Foi extraordinária a repercussão da Sabatina Folha/Uol com a candidata à Prefeitura pela coligação "Um Sinal Verde para São Paulo", Soninha Francine. Como era de se esperar, a versão resumida da imprensa foca apenas os pontos mais polêmicos: maconha e pedágio urbano, por exemplo, ainda assim fora do contexto das propostas absolutamente coerentes, justas e corajosas de Soninha.
Mas quem assiste a íntegra de mais de 1h30, com a crueza e dureza típicas dessas sabatinas de jornalistas que tentam (em vão, neste caso) mostrar mais preparo que o próprio entrevistado, conhece uma Soninha em versão revisada e ampliada da candidata de 2008: muito mais madura que há quatro anos, porém sem perder nada das suas principais virtudes, que são, entre outras, a espontaneidade, a sinceridade e a clareza na exposição das idéias.
O "ato falho" na fala de abertura do mediador e entrevistador Mario César Carvalho, ao apresentar a si mesmo e aos outros "entrevistados" (sic) da sabatina, quando queria dizer "entrevistadores", revela que aquilo é um show aonde a informação e as propostas sérias ficam relegadas a segundo plano.
O que vale é pinçar a frase mais polêmica, a foto mais inusitada, descontextualizar o que foi dito para render uma boa manchete (leia-se: que gere audiência a qualquer custo). Besteiras são ditas sem muito critério: pergunta-se o que Soninha vai fazer com as famílias que ocupam áreas irregulares e pagam IPTU (sem perceber a incongruência) ou por que, como subprefeita, não fiscalizou as ilegalidades dos alvarás dos shopping centers (ignorantes que são do funcionamento da máquina da Prefeitura, numa prerrogativa que é da Secretaria da Habitação).
Como mostramos ontem, a manchete conservadora, sensacionalista e preconceituosa dos jonais e portais logo após a sabatinaFolha/UOL era: "Soninha (PPS) defende pedágio urbano e legalização da maconha". Engraçado como críticos torcem o nariz para aquela que é a qualidade mais louvável de Soninha: a honestidade. Boa parte dos leitores e internautas desconhece a proposta e se prende à manchete para ser a favor ou contra, sem nuances.
Sobre o "pedágio urbano", por exemplo: Pouca gente presta atenção à essência do que foi dito por Soninha, que é promover um plebiscito para que a população decida sobre a melhor solução para o problema crônico do trânsito: se a maioria optar pela implementação do pedágio, a tarifa seria de R$ 3 (equivalente a uma passagem de ônibus), e o dinheiro arrecadado seria revertido todo ele exatamente para a melhoria do sistema de transporte coletivo.
Sobre a "legalização da maconha", assunto recorrente há mais de 10 anos quando se fala sobre Soninha, o que a candidata defende (e isso é um assunto federal, sem nenhuma relação com a eleição à Prefeitura) é que o monopólio do comércio dessa droga saia da mão do crime organizado e passe a ser realizado sob rigoroso controle da lei e da sociedade, como outras drogas legalizadas (álcool e cigarro, por exemplo).
Encerrada a "roda viva" desta quarta-feira, o jornalista Gilberto Dimenstein, que há anos vive e respira a política da cidade, fez uma boa análise da sabatina e classificou Soninha como "anticandidata" (leia).
Seguindo a tradição e a cabeça do eleitor brasileiro, é isso mesmo: os candidatos são moldados e engessados por marqueteiros e estrategistas para responder apenas aquilo que todos querem ouvir.
Mas democracia não é simplesmente a ditadura da maioria. É também o respeito às minorias. E os preconceitos do cidadão médio paulistano, conservador por natureza, estão aí para serem quebrados. Foi assim quando São Paulo elegeu a primeira mulher prefeita da cidade, solteira, de esquerda e nordestina. Ou quando elegeu um negro carioca - sem entrar no mérito da sua gestão desastrosa.
Em resumo: Soninha é a única candidata que fala com absoluta sinceridade sobre todos os temas. "Pergunta que eu respondo" é o lema que usa, em tom de brincadeira, para falar muito sério sobre qualquer assunto.
Todos concordam que os dois temas citados (legalização da maconha e adoção do pedágio urbano) são polêmicos e impopulares demais para serem lançados por candidatos, mas ninguém discorda da urgência de tratarmos abertamente de soluções para o problema crescente da criminalidade, do crime organizado, do uso abusivo das drogas e, por outro lado, do trânsito caótico que carece de medidas pungentes.
Não será evitando colocar o dedo nas feridas da sociedade, como fazem os candidatos marionetes de marqueteiros, que tornaremos São Paulo mais justa e habitável. Necessitamos de líderes que tenham sobriedade, equilíbrio e sensatez para apontar novos rumos.
Independentemente do que Soninha defende, concordemos ou não, a princípio, mas a sua disposição não é a de impor conceitos. Soninha não é dona da verdade, mas faz a sociedade discutir esses temas, está aberta para argumentos contrários, propõe plebiscitos, referendos, a máxima transparência na administração, na tomada de decisões e na gestão compartilhada.
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