quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A sustentabilidade é a releitura do socialismo?

A sentença afirmativa é do governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos, do PSB (Partido Socialista Brasileiro): "A sustentabilidade é a releitura do socialismo". A interrogação é nossa, do PPS (Partido Popular Socialista): Será?

"O Brasil merece ter uma opção que resgate a esperança, a leveza na política, o compromisso com o povo, a excelência da gestão, da participação popular, dos valores da ética, da sustentabilidade que é, sem sombra de dúvida, uma releitura do socialismo, e é o que vamos fazer com muita tranquilidade", afirmou o governador.

O que é sustentabilidade, afinal? O que são as "cidades sustentáveis" que tanto desejamos? Em linhas gerais, a ação política pela sustentabilidade hoje é sinônimo de planejamento, boa gestão, consciência da "boa" política ("nova" ou "velha" são conceitos secundários e subjetivos), participação popular, economia responsável, compromisso com os direitos humanos, cuidado com a natureza e com as pessoas, ação local e visão global.

E o que pregava o bom e velho socialismo? Da histórica proposta de organização econômica, que tratava da administração, da propriedade pública ou coletiva dos meios de produção e da distribuição de bens, e de uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades e meios para todos os indivíduos, resume-se hoje basicamente ao papel regulador do Estado para garantir o bem-estar do povo, os ideais democráticos e princípios republicanos, a cidadania plena e a justiça social.

Nesse sentido, tanto a sustentabilidade quanto o socialismo buscam novos modelos de desenvolvimento econômico, político e social, e soluções para a urgente demanda pela melhoria da qualidade de vida das pessoas, com a garantia de atendimento às suas necessidades básicas e, nos tempos atuais, em equilíbrio com a natureza.

Ambos defendem uma atuação política com ética e transparência; a "democratização  da democracia"; a manutenção da estabilidade econômica, porém com mais ênfase no crescimento sustentável; uma opção mais clara em prol do fortalecimento do setor produtivo nacional e uma relação com os mercados globais que reafirme a nossa soberania, a defesa de nossos interesses e o fim das desigualdades da nossa população.

É por aí. Mas o que provoca essa discussão teórica é o acontecimento prático mais surpreendente até agora para a sucessão presidencial de 2014: o anúncio da união de Marina Silva e de Eduardo Campos.

A chamada "filiação democrática" dos seguidores da Rede Sustentabilidade, que se apresentava como um anti-partido, no tradicionalíssimo PSB, após uma decisão pessoal - e por isso mesmo polêmica e contestada - de Marina, que pregava uma nova forma de fazer política, em #rede e através do "consenso progressivo".

Políticos e seguidores mais próximos de Marina (e ela própria, em vídeo) correm para tentar explicar o cavalo-de-pau que derrubou alguns colaboradores pelo caminho e pegou todo mundo de surpresa, sendo necessário agora um rearranjo interno, como tentam fazer Ricardo Young, Pedro Ivo Batista e Alfredo Sirkis.

Do outro lado, há críticas pesadas, como faz Augusto de Franco. Uma intervenção nas redes sociais, de um admirador de Marina, talvez resuma bem o clima: "quando são necessárias muitas justificativas e tentativas de explicação complexas e intermináveis, é porque algo está errado".

O patinho feio que os jovens idealistas das redes e das ruas estão vendo agora, resignados, vai se transformar em um cisne esplendoroso, como na fábula infantil?

Trata-se de um tiro no pé ou um golpe de mestre? E de quem, afinal, Eduardo ou Marina? O sentimento de frustração e decepção dos seguidores mais fiéis da #rede é temporário ou definitivo? Quem sai ganhando com isso: oposição ou situação? Votos serão transferidos em que proporção? E o que esse apoio pode significar de perdas?

Reportagem do "Estadão" sentiu um cheiro de fumaça no ar, mas não enxergou o foco da ebulição. Cravou que os financiadores de Marina (e nominou Itaú e Natura) estavam pressionando pela sua candidatura, sem perceber um sentimento crescente e comum entre ideólogos da #Rede, empresários e políticos mais "pragmáticos" que a acompanham: Eduardo Campos fala uma língua universal, inteligível na realpolitik, enquanto o marinês é um dialeto restrito aos "sonháticos". Do you understand?

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