Mas vale tudo para garantir o quórum mínimo de 28 votos necessários para aprovar o aumento abusivo: da inclusão do projeto no chamado "pé-de-pauta" da sessão ao retorno temporário do vereador que ocupa cargo de secretário na Prefeitura, só para votar no lugar do suplente que era contra o aumento; passando pela notícia da oferta de cargos aos vereadores "leais" ao governo, como contrapartida ao enorme desgaste perante o eleitorado.
Pegando a imprensa, a oposição e a opinião pública de surpresa, os vereadores resolveram incluir na pauta do dia o aumento do IPTU, que estava previsto para ser votado apenas na sessão da quarta-feira, até porque haveria mais uma audiência pública da Comissão de Política Urbana da Câmara, para debater o projeto com a sociedade. Mas prevaleceu o "trator" da maioria governista.
Outra manobra foi o retorno às pressas do vereador licenciado Ricardo Teixeira (PV), que é secretário do Verde e Meio Ambiente do prefeito Haddad (aliás, com atuação bastante questionável), apenas para votar favorável ao aumento do IPTU, no lugar do seu suplente Abou Anni, que já havia se posicionado contra o aumento na votação anterior.
O governo nega a manobra: a explicação oficial para o retorno do vereador do PV à Câmara é um pedido de afastamento formulado pelo Ministério Público. Ou seja, a situação é tão esdrúxula que, para justificar a "coincidência" de ganhar um voto favorável ao aumento do IPTU, no lugar do colega de bancada do PV que havia votado contra, vale até apelar a um condenado por improbidade administrativa. Sinal dos tempos.
Os líderes do PSD, vereadora Edir Sales, e do PMDB, vereador Ricardo Nunes, divulgaram notas à imprensa negando que foram negociados cargos na Prefeitura em troca da aprovação do aumento do IPTU. A líder do partido do ex-prefeito Gilberto Kassab, que foi favorável ao aumento na 1ª votação, anunciou que passaria a votar contra o aumento "para provar que não negociou nada com o governo".
O vereador Marquito (PTB) - suplente de Celso Jatene, que ocupa a Secretaria de Esportes - declarou à imprensa que ele também não negociou cargos para votar pelo aumento do IPTU. Porém, na condição de suplente, vota "como o governo manda", senão perderia a vaga para o titular do mandato, assim como ocorreu com Abou Anni (PV).
Estes são os métodos do PT e do prefeito que foi eleito pela maioria do eleitorado paulistano como representante do "novo": manobras, pressões, negociações. Isso em apenas 10 meses de governo.
O que mais o cidadão paulistano pode esperar do "novo" PT nos próximos três anos?
Seria interessante que o Datafolha - que divulgou pesquisa mostrando que 9 entre 10 paulistanos são contrários ao aumento do IPTU - fizesse também uma avaliação sobre o que o eleitorado pensa da gestão de Fernando Haddad.
Temos a nossa opinião formada, mas vão dizer que é intriga da oposição.
Depois reclamam quando a população se manifesta em frente à Câmara e coloca o Legislativo paulistano como a instituição com menor credibilidade entre todas. Nesta semana foram instalados portões para proteger o prédio, que receberá também vidros blindados na fachada.
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