quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Artigo: Haddad e o "volume morto" da Prefeitura

Artigo de Carlos Fernandes (PPS/SP)
É curiosa essa nova postura do prefeito Fernando Haddad, mais uma invenção do marketing político do PT, de se apresentar como uma espécie de gestor voluntário da crise hídrica em São Paulo. Parece ter solução genial para tudo, pronto para ditar regras. Será?

Apesar da falta d´água atingir 71% do território nacional, sem distinção de governos e partidos, faz parte da estratégia eleitoral petista buscar "culpados" externos para a crise hídrica: no caso do Brasil é São Pedro (tanto que o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, apelou à suposta brasilidade de Deus para fazer chover). Mas, em São Paulo, eles decretaram que a culpa é do governo do PSDB e ponto final.

Não concordamos com esse raciocínio binário, radical e simplista, mas também não podemos ignorar os dados que comprovam enorme parcela de responsabilidade do próprio PT pela crise sem solução - tanto pela omissão no plano federal quanto na Prefeitura de São Paulo.

No caso específico do prefeito Haddad, temos denunciado sistematicamente que a administração municipal ignora a política de mudanças climáticas, é permissiva com a invasão ilegal das áreas de mananciais, ausente na gestão dos parques públicos, incompetente na questão da limpeza de córregos e na manutenção de galerias pluviais, negligente na obrigação de implantar combustíveis limpos na frota paulistana, inconsequente na suspensão da inspeção veicular, inoperante no cuidado com árvores, jardins, praças e áreas verdes.

Agora a imprensa revela que Haddad deixou de investir R$ 1,6 bi nos projetos de despoluição das represas Billings e Guarapiranga, uma parceria do município com os governos estadual e federal praticamente parada e que deveria ajudar a preservar os dois maiores reservatórios de água dentro da região metropolitana de São Paulo, que abastecem mais da metade da população.

Sabe desde quando o "Programa Mananciais" está paralisado? Desde a posse do prefeito, deste partido que vive procurando culpados para o racionamento que já se tornou inevitável, tanto de água quanto de energia (responsabilidade direta dos governos de Lula e Dilma, há 12 anos no poder).

O programa previa a instalação de redes de esgoto, despoluição de córregos e reflorestamento de margens das represas. A ação vinha ocorrendo em várias etapas desde a década passada e, em 2012, teve início a terceira fase, que consumiria mais R$ 3,5 bilhões até 2016.

Estavam reservados R$ 1,961 bilhão para esta finalidade nos orçamentos paulistanos para 2013 e 2014, mas Haddad mal investiu 15% desse montante. Enquanto isso, continuam proliferando ocupações ilegais ao redor da Billings - que é a última reserva hídrica e esperança derradeira para garantir o abastecimento da população com o agravamento da seca da Guarapiranga.

Se não bastasse esse descaso com a preservação das áreas de mananciais e com a política municipal de mudanças climáticas, que refletem diretamente na piora da situação que enfrentamos, Haddad entrega as poucas áreas verdes que restam na cidade - como o Parque Augusta, o Parque Verde da Mooca e o Parque da Vila Ema - para a especulação imobiliária.

Está aí o verdadeiro volume morto e inservível de São Paulo, que não presta nem para fazer renascer a esperança da população por dias melhores. A gestão Haddad "faz água", como se diz popularmente, mas essa é imprópria para o paulistano.

Carlos Fernandes foi subprefeito da Lapa e preside o PPS paulistano.
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