O Partido Popular Socialista promoveu em São Paulo, nesta segunda-feira (26/2), a primeira reunião preparatória para a Conferência Nacional da Esquerda Democrática "Caio Prado Júnior". O presidente do PPS, Roberto Freire, reuniu uma centena de nomes representativos da sociedade e do partido para iniciar o debate sobre o que é ser uma esquerda moderna, suas características e seu projeto transformador para o Brasil.
"Essa Conferência deve ser ampla, não pode se limitar ao universo do partido, ainda que essa prática já venha da tradição do velho Partidão (o PCB, antecessor do PPS), de discutir política", afirmou Roberto Freire. "Há um certo senso comum dos setores dominantes de que a política seja coisa secundária para a sociedade, por isso a idéia é chamar a todos para que juntos possamos construir o futuro não apenas do PPS, mas da esquerda democrática".
Freire ressaltou que "esquerda" e "direita" não são termos ultrapassados, nem podem ser vistos como se fossem meros sinais de trânsito. "São referenciais importantes, mesmo depois do fracasso do modelo soviético e da queda do Muro de Berlim", declarou Freire. "Foi nesse contexto que nasceu o PPS, já com esta vocação de se abrir para diferentes setores sociais na tentativa de discutir ampla e profundamente o que é ser uma esquerda moderna e democrática no país."
O encontrou durou cerca de quatro horas e reuniu dirigentes do PPS, parlamentares (o deputado federal Arnaldo Jardim e o deputado estadual David Zaia, presidente do PPS paulista); o Secretário Adjunto de Habitação do Estado, Ulrich Hoffmann; os ex-secretários Emerson Kapaz (Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico), Marco Petreluzzi (Segurança), João Batista de Andrade (Cultura) e Heraldo Corrêa (Esportes); o Subprefeito da Casa Verde, Marcos Gadelho; o dirigente da Força Sindical, Chiquinho Pereira; o físico Carlos Henrique Brito Cruz, da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo); o pró-reitor da USP, Sedi Hirano, e o presidente municipal do PPS, Carlos Fernandes.
Também marcaram presença no Hotel Braston Augusta, intelectuais e remanescentes do velho PCB, como o jornalista Marco Antonio Coelho, o cientista político Alberto Aggio, os economistas Alcides Ribeiro Soares e Eduardo Rocha, a física Dina Lida Kinoshita, os sociólogos Brasilio Sallum, Carlos Estevam Martins e José Cláudio Barriguelli, o tradutor Giovanni Menegoz, o arquiteto Urbano Patto, o jornalista Francisco Inácio de Almeida, entre outras figuras históricas do meio político e acadêmico.
"A esquerda brasileira precisa fazer um aggiornamento, uma revisão, para ter um novo rumo e um projeto definido para o Brasil", defendeu Roberto Freire. "Não temos a pretensão que desta Conferência, por si só, floresça a 'nova esquerda', mas esta é a contribuição que podemos oferecer, e o PPS não quer perder seu ímpeto reformista e aglutinador."
O presidente do PPS disse ainda que não sabe qual vai ser o resultado final da Conferência Nacional, prevista para o mês de julho, após reuniões preparatórias em diversos estados e municípios, mas que o exemplo deste encontro inicial em São Paulo já demonstra que toda a sociedade pode ganhar a partir de um debate franco e aberto, sem nenhum patrulhamento de idéias e opiniões.
Francisco Inácio de Almeida, secretário nacional do PPS e um dos idealizadores da Conferência, reforçou que "a intenção é incorporar diversos setores da sociedade para buscar o que é ser uma esquerda contemporânea e qual é a sinergia que podemos desenvolver nesse país imenso, no sentido de encontrar um caminho com técnicos, intelectuais, lideranças políticas e sociais num verdadeiro mutirão".
O empresário Emerson Kapaz, ex-deputado federal e secretário na primeira gestão do governador Mário Covas, afirmou que "muito mais do que os partidos políticos, é a própria sociedade que deve ser a protagonista dessa mudança que se faz necessária diante da mais grave crise política e de identidade do país". Para Kapaz, essa é a contradição que um partido coerente ("Como é o PPS") deve enfrentar. "Quanto menos essa Conferência tiver uma cara política e uma coloração partidária, melhor", afirmou. "Devemos reunir todas as pessoas capazes de pensar grande, de buscar soluções para o país, e o PPS pode ser o cimento que vai unir todos esses segmentos diversos e fazer a sociedade acordar."
O jornalista Marco Antonio Coelho entende que a questão central da Conferência deva ser "discutir o que é ser esquerda hoje, sem girar em torno de futricas ou dos erros e acertos do governo do PT". Até porque, segundo Coelho, "devemos apontar para um debate maior, pois há erros absurdos em todos os partidos, temos uma incapacidade de agir e trabalhar com o povo, erramos na maneira de fazer política e de interagir com a sociedade, e é isso que tem levado à descrença nos políticos".
Leia aqui a íntegra das principais contribuições para o debate.