segunda-feira, 14 de abril de 2014

Bomba-relógio de Haddad explode no colo de quem?

De um prefeito despreparado e demagogo a irresponsável e chantagista, é extraordinário o salto (reverso, é claro) de qualidade dado por Fernando Haddad.

Foi quase um duplo twist carpado (perdão, Daiane), essa pirueta política surpreendente para a base governista e invejável para a oposição (que, toda reunida, não chega aos pés do PT no potencial revelador explosivo, ou, neste caso, auto-destrutivo).

Há uma bomba-relógio armada por Haddad e passando de mão em mão. É o modus operandi do prefeito: dispara o detonador e joga no colo do primeiro incauto. Enquanto ele simplesmente lava as mãos. O "novo"! Aham! Piada! Só se for o novo Pilatos de plantão no Palácio do Anhangabaú.

Isso começou lá atrás, ainda durante a campanha, com o então candidato garantindo que traria investimentos bilionários para o município graças à sua relação privilegiada com a presidente Dilma. Prometeu também renegociar a dívida paulistana com a União. Nos dois casos, deu com os burros n´água. Não trouxe nenhum centavo além da arrecadação orçamentária prevista pela gestão anterior. Era mentira!

Continuou no episódio dos 20 centavos da tarifa de ônibus. Primeiro, adiou a contragosto o reajuste para segurar artificialmente a inflação, a pedido de Dilma. Depois, anunciou que aumentaria o preço para R$ 3,20 mesmo contrariando a ordem petista. Como se sabe, e já faz parte da história, foi obrigado a recuar graças as manifestações de junho. A cidade não anda, e de quem é a culpa? Do "outro" (ou da outra). Sempre.

Cobre do prefeito Haddad qualquer ação, diante da habitual imobilidade, incapacidade e inoperância, seja em saúde, educação, transporte, moradia, meio ambiente, e qual a desculpa multiuso? "Falta dinheiro". Por que? Pouco importa! Vale qualquer argumento: a não-renegociação da dívida, o não-reajuste do ônibus, o não-aumento do IPTU, a perseguição da mídia e das elites. E por aí, vai...

A mais recente cambalhota do dublê de prefeito ocorreu na semana passada, durante protesto do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) em frente à Prefeitura. 

Oportunista, Haddad subiu no carro de som da manifestação e garantiu que se a Câmara Municipal aprovasse logo o Plano Diretor, ele baixaria um decreto para construir casas populares no enorme terreno onde hoje se encontra a maior ocupação da cidade, denominada Nova Palestina, uma área de preservação ambiental onde por lei apenas 10% do terreno pode ser destinado a moradias.

Pura chantagem. Ao jogar a bomba no colo dos vereadores (e de todos os cidadãos paulistanos, solidários no prejuízo ambiental se houver a descaracterização da área ao arrepio da legislação), o prefeito ingênuo pensa ter sido um gênio. Acha que o povo é bobo, mas ele que faz papel de otário. Neófito nas coisas da política, desconhece as engrenagens e os bastidores da gestão municipal.

Resultado: a "esperteza" de Haddad ressuscitou o chamado "Centrão" no Legislativo paulistano. De uma maioria folgada com sua base cooPTada (43 de 55 vereadores, número suficiente para aprovar tudo aquilo que o Executivo mandasse), acaba de se tornar refém de governistas rebeldes, descontentes com a forma de tratamento e com a tentativa malandra de desviar o foco da Prefeitura para a Câmara.

Nas sessões plenárias e nas reuniões das comissões desta semana, ficou explícito o comando paralelo dos vereadores: falta de quórum, obstruções, adiamento de votações importantes (como do Plano Diretor, que o prefeito cobrava aprovação imediata). Não funcionou nem a tentativa de manipulação do MTST, transformado em torcida organizada pró-Haddad (devido ao interesse pela rápida aprovação do Plano Diretor para ver cumprida a promessa chantagista e desastrada do prefeito)

Por fora da simples polarização entre vereadores governistas e da oposição tradicional, e acima do comando institucional do seu presidente, José Américo, e do líder do governo Arselino Tatto, a Câmara funciona na prática pela influência política de Roberto Trípoli (PV), Milton Leite (DEM), Aurélio Miguel (PR) e Adilson Amadeu (PTB), entre outros.

Não se sabe quando e onde a bomba de Haddad vai explodir, nem os seus efeitos sobre a política, a administração e a eleição de outubro. Mas é certo que outros movimentos sociais (e mesmo invasores pró-moradia) vão exigir idêntico tratamento VIP do prefeito e da Câmara.

O mais provável, hoje, é que a bomba estoure no colo do próprio Haddad. Esperamos que seus estilhaços não atinjam inocentes. Por enquanto, seguimos ouvindo o "tic tac" ;-)

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