terça-feira, 20 de março de 2012
Agora todo mundo fala em 3ª via, é isso?
Primeiro apostavam na polarização entre PT e PSDB: a eleição se resumiria a um tira-teima entre o candidato de Lula e Dilma contra o candidato de Geraldo Alckmin. Avaliava-se que José Serra estava fora da disputa. Até por isso o PT podia abrir mão da favorita Marta Suplicy para lançar o neófito Fernando Haddad. Deu tudo errado.
A pouco mais de seis meses da eleição, Serra decidiu ser candidato, só se fala nisso e ele arrasta 30% da intenção de votos. Por outro lado, Haddad empacou em inexpressivos 3%. Com isso, a base lulodilmista vive um dilema: todos os seus pré-candidatos têm mais votos que o poste do PT. Como fazê-los, assim, abrir mão da disputa para apoiar Haddad?
Faz tempo, o PPS vem defendendo a tese de que o eleitor está saturado dessa polarização entre PT e PSDB, que só interessa mesmo a ambos, e procura uma candidatura alternativa, ou a popularmente chamada "terceira via".
Não precisa fazer muita conta para notar que a absoluta maioria dos votos paulistanos não vai nem para o candidato do PT, nem para o candidato do PSDB (embora eventualmente um deles possa estar à frente das pesquisas, com cerca de 30%; mas os restantes 70% estariam onde?). Ocorre que, hoje, bem mais da metade dos votos estão dispersos entre Celso Russomanno (PRB), Netinho de Paula (PCdoB), Soninha Francine (PPS), Gabriel Chalita (PMDB) e Paulinho da Força (PDT).
Destes todos, só o PPS de Soninha Francine faz oposição declarada ao PT e ao consórcio lulodilmista. Os demais partidos (PRB, PCdoB, PMDB, PDT) são da base governista - aliás, com uma particularidade: são daS baseS governistaS. "Hay gobierno, estoy dentro."
Inclua-se nesta conta, eventualmente, o PSB e o PV - e aqui não há nenhuma crítica ou juízo de valor, mas uma constatação factual. Há, por exemplo, ministros do PSB e PDT no governo Dilma (PT); Há secretários estaduais do PSB e PDT no governo Alckmin (PSDB); e há secretários municipais do PSB e PDT no governo Kassab (PSD).
O PMDB elegeu o vice-presidente da República (Michel Temer) e a vice-prefeita de São Paulo (Alda Marco Antônio) com a mesma desenvoltura que lança agora a pré-candidatura de Gabriel Chalita contra Serra/Kassab, enquanto se declara amigo pessoal de Alckmin e é sondado como "plano B" do PT. O PCdoB tem ministro dilmista, secretário kassabista... e por aí, vai!
Esses partidos que estão com um pé em cada canoa governista vêem agora na terceira via uma possibilidade de não se inviabilizarem definitivamente com nenhum dos lados. Ao lançarem candidaturas "alternativas" a Serra ou Haddad, surfam na tendência do eleitorado e não fecham as portas dos atuais - e futuros - governos. Do limão, tentam fazer a limonada.
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