O paulistano vê em Serra arma para abater o petismo
Jornalistas e analistas - bons e ruins - insistem em apostar na polarização entre PT e PSDB, prevendo a possível repetição do embate entre os dois partidos que tradicionalmente vem se alternando no poder, tanto no governo federal quanto na prefeitura paulistana.
A preocupação dos teóricos é medir o grau de influência de Lula sobre o eleitorado ao lançar seu "candidato-poste" Fernando Haddad contra o blockbuster do tucanato, José Serra.
Mas, na prática, será que o cidadão paulistano vive de fato essa polarização? Todo eleitor é suficientemente esclarecido e politizado para fazer de forma consciente essa opção partidária? Os resultados de sucessivas eleições em São Paulo demonstram que a coisa não funciona bem assim. Levantamento deste domingo, na Folha, confirma que a cabeça do eleitor tem outra lógica.
Vejamos: o candidato Paulinho da Força (PDT) aparece com certo destaque (8% de intenções de voto) no Datafolha, que revela um raciocínio interessante. Parte do eleitorado o identifica como "candidato do Lula". Pesa nessa avaliação, certamente, a origem sindical de ambos, reforçada pela geléia partidária que é aderente a qualquer governo e confunde a cabeça do eleitor.
Da mesma forma, uma parcela dos pesquisados acha que Soninha Francine (PPS) é a candidata - pasme! - da presidente Dilma Roussef. Afinal, as duas são mulheres e... nada além disso! Mas vai explicar ao eleitor que focinho de porco não é tomada.
A cabeça do eleitor
Vejamos ainda a estranha lógica eleitoral e a relação de São Paulo com PT e PSDB. Os tucanos chegaram ao poder em 1994, com a eleição "fácil" do presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Mário Covas.
Antes disso, vejam só, São Paulo elegeu Jânio Quadros prefeito (contra FHC) em 1985; Luiza Erundina (contra Paulo Maluf) em 1988; Fernando Collor presidente (contra Covas, Lula e Maluf, entre outros) em 1989; e Paulo Maluf prefeito (contra Eduardo Suplicy) em 1992.
Desde 1994, o PSDB ocupa o Governo do Estado - e se reelege com certa tranquilidade: Mário Covas eleito e reeleito em 1998 (com FHC presidente); Geraldo Alckmin em 2002 (contra José Genoíno, com Lula presidente, embora São Paulo tenha optado por Serra); o próprio José Serra em 2006 (contra Mercadante, com Lula presidente, embora São Paulo tenha optado por Alckmin); e 2010 com o retorno de Alckmin (contra Russomanno, Mercadante novamente e Dilma presidente, com São Paulo preferindo Serra).
Esse domínio tucano, porém, não se reflete na Prefeitura de São Paulo. Em 1996, Paulo Maluf elegeu fácil o sucessor Celso Pitta contra a petista Luiza Erundina e o tucano José Serra. Em 2000, Marta Suplicy sucedeu o malufismo, derrotando o próprio Maluf, Erundina (PSB) e o tucano Geraldo Alckmin, então vice-governador que concorria pela primeira vez a prefeito de São Paulo.
Em 2004, José Serra foi eleito após a terra-arrasada da gestão petista. O tucano ficou no cargo pouco mais de um ano e "pulou" para o Governo. Assumiu o vice Gilberto Kassab, reeleito em 2008 contra Marta Suplicy, Maluf, Soninha e outra vez o tucano Geraldo Alckmin - que venceu duas vezes no 1º turno o Governo do Estado mas não chegou sequer ao 2º turno, também por duas vezes, na eleição municipal.
Ou seja, duas características ficam claras na eleição paulistana. Primeiro, com exceção de Pitta em 1996 e Kassab em 2008, a tendência é que o eleitorado opte por uma candidatura de oposição à administração. A alternância de poder é clara. E o PT só ganhou em São Paulo (em 1989 com Erundina e em 2000 com Marta) quando o "inimigo nº 1" era Maluf - no sentido inverso das vitórias de Maluf (1992), Pitta (1996), Serra (2004) e Kassab (2008), que eram os oposicionistas e/ou antipetistas da vez.
Disputa de 2012 pode ter surpresas
Os números para 2012 - tanto o baixíssimo índice obtido pelos pré-candidatos do PT e do PSDB, quanto a boa intenção de votos em Russomanno (PRB), Netinho de Paula (PCdoB), Soninha (PPS), Paulinho da Força (PDT) e Chalita (PMDB) - demonstram que o paulistano não quer votar no PT ou no PSDB.
São Paulo procura uma alternativa à polarização entre petistas e tucanos. A maioria quer isso. Porém, o voto da chamada "terceira via" está disperso entre vários candidatos. Por isso José Serra acaba se destacando na disputa - por ser o nome mais conhecido e já testado à frente da Prefeitura. Mas Serra não é unanimidade nem dentro do PSDB. Ao contrário. É também o candidato mais rejeitado pelo eleitorado paulistano - com índices de rejeição equivalentes à sua intenção de votos, ambos na casa dos 30%.
Consideradas todas as variáveis desta eleição - incluindo a rejeição a Serra, o comportamento ambíguo de Kassab e a estagnação humilhante de Haddad - chegamos à conclusão que há espaço para o crescimento de uma candidatura propositiva e alternativa para a Prefeitura de São Paulo. Resta saber qual será.
O PPS trabalha para a viabilidade e a ampliação da candidatura de Soninha Francine, com o apoio de setores vivos da sociedade e de outros partidos que queiram lutar contra a mesmice da política, por uma administração moderna e eficaz, e uma cidade mais inteligente e mais feliz.
Leia também:
Serra dispara, Haddad empaca e 5 embolam 2º turno
Artigo na Folha: "Um sinal verde para São Paulo"
Soninha é candidata à Prefeitura de São Paulo