Quanto mais os entes da velha política se mexem e reagem às tais "vozes das ruas", mais profundo e gritante é o distanciamento da realidade. Quando a molecada gritava que não era só pelos 20 centavos, alguns analistas tradicionais apressaram-se em julgar negativamente o que chamaram de "protestos difusos" e a suposta fragilidade das múltiplas reivindicações. Erraram feio!
Os governantes, feito baratas tontas, anunciavam que convocariam os "líderes dos movimentos" para dialogar, sem perceber o tamanho da bobagem dita sobre manifestações espontâneas, multicêntricas e saudavelmente desorganizadas. Quem segue a velha cartilha dos partidos continua sem entender nada.
A presidente Dilma Roussef foi quem mais perdeu (e se perdeu): justo ela que nem era o alvo original dos protestos. Porém, (mal) orientada pelo marqueteiro João Santana, tentou em vão faturar eleitoralmente, atirando (mal, outra vez) para todos os lados: plebiscito da reforma política, 100% dos royalties do petróleo para Educação, importação de médicos do exterior, estudantes de medicina obrigados a trabalhar dois anos no SUS... tudo em vão!
Nesta semana assistimos a Câmara e o Senado varando a madrugada com votações em ritmo frenético, e os parlamentares com cara de tacho justificando na tribuna que aquilo tudo era "uma resposta às manifestações das ruas". Doce ilusão. A realidade, que os políticos-autistas não conseguem compreender, é que - façam o que fizerem, a essa altura - a avaliação dos partidos e dos políticos seguirá decadente. Está na casa dos 80% o índice de brasileiros que associa TODOS os partidos e TODOS os políticos à corrupção e à ineficiência.
Ontem foi o tal "Dia de Luta dos Trabalhadores", outro fracasso retumbante. Se não bastasse não ter o charme - muito menos o público - das manifestações históricas ocorridas em junho, nem a espontaneidade daqueles protestos, ainda as centrais sindicais que organizaram o ato foram flagradas pagando de R$ 50,00 e R$ 70,00 de "cachê" para figurantes fazerem número nas ruas.
O que já tinha um ar "fake" e um ranço oficialesco, reunindo mais de uma dezena de entidades cooptadas por partidos, tanto do governo quanto da oposição, acabou por frustrar a minoria de trabalhadores sérios que estavam ali fazendo reivindicações justas e honestas. Predominou a presença dos pelegos, convocados a mando de Lula, Rui Falcão e Zé Dirceu. Não podia mesmo dar certo, muito menos empolgar a população.
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