Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), São Paulo, julho de 2015. O tema musical de James Bond invade a sala vazia. É um toque de celular. "Oi, Anselmo, onde você está?", pergunta a voz feminina que sai do elevador.
Loira, gaúcha que veio morar em São Paulo nos anos 70 como aeromoça da extinta VASP por 13 anos, Ana Prudente bem que poderia ter sido uma típica "bond girl" dos filmes de 007. Mas quem está ligando no seu celular não é o agente britânico com "licença para matar" na ficção. É um personagem real e controverso da História do Brasil, agente infiltrado nos movimentos de resistência à ditadura militar, responsável direto pela prisão, tortura e morte de pelo menos duas centenas de pessoas (a maioria jovens, incluindo a própria namorada, possivelmente grávida, que foi torturada e morta após sua delação).
Ele avisa à empresária e amiga que chegara a São Paulo, vindo do Rio, com certo atraso para o lançamento do livro "Minha Verdade", marcado para as 18h, na sede da ADESG, no centro. Mas como estava no contra-fluxo do trânsito chegaria logo. Ana Prudente - que já foi candidata ao Senado Federal pelo PTC, o partido-herdeiro do PRN que elegeu Collor presidente - informa que um jornalista o aguarda. Em menos de meia hora chega o homem de cabelos brancos, 74 anos, que há meio século foi o estopim do golpe que derrubou o presidente João Goulart e hoje vive literalmente sem identidade e no ostracismo.
Sergipano de Itaporanga d'Ajuda, José Anselmo dos Santos pleiteia ter a sua "verdade" reconhecida: tanto através do livro que acaba de lançar com a sua visão sobre estes 51 anos de história ainda mal contada quanto na emissão de documentos oficiais que o tirem da clandestinidade em que vive desde quando teve os direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964.
O Cabo Anselmo - praça da Marinha que nunca foi Cabo, mas Marinheiro de primeira classe, numa escala hierárquica que vai de Grumete a Suboficial, passando por Marinheiro, Cabo, 3º
Sargento, 2º Sargento e 1º Sargento - requer também os benefícios da Anistia aprovada em 1979, incluindo o pagamento da indenização que cabe àqueles que foram presos e torturados, assim como aos familiares de mortos e desaparecidos durante a ditadura militar. O ex-marinheiro reivindica ainda uma aposentadoria correspondente ao posto máximo que poderia ocupar hoje nas Forças Armadas, que seria o de Suboficial aposentado.
Ele já foi Daniel, Jônatas, Américo Balduíno e Alexandre da Silva Monteiro, entre outros disfarces e uma cirurgia plástica no rosto para despistar os inimigos. Do marinheiro que liderou um motim considerado o estopim da queda de Jango até o idoso de aparência frágil que diz lutar pelo direito cidadão de possuir RG, CPF, INSS e Título de Eleitor, há muitos acontecimentos obscuros.
As idas e vindas na história de José Anselmo dos Santos são impressionantes. Se fosse um filme, seria inverossímil. Da "coragem" de desafiar a hierarquia militar com uma ação incendiária entre os marinheiros e da militância na luta armada de esquerda contra o regime; até ser preso, "mudar de lado" e transformar-se em carrasco dos antigos companheiros... Ele percorre de um extremo a outro, com incrível desprendimento.
Será que Cabo Anselmo de fato mudou de lado ou sempre foi um agente duplo, delator infiltrado na Marinha e nos movimentos de guerrilha? O que este homem tem a dizer? Quais são as suas "verdades"? O que ele acha da pecha de traidor? Quem é ele, afinal?
O #ProgramaDiferente, da TVFAP.net, foi ouvi-lo com exclusividade. Há arrependimento? Ele tem algum peso na consciência por ter levado centenas de jovens à prisão, à tortura e à morte? Aos 74 anos, ele faria novamente o que fez aos 23?
Assista os principais trechos da conversa ou veja na íntegra a entrevista exclusiva com o Cabo Anselmo, e tire as suas próprias conclusões. O assunto é polêmico e gerou reações indignadas até dentro do PPS e da FAP. Veja aqui algumas opiniões.
Assista os principais trechos da conversa ou veja na íntegra a entrevista exclusiva com o Cabo Anselmo, e tire as suas próprias conclusões. O assunto é polêmico e gerou reações indignadas até dentro do PPS e da FAP. Veja aqui algumas opiniões.
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