quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Soninha e Giannazi: sem medo do “kit gay”
Roldão Arruda (O Estado de S. Paulo)
No último bloco do debate promovido pelo Estadão, TV Cultura, e YouTube, Soninha Francine (PPS) perguntou a Carlos Giannazi (PSOL) o que ele achou da suspensão do programa de combate à homofobia nas escolas, pejorativamente apelidado por grupos conservadores de kit gay.
O que veio a seguir foi um dos pontos altos do debate. Enquanto a maioria dos candidatos evita o assunto, com medo de perder votos de grupos religiosos, os dois disseram o que pensam e, de maneira ousada, defenderam o programa. Valorizaram a coerência, moeda cada vez mais desprezada na política.
Pode-se argumentar que fizeram isso porque suas chances de vencer a eleição são nulas e não têm nada a perder. Não é só essa, porém, a utilidade dos debates. Teoricamente, também deveriam servir para o confronto de ideias, a exposição de programas partidários, a provocação política, o aperfeiçoamento democrático. Sob essa ótica, Soninha e Giannazi, que já foram filiados ao PT, deram conta do recado.
A seguir, o que eles disseram sobre o assunto:
Soninha: Tramita hoje no Congresso um projeto de lei que tipifica o crime homofóbico, o crime de ódio, movido a intolerância, a preconceito. Eu acho que sim, que a violência deve ser punida com rigor, mas insisto que a educação é a melhor forma de evitar que aconteça. O Ministério da Educação produziu aquele material contra homofobia, que foi batizado pejorativamente de kit-gay. Eu queria saber o que você acha dessa iniciativa.
Gianazzi: Nós do PSOL travamos a luta em todo o Brasil contra a homofobia. Homofobia é crime, tem que ser criminalizada. Mais de trezentos homossexuais são mortos, exterminados, esquartejados no País, então nós todos temos que lutar contra a homofobia, como lutamos contra o racismo, contra a violência em relação às mulheres. Nós aprovamos a Lei Maria da Penha, aprovamos a Constituição Federal e a Lei do Racismo. A homofobia também tem que ser criminalizada, é muito importante que isso aconteça. Agora há um retrocesso enorme, porque os governos estão com medo. Esse kit anti-homofobia, que foi lançado num primeiro momento pelo MEC, tinha o aval da ONU, mas fez parte de uma negociata. O governo federal precisava naquele momento livrar o Palocci e negociou com a bancada fundamentalista. Tivemos um verdadeiro retrocesso. Nós defendemos a criminalização da homofobia porque, para nós, os homossexuais devem ser respeitados, como todas as pessoas são respeitadas nesse País. O que não dá mais é tolerar a violência que vem acontecendo, não só a física, mas, sobretudo, a psicológica, que é às vezes tão ruim quanto. É por isso que nós apresentamos muitos projetos nessa direção, em defesa da diversidade.
Soninha: Eu tenho certeza que a escola, além de ensinar português, matemática, tem de promover valores como o respeito. Ao meio ambiente, não é à toa que todo mundo clama por educação ambiental; respeito às leis de trânsito; aos idosos; a todas as pessoas. Independentemente de você gostar do jeito da pessoa ou não. A gente tem um problema muito sério do bullying na escola. Se você não vai muito com a cara de uma pessoa, com o jeito que ela se veste, como ela se porta, você não tem o direito de agredir. Promover isso na escola é muito importante. Mas a presidente mandou suspender o kit, alegando que o governo não poderia fazer propaganda de opção sexual. Eu também tenho certeza que foi uma medida para tentar não desagradar a base mais conservadora. Então, uma pergunta que já foi feita: será preciso que para governar você tem de entregar cargos, comprar votos, como sendo julgado agora no Supremo, e ainda por cima abrir mão das suas bandeiras históricas?
Leia também:
Revista tenta esclarecer polêmica sobre homofobia
Igrejas acirram "guerra santa" na disputa paulistana