Artigo de Carlos Fernandes (PPS/SP) |
Apesar da falta d´água atingir 71% do território nacional, sem distinção de governos e partidos, faz parte da estratégia eleitoral petista buscar "culpados" externos para a crise hídrica: no caso do Brasil é São Pedro (tanto que o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, apelou à suposta brasilidade de Deus para fazer chover). Mas, em São Paulo, eles decretaram que a culpa é do governo do PSDB e ponto final.
Não concordamos com esse raciocínio binário, radical e simplista, mas também não podemos ignorar os dados que comprovam enorme parcela de responsabilidade do próprio PT pela crise sem solução - tanto pela omissão no plano federal quanto na Prefeitura de São Paulo.
No caso específico do prefeito Haddad, temos denunciado sistematicamente que a administração municipal ignora a política de mudanças climáticas, é permissiva com a invasão ilegal das áreas de mananciais, ausente na gestão dos parques públicos, incompetente na questão da limpeza de córregos e na manutenção de galerias pluviais, negligente na obrigação de implantar combustíveis limpos na frota paulistana, inconsequente na suspensão da inspeção veicular, inoperante no cuidado com árvores, jardins, praças e áreas verdes.
Agora a imprensa revela que Haddad deixou de investir R$ 1,6 bi nos projetos de despoluição das represas Billings e Guarapiranga, uma parceria do município com os governos estadual e federal praticamente parada e que deveria ajudar a preservar os dois maiores reservatórios de água dentro da região metropolitana de São Paulo, que abastecem mais da metade da população.
Sabe desde quando o "Programa Mananciais" está paralisado? Desde a posse do prefeito, deste partido que vive procurando culpados para o racionamento que já se tornou inevitável, tanto de água quanto de energia (responsabilidade direta dos governos de Lula e Dilma, há 12 anos no poder).
O programa previa a instalação de redes de esgoto, despoluição de córregos e reflorestamento de margens das represas. A ação vinha ocorrendo em várias etapas desde a década passada e, em 2012, teve início a terceira fase, que consumiria mais R$ 3,5 bilhões até 2016.
Estavam reservados R$ 1,961 bilhão para esta finalidade nos orçamentos paulistanos para 2013 e 2014, mas Haddad mal investiu 15% desse montante. Enquanto isso, continuam proliferando ocupações ilegais ao redor da Billings - que é a última reserva hídrica e esperança derradeira para garantir o abastecimento da população com o agravamento da seca da Guarapiranga.
Se não bastasse esse descaso com a preservação das áreas de mananciais e com a política municipal de mudanças climáticas, que refletem diretamente na piora da situação que enfrentamos, Haddad entrega as poucas áreas verdes que restam na cidade - como o Parque Augusta, o Parque Verde da Mooca e o Parque da Vila Ema - para a especulação imobiliária.
Está aí o verdadeiro volume morto e inservível de São Paulo, que não presta nem para fazer renascer a esperança da população por dias melhores. A gestão Haddad "faz água", como se diz popularmente, mas essa é imprópria para o paulistano.
Carlos Fernandes foi subprefeito da Lapa e preside o PPS paulistano.