O assunto do momento, nos bastidores da eleição paulistana, é a guerra declarada entre a Igreja Católica e a Igreja Universal. O pano de fundo é a liderança de Celso Russomanno (PRB), que se declara "católico fervoroso" apesar de estar no "partido da Universal", o que tem acirrado os ataques entre ambos.
A questão mais prática dessa batalha é saber se Russomanno vai participar ou não do debate agendado pela Arquidiocese de São Paulo para o dia 20 de setembro, com a presença de centenas de padres de todas as pastorais e das seis regiões episcopais (espécies de subprefeituras da igreja católica).
A decisão de Russomanno é estratégica e vai influenciar também a participação dos outros dois candidatos que, em tese (de acordo com as últimas pesquisas), estariam disputando uma vaga no 2º turno: José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT).
No mesmo dia 20, já foi desmarcado o debate que Folha e UOL pretendiam realizar apenas entre esses três candidatos. Russomanno recusou, inviabilizando o encontro.
Agora a questão é aceitar ou não o debate da Igreja católica: se participar, Russomanno pode ser confrontado por padres e pelos adversários que desejam carimbá-lo como "o candidato do bispo Edir Macedo". Se faltar, cai por terra todo o esforço de marketing para tornar sua candidatura palatável no universo extra-Universal (perdoe o trocadilho).
Qualquer decisão de Russomanno terá prós e contras que serão explorados pelas campanhas de Serra e Haddad. Aliás, PT e PSDB já começaram a desferir golpes midiáticos contra o adversário em comum, que "ousou" quebrar a polarização prevista por dez entre dez analistas e cientistas políticos.
Já dissemos por aqui que a polarização PT x PSDB só interessava a ambos (e à imprensa míope), numa estranha simbiose política. Ou seja, simbiose, para quem não sabe, é a associação de dois ou mais seres de espécies diferentes, que lhes permite viver com vantagens recíprocas e os caracteriza como um só organismo - não podendo ser separados um do outro (o que causaria a morte de ambos).
Na eleição de 2010, houve um exemplo claro dessa simbiose: em determinado momento, ao perceberem que Netinho de Paula (PCdoB) liderava as pesquisas e seria eleito para o Senado, uniram-se os adversários Aloysio Nunes (PSDB) e Marta Suplicy (PT) para "desconstruir" o inimigo comum.
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