Pelo menos quatro dos sete membros da CPI do Transporte Público - que se reunirá na terça, 2 de julho, para definir seu relator - eram contrários às investigações apenas 24 horas antes de votarem pela sua instalação.
No chamado "colégio de líderes" de terça-feira, 25 de junho, Milton Leite (DEM), Nelo Rodolfo (PMDB), Dalton Silvano (PV) e Paulo Fiorilo (PT) seguiam a cantilena governista anti-CPI.
Os três primeiros chegaram a discutir em tom intimidatório com o proponente da CPI, vereador Ricardo Young (PPS), como se isso fosse fazê-lo recuar. Ao contrário, apenas deixou evidentes as contradições da base governista. Assim como o prefeito Fernando Haddad no episódio da tarifa de ônibus, que afirmou que seria "populismo" revogar o aumento de R$ 0,20 poucas horas antes de ser obrigado a recuar e revogá-lo.
O líder do governo Arselino Tatto e o líder da bancada petista, vereador Alfredinho, afirmavam que a CPI era desnecessária pois as planilhas de custos já estavam disponíveis, assim como todas as informações sobre a qualidade do sistema de ônibus, linhas, concessionárias, subsídios etc.
O secretário de Transportes Jilmar Tatto (irmão de dois vereadores da bancada do PT, Arselino e Jair Tatto) chegou a afirmar - possivelmente com conhecimento de causa - que uma CPI na Câmara Municipal serviria apenas para "achacar os empresários do setor".
No dia seguinte, quarta-feira (26), pressionados pela opinião pública (unanimidade na imprensa e manifestantes presentes à Câmara), os vereadores cederam ao óbvio: viram que seria um desgaste incontornável rejeitar a CPI. Porém, uma investigação isenta sobre os contratos vigentes (assinados pelo próprio Jilmar Tatto na gestão da prefeita Marta Suplicy) poderia expor irregularidades e fragilizar a já desgastada gestão Haddad.
Daí o recuo estratégico do governo: o petista Paulo Fiorilo (ex-chefe de gabinete da prefeita Marta Suplicy, ex-presidente do PT paulistano e coordenador da campanha presidencial de Lula na cidade) apresentou um novo pedido de CPI, numa manobra regimental para garantir a presidência e a relatoria para a base de Haddad. Ou seja, a CPI "chapa-branca" denunciada pela imprensa e pela oposição.
Se não bastasse, a Prefeitura cancelou a licitação das empresas de ônibus que realizariam o serviço de transporte pelos próximos 15 anos. Uma licitação literalmente bilionária: R$ 46 bilhões para o período, ou seja, mais que o Orçamento anual da cidade, que é de R$ 42 bilhões. Com isso, o atual contrato, que venceria em julho, será prorrogado.
A CPI - cuja pecha de "chapa-branca" é rebatida com veemência pelo proponente Paulo Fiorilo (PT) - é composta por outros cinco membros da tropa-de-choque do governo, além do próprio petista: os vereadores Milton Leite (DEM), ligado a concessionários do transporte público na zona sul; Nelo Rodolfo (PMDB), ex-presidente da Câmara na gestão do prefeito Celso Pitta, quando estourou o escândalo da "máfia dos fiscais" que levou à cassação e prisão de vereadores; Dalton Silvano (PV), ex-tucano que foi membro da CPI da "máfia dos fiscais", combativo opositor do PT e que se tornou um dos mais fiéis e leais aliados do governo; Edir Sales (PSD), líder do partido de Kassab, irmã do conselheiro do Tribunal de Contas do Município, Eurípedes Sales, e apoiadora da gestão petista; e Adilson Amadeu (PTB), que se apresenta como "um fiscalizador dos atos do executivo e, como tal, é um ativo integrante das comissões parlamentares de inquérito".
O único integrante de um partido de oposição, entre os sete membros da CPI do Transporte Público, é Eduardo Tuma (PSDB), sobrinho do falecido Romeu Tuma, senador, delegado, diretor do DOPS e da Polícia Federal, e filho de Renato Tuma, que se orgulha de ser o "único" secretário-geral da Câmara Municipal de São Paulo, num cargo criado especialmente para ele e extinto com a sua aposentadoria.
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