão da cidade continua uma lástima, sem planejamento e sem transparência, com uma fúria arrecadatória jamais vista e os mesmos defeitos - piorados, talvez - das administrações anteriores. Diferença, de fato, só uma. Ou a mais visível: o povo não está nas ruas protestando contra o aumento de 20% como se manifestou contra os R$ 0,20. Por quê?
Será que os argumentos do governo foram suficientes para convencer a população deste aumento abusivo, muito acima da inflação? Ou a população nem está se dando conta do que está acontecendo, e só vai perceber a arapuca de Haddad quando sentir no bolso a dor de pagar o carnê com valor anabolizado em 2014?
O fato é o seguinte: nem a base governista estava convencida da necessidade de um IPTU tão elevado. Após idas e vindas na Câmara, discussões acaloradas, conversas de bastidores, encenação de recuo do governo e até um parecer contrário da Comissão de Finanças, o governo negociou com os partidos da base e conseguiu o voto de 30 vereadores para endossar esse aumento escorchante.
A maioria só foi obtida ontem com a mudança de posicionamento do PSD de Gilberto Kassab, que até então tinha seus vereadores reclamando da forma com que eram tratados pelo Executivo. Algo mudou em 24 horas. Nem mesmo um substitutivo apresentado pelo ex-presidente da Câmara, José Police Neto, conseguiu sensibilizar seus colegas de bancada. Perdeu por 42 a 2 (teve os votos dele próprio e de Marco Aurélio Cunha).
Um ato falho da líder do PSD, vereadora Edir Sales, no encaminhamento do voto contrário à proposta de seu colega de partido, foi emblemático: "Eu voto NÃO, mas indico que os vereadores da bancada sintam-se à vontade para votar NÃO ao substitutivo do vereador Police". Ela queria dizer "votar SIM", mas foi traída pelo constrangimento do encaminhamento esdrúxulo e incoerente com a oposição de ocasião dos últimos meses.
Em resumo, quem garantiu o aumento do IPTU muito acima da inflação foram os partidos de Alexandre Padilha (PT), Paulo Skaf (PMDB) e Gilberto Kassab (PSD) - todos eles potenciais candidatos ao Governo do Estado em 2014, entre outros partidos governistas (PTB, PRB, DEM, PHS, PCdoB e o recém-criado PROS). Vale lembrar de cada um deles nas próximas eleições.
Por 30 votos favoráveis, 18 contrários e uma abstenção, foi aprovada a proposta original de Haddad, em forma de substitutivo da Comissão de Constituição e Justiça, para driblar o parecer contrário da Comissão de Finanças. Além disso, foram aprovadas três emendas da base governista - duas reduzem o teto do reajuste e uma outra amplia o desconto para aposentados.
Uma das emendas aprovadas estabelece um limite de reajuste de 20% para imóveis residenciais e de 35% para imóveis não residenciais. A proposta inicial de Haddad previa um reajuste do imposto de até 30% para imóveis residenciais e até 45% para comércio e indústria na capital paulista.
Outra emenda prevê a ampliação dos descontos no IPTU para aposentados que ganham entre três e cinco salários mínimos. Os que recebem de três a quatro salários terão desconto de 50% e os que ganham de quatro a cinco salários mínimos, de 30%. Atualmente, aposentados que recebem até três salários são isentos do imposto.
Além da redução do limite de reajuste em 2014, uma terceira emenda aprovada
diminui o teto do aumento para 2015 e 2016, os chamados residuais. Segundo o texto aprovado, os reajustes de IPTU depois de 2014 serão de no máximo 10% para imóveis
residenciais e 15% para comerciais.
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