Desde a rotineira "semana do presidente", em que exibia todo domingo, em tom oficialesco, imagens do general João Batista Figueiredo, passando pelos "amigos" que fez na política (Sarney, Maluf, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma...) e pela tentativa fracassada de ser ele próprio Presidente, muita história já rolou por ali.
Da declaração em terceira pessoa de "se um dia o Silvio Santos for candidato, não vote em Silvio Santos nem em quem ele apontar, porque o Silvio Santos tá tapeando, tá enganando vocês" até chegar ao "eu sou candidato a Presidente da República" foi um pulo. Um show. Mas isso lá nos idos de 1989.
O Silvio Santos 2.0 vem repaginado, meio século mais jovem, de vestido vermelho, pernas de fora, maquiagem e cabelo comprido: é a sua filha Patrícia Abravanel a bola da vez. Vai ser política e depois pastora evangélica, anuncia o pai. E Patrícia confirma, para delírio da nova geração de "colegas de trabalho". Todas elas "pira" (para usar uma das gírias mais comuns desses programas de TV, assim mesmo, com o erro de concordância proposital e que virou hit da MPB).
O Teleton, maratona televisiva para arrecadar dinheiro e realizar obras para a AACD, é feito sob medida para que - muito além do telespectador anônimo que faz sua pequena contribuição espontânea - artistas, empresas e governantes possam dar uma burilada na imagem através do marketing social. No final, são todos "gente como a gente".
E assim sempre desfilaram por ali ministros, governadores e políticos de todas as matizes... Neste fim-de-semana não foi diferente: os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), marcaram presença no programa. Mas foi a turma do PT que "sambou na cara" (e na casa) do eleitor brasileiro (para usar outra gíria da moda).
As últimas horas do Teleton, já no início da madrugada - aquelas em que a inigualável Hebe Camargo distribuía os famosos "selinhos" entre os convidados e os cheques das empresas entram para bater a meta do programa - transformaram a campanha em prol da arrecadação de recursos para crianças deficientes em campanha eleitoral para salvação de partidos e candidatos governistas.
Vão-se os singelos beijinhos da Hebe, entra a sacanagem mais explícita de Silvio Santos: do anúncio da possível candidatura da filha, vestida de vermelho-PT assim como a presidente da AACD, numa "coincidência" tão sutil quanto a lembrança do apresentador: "Então agora você é a Dilma da AACD (...) As mulheres estão dominando tudo."
Para encerrar, com direito a erguer um cheque de R$ 5 milhões como troféu, doado pelo grupo Itaú e que ajudou a bater a meta de R$ 26 milhões de arrecadação em 2013, em ritmo de festa típico do SBT, ao lado de Silvio Santos, sob palmas e confetes (literalmente) do público e do apresentador, o senador petista Eduardo Suplicy, naquele seu ritmo de festa peculiar. Precisa dizer mais alguma coisa?