Candidata a prefeita de São Paulo pelo PPS, citada em reportagem polêmica, Soninha Francine diz que sempre defenderá os direitos dos homossexuais e vê na educação uma forte arma para combater toda forma de desrespeito
Por Gil Campos (Revista Free SP)
A candidata a prefeita de São Paulo pelo PPS, Soninha Francine, sempre será uma grande defensora dos direitos homossexuais. “É verdade, a Revista Free SP não mentiu. Eu defendo os direitos homossexuais e continuarei sempre defendendo. Os gays têm os mesmos direitos que todo mundo”, disse ao se referir à reportagem da edição passada sobre “10 motivos para não votar neles”, que gerou repercussão nas mídias sociais e em sites de notícia.
Bem humorada, Soninha disse reconhecer que a publicação não é homofóbica, mas que a formulação da reportagem induziu ao erro. “Sei que a Free SP não é homofóbica, mas quando ela disse que a defesa dos direitos homossexuais é motivo para não votar em mim, passa a ideia de homofobia”.
Ela também confirmou ter interrompido uma gravidez quando tinha 20 anos de idade, como informou a reportagem que a apontou como defensora do aborto. Leitores se manifestaram contra a publicação.
O PPS chegou a postar em seu blog ataques pesados à Revista: “O que é isso???? Homofobia explícita!!!??? Se não bastasse ser uma consideração absurda e preconceituosa, é crime, gente!!! Polícia neles!!!”.
No Facebook, em página assinada por colaboradores da candidata, aparece: “Gente... tem uma revista distribuída no metrô às quintas, que hoje teve na capa assim: 10 motivos para NÃO votar nos candidatos. É preconceito, irresponsabilidade com o eleitor ou falta de noção mesmo?”
Já o Blogay, assinado por Vitor Angelo e postado pela Folha de S.Paulo, aponta: “O guia avisa que isto não reflete a posição da revista e nem é um juízo de valores da publicação. Mas a Free SP deveria fazer um contraponto com o candidato Celso Russomano (PRB) que é fortemente apoiado pelos religiosos fundamentalistas, conhecidos como fortes opositores dos direitos da população LGBT”.
Reportagens sobre o tema também foram realizadas pelos portais G1, Terra e Comunique-se (especialização na área de Comunicação), que foram reproduzidas por uma série de outros sites, sempre levando em consideração a posição da Free SP, já que ouviram o diretor de Redação, Ernesto Zanon. Ele voltou a enfatizar que os motivos elencados não refletem a opinião da publicação. “São argumentos que aparecem na mídia e que podem servir para alguém deixar ou não de votar naqueles candidatos”.
Coordenadoria pede providências
A repercussão da Free SP chegou à Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo na mesma quinta-feira em que foi distribuída. O setor, ligado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, sob a responsabilidade de Heloisa Gama, encaminhou um ofício à Redação, pedindo providências já que recebeu e-mails e telefonemas de cidadãos que queriam denunciar suposta homofobia por parte da publicação.
A própria Heloisa, em contato telefônico, explicou entender que não se tratava da opinião da revista, mas que considerava a publicação negativa para as pessoas que sofrem todo tipo de preconceito.
“Todos os e-mails são unânimes em ressaltar que a revista prestou um desserviço à sociedade ao inserir como aspecto negativo o fato de referida candidata ser defensora dos direitos da população LGBT, tão vulnerável socialmente e alvo de constante discriminação e preconceito.”
Mais adiante, continua: “entendemos que o fato de não ser um juízo de valores como ressaltado no editorial, não exime o cuidado que esta publicação deve ter ao abordar temas tão delicados como a questão dos direitos da população LGBT”.
Para Soninha Francine, a repercussão que a reportagem causou comprovou que a adesão da sociedade em defesa dos direitos dos homossexuais está mais forte. "Isto é fato, a luta [em defesa desses direitos] melhorou muito, mas por outro lado, estimo que as posições homofóbicas, as reações negativas diante da defesa dos direitos homossexuais também aumentaram."
Ela defendeu a educação como poderosa arma para combater toda forma de desrespeito e irresponsabilidade. "Não é criar uma matéria de educação no currículo escolar, mas aplicar a educação em três pontos: no serviço público, no sistema educacional e na publicidade institucional”, alegou a candidata a prefeita.
Deputados divergem ao comentar críticas
O deputado federal e ex-capitão do Exército, Jair Bolsonaro (PP), comentou as críticas contra a reportagem e afirmou que um candidato que se apresenta como defensor de homossexuais geralmente o faz em causa própria. “As leis não podem ser válidas para uns e não para outros pelo simples fato de usarem seu órgão excretor como fonte de prazer”, afirmou o parlamentar.
O polêmico deputado tachou de “insana” a luta dos movimentos que defendem os gays, lésbicas, transexuais e simpatizantes, e criticou os autores de novela que, para Bolsonaro, “a maioria é homossexual”.
“[Eles] sempre mostram que os gays são mais inteligentes, fieis e prósperos, sugerindo explicitamente que a opção pelo homossexualismo fará o jovem mais feliz no futuro”, declarou Bolsonaro.
E considerou “insana” a luta dos movimentos que defendem os gays. “Ensinar com livros, cartazes e filmes pornográficos infantis que ser homossexual é algo natural é no mínimo incentivar a pedofilia. Após as eleições proporei uma CPI para que, ao lado no Ministério Público, o Kit-Gay seja considerado inadequado para o ensino fundamental, pois as atuais lideranças LGBST certamente continuarão lutando por seus insanos objetivos”.
Já o também deputado federal Jean Wyllys (PSOL), que participou do Big Brother Brasil, notabilizando-se por defender as causas homossexuais, também postou em seu Facebook: “Não sou do partido de Soninha nem voto em São Paulo, mas fico feliz de ela ser considerada defensora dos direitos dos homossexuais. Se eu fosse Soninha, orgulharia-me de ser tratada assim e ignoraria a campanha negativa implícita da tal revista Free SP. O que para a tal revista pode ser um ´ponto negativo é, em minha opinião, um ponto positivo: Soninha não exclui os homossexuais!”. ´
A afirmação de Wyllys vai ao encontro do que é afirmado no editorial da edição passada: “Vale salientar, inclusive, que vários dos motivos apresentados como negativos para alguns podem até soar como positivos para outros tantos”.
A página da Revista no Facebook, assim como o e-mail da Redação, recebeu uma série de manifestações e críticas sobre o conteúdo da reportagem. Mais uma vez, a Free SP vem a público deixar claro que não se trata de uma opinião emitida, mas de argumentos utilizados. “Lamentamos que muita gente tenha se sentido ofendida. Não houve a mínima intenção de defender a homofobia ou mesmo propagá-la”, explicou o diretor de Redação.
Segundo Zanon, a Revista apenas trouxe à luz um tipo de preconceito que existe na sociedade, apesar de poucas pessoas assumirem tal postura. “Enfatizamos que nossa reportagem deixou claro não se tratar de uma posição nossa. Inclusive, a Free SP, quando da realização da Parada GLTB em junho deste ano, trouxe ampla reportagem divulgando o evento. Como uma publicação homofóbica, como disseram alguns, poderia abrir esse espaço?”, questiona Zanon.
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