sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Precisamos ir além do raciocínio binário na política

Se não é tarefa simples fazer política com ética, transparência, bom senso e espírito republicano, imagine a dificuldade de colocar em prática essas qualidades estando fora da polarização tradicional e lutando para vencer a resistência não apenas do eleitorado, mas sobretudo da mídia que reforça o raciocínio binário muitas vezes sem se dar conta que alimenta e consolida a simbiose entre PT e PSDB.

Ligaram o piloto automático no jornalismo: quando ouvem um petista, o "outro lado" é tucano. E vice-versa. Há personagens fixos, quase com cadeira cativa. Resta aos demais mortais provar que existe vida inteligente fora do lado A e do lado B, além do preto e do branco. A boa política tem 50 tons de cinza, ou toda uma nuance colorida que, por julgar implausível, a vista cansada da imprensa brasileira não percebe. Estamos aqui, clamando por atenção.

Podemos (e devemos) ir além desse simplismo binário: esquerda x direita, rico x pobre, centro x periferia, carro x bicicleta, meio ambiente x moradia. Até porque esse Brasil rachado entre petistas e tucanos nos últimos 20 anos é só meia-verdade. Ainda que no 2º turno invariavelmente acabem se confrontando (o efeito Tostines explica), é crescente o número de eleitores que rejeitam tanto o PT quanto o PSDB.

Saímos do desgastante processo eleitoral de 2014 com um sentimento de frustração. Fomos enganados. Tudo o que os vencedores juraram de pés juntos que não fariam, está nas manchetes dos jornais nesse início de 2015: crise econômica, hídrica, energética, institucional. Aumento de impostos e tarifas, desemprego, corte de direitos trabalhistas, inflação.

Quanto tempo ainda seguiremos reféns de promessas e cobaias do marketing que aposta sempre na polarização eleitoral, na divisão da população e no acirramento do ódio e do preconceito para manter estes dois lados da mesma moeda se alternando no poder?

A presidente Dilma Roussef foi reeleita com 54,5 milhões de votos, ou 51,64% dos votos válidos. Porém, outros 87,3 milhões de brasileiros não votaram na candidata do PT. Foram 51 milhões de votos em Aécio Neves (48,36% dos votos válidos), além de 36,3 milhões de abstenções e votos brancos ou nulos (26,76% do eleitorado).

Ou seja, a maioria da população (ora 61%, ora 63% do total de 142 milhões de eleitores) simplesmente não endossa os métodos e práticas nem do PT, nem do PSDB. Ficou latente a insatisfação dos brasileiros com o governo, mas também com a política e os políticos de um modo geral.

É o entusiasmo desse povo que se manifesta nas urnas, nas redes e nas ruas em busca de uma nova forma de fazer política, com ética, transparência e respeito às instituições democráticas e aos princípios republicanos, que nos estimula a resistir às investidas totalitárias e à tomada de assalto do Estado (da cidade, do país).

Este sentimento nos move tanto na formação do bloco partidário com PPS, PSB, PV e Solidariedade por uma alternativa à polarização entre PT e PSDB, quanto na reivindicação até insistente para marcar presença nos espaços de opinião da imprensa, para não calarem de vez a nossa voz, já tão sufocada.

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