domingo, 25 de março de 2012

Revista da Folha entrevista Soninha Francine


Ex-vereadora elogia Erundina e afirma que Serra fez "milagres"

Criada por uma família de classe média em Santana, na zona norte, lá se vão quase 30 anos desde que Sonia Francine Gaspar Marmo, 44, bandeou-se para o lado oeste da cidade. O atual endereço é a Vila Pompeia, onde mora com a caçula Julia, 14 -Soninha também é mãe de Rachel, 28, e Sarah, 25.

Para se locomover, utiliza ônibus, bicicleta, metrô, moto e, como "última opção", carro. Se eleita, diz que evitaria o helicóptero. "A experiência de se deslocar [pelo chão] é valiosa para resolver os problemas da cidade."

Ex-VJ da MTV, Soninha foi criticada por parte da opinião pública, em 2001, ao admitir que fumava maconha em uma entrevista. Anos depois, entrou para a política pelo PT, foi eleita vereadora em 2004 e migrou para o PPS em 2007. Integrou a campanha presidencial de José Serra (PSDB) em 2010 e, agora, deverá tê-lo como adversário.

Quinta colocada em sua primeira tentativa para a prefeitura, em 2008, apoiou Gilberto Kassab (então DEM, hoje PSD) contra Marta Suplicy (PT) no segundo turno. Hoje, faz algumas ressalvas sobre a gestão do prefeito.

raio-x

FORMAÇÃO: magistério e cinema

FILIAÇÃO: PPS (já foi do PT)

CARGOS PÚBLICOS: vereadora de 2005 a 2008 e subprefeita da Lapa; hoje, dirige a Sutaco, autarquia de artesanato ligada ao governo estadual

ANTES DA POLÍTICA: nos anos 1990, trabalhou na MTV; depois, atuou como comentarista da ESPN e foi colunista da Folha

PESQUISA DATAFOLHA: está em 5º lugar, com 7%, empatada com Chalita

As coisas mudaram muito em Santana desde que morava lá?
Santana não escapou das mudanças da cidade. Casas que para mim eram intocáveis foram ao chão. No lugar, tem prédio com vidro azul. Dói, sabe?

Como vê a política de preservação do patrimônio da cidade?
Temos de ter critérios rigorosos para o tombamento, mas eles podem ser abrangentes, levar em conta o valor simbólico. Há casas na Lapa que não têm nada de especial, mas são a cara do bairro.

O que mais a agrada na cidade?
A 'mistureba' de gente, especialmente no centro. Tem funcionário público graduado, ambulante, freguesia da 25 de Março, operadores da Bolsa, religioso.

E o que mais a incomoda?
Sete milhões de veículos, meu Deus! A falta de sinalização decente, o barulho do trânsito, a destruição de casas com valor afetivo para se construir prédios enormes cercados de muros e com quatro vagas de garagem por apartamento...

Como se locomove na cidade?
De ônibus e metrô. Não acho justo sair sozinha de carro se eu tiver alternativas. Atualmente, nem estou abrindo mão em nome da mobilidade coletiva, e sim porque é rápido, sossegado, tem corredor. Aqui no centro uso bicicleta. Moto eu quase não uso mais. De carro só saio se estiver com outras pessoas, umas três, ou com bagagem. É minha última opção.

Utiliza algum outro serviço público?
Trem da CPTM, UBS [Unidade Básica de Saúde], Centro Cultural São Paulo, Mercado Municipal, museus, o 156 [serviço de informações da prefeitura]...

Se ganhar, vai andar de helicóptero?
O mínimo possível. Não quero sacanear os prefeitos que usaram, pois você vai em 15 minutos para Cidade Tiradentes, na zona leste. Para mim, no entanto, fazer esse deslocamento de outro jeito não é tempo gasto, é tempo útil. A experiência de se deslocar de trem, de metrô, de carro, que seja, é valiosa para quem quer resolver os problemas da cidade.

Em quais cidades São Paulo poderia se inspirar para melhorar?
Acho Berlim um exemplo. É um lugar que passou por perrengues absurdos, foi destruído na guerra e hoje é uma cidade de bem-estar onde a convivência entre carros e bicicletas é pacífica. Quando falo em inverter a ordem das coisas, não é um movimento hippie. É moderno, é lógico, não é 'parem as máquinas'. Os trens, o metrô, a bicicleta, a integração...

Derrubaria o Minhocão?
Depois de resolver outras coisas, sim. Não seria prioridade. E talvez derrubasse só metade, o que já aliviaria bastante insolação, ventilação e nível de ruído.

A cracolândia tem solução?
Equipamentos culturais e polos de economia criativa têm impactos positivos, mas não funcionam sem gente morando. Sou a favor de que a prefeitura tome as rédeas. Mas é uma intervenção dolorida.

Quem foi o melhor prefeito de SP?
Pode dois? A Erundina [1989-92] e o Serra [2005-2006]. Ela não tinha maioria na Câmara e era detonada na imprensa. Mesmo assim fez um governo bacana. E o Serra fez milagres. Ao contrário do que diz a Marta, ele pegou as finanças em ruínas e fez a arrecadação crescer.

E o pior?
O Maluf foi um desastre. Gastou milhões em obras que não eram as mais importantes, destruiu a saúde, tinha descaso pela educação. Até hoje a gente descobre 'presentes' dele debaixo do solo. Deprê.

Como avalia a gestão Kassab?
Foi bem nas áreas de educação, meio ambiente, cultura. Embora tenha inaugurado novos equipamentos de saúde, o atendimento ainda tem problemas. Foi devagar na habitação e deixou muito a desejar em relação às subprefeituras.

Restrições como a Lei do Psiu podem tirar a vocação boêmia de SP?
Não mesmo. É possível aperfeiçoar itens da legislação, mas é preciso garantir o direito de diversão sem aniquilar a possibilidade de sono da vizinhança.

Tem medo de a cidade passar vergonha na Copa 2014?
Não tenho tanto medo, não. Embora o Itaquerão em si seja um mistério.

Se eleita, qual será a sua marca?
Fazer o sistema de ônibus funcionar melhor. A espera é uma angústia. O metrô, apesar de sobrecarregado, é previsível.

E o que não faltaria no seu gabinete?
Iria ficar uma bagunça de livros, revistas e gente. Acho que seria menos silencioso, mais com cara de redação de jornal do que de sala de autoridade.

(LÍVIA SAMPAIO, Revista da Folha, 25/3/2012)