Quanto mais nos aproximamos das eleições, melhor cabe situar o partido perante a sociedade. É natural que todos queiram saber: afinal, o que é o PPS, o que propõe, o que defende, a que se opõe? Mais que fundamentações históricas, filosóficas e/ou ideológicas, devemos ser sobretudo bem pragmáticos e pés-no-chão.
A política do dia-a-dia é muito mais ágil, dinâmica e superficial do que supõe a nossa vã filosofia. Não cabe nem entrar no mérito se isso é bom ou ruim, mas é um fato.
Tanto faz como tanto fez para a população saber se Lula é de esquerda, de direita ou ambidestro político. Importa que ele é sim um líder popular, carismático, inteligente, competente e tem a melhor avaliação que um presidente poderia receber - num cenário melhor do que qualquer um de nós teria apostado nos últimos anos (mais positivo até que o mais lindo dos sonhos petistas).
É isso que o PPS - que se opõe ao governo Lula - vai enfrentar.
Um presidente bem avaliado por 80% da população. Que faz, sim, sob alguns aspectos, um governo positivo. Que derrubou todos os fantasmas que sempre existiram em torno da idéia de eleger Lula presidente (da qual, inclusive, o PPS participou desde 1989). Para lembrar o velho mote: a esperança venceu o medo. Vivemos um Brasil (um pouco) melhor.
Ser oposição ao Governo Lula não significa ignorar que Luis Inácio Lula da Silva possa ser bom presidente e um grande ser humano, iluminado, predestinado. O PPS não é antilulista. O PPS não ataca pessoalmente Lula, enquanto homem ou presidente. O PPS é, sim, oposição declarada a este governo.
Somos o oposto do partido do mensalão. Somos adversários dos métodos petistas de seus dirigentes e burocratas que trairam seus ideais e se transformaram para pior no exercício do poder. Somos contra um governo que reune Collor e Sarney, porque votávamos no Lula que combatia ambos, que lutava contra os métodos mafiosos da velha política.
Como bem resume Soninha Francine: "O governo Lula não avançou de verdade na redução da desigualdade (os pobres podem até ter auxílio, mas estão longíssimo da autonomia, da independência); não dá a importância devida às questões ambientais (muito pelo contrário); não melhorou o nível de relação entre os poderes (ao contrário); não investiu em infraestrutura como deveria (energia, saneamento, transportes); não tem uma política econômica que privilegia os setores produtivos (ganha o "mercado financeiro"); não tem uma política externa coerente e consistente (e abriu embaixada em tudo quanto é canto do mundo, no maior loteamento em nível internacional já visto nesse país)."
Essa é a batalha que devemos travar em 2010.
Lula não disputa o terceiro mandato. Há ganhos e conquistas no seu governo, mas julgamos que Dilma e o PT são incapazes de manter ou ampliar. Vamos ajustar a mira contra quem são os nossos reais adversários.
Lula é Lula, é único, está acima do PT. Dilma não é Lula. Dilma é uma mulher com história nebulosa, com experiencia e caráter duvidosos. Uma paraquedista, uma aventureira que nunca disputou um voto.
Quem quer manter e ampliar os avanços do governo Lula pode, sim, votar em José Serra. E pode votar em representantes do PPS para o Senado, a Câmara, as Assembléias e Governos de Estado.
Não precisamos ser o antiLula. Isso dá votos para eleger uns deputados aqui e ali, mas não vai fazer um governador, um senador ou um presidente. E não nos acrescente nada. Não constrói partido.
Não precisamos fazer um discurso raivoso e destemperado para sermos oposição. Nem nos igualarmos a PSDB e DEM. Isso eles fazem melhor, e com mais originalidade. Somos PPS e devemos fazer política com a nossa cara e a consciência do nosso tamanho.
Não queremos dar continuidade ao lulismo, elegendo Dilma ou quem quer que seja apontado como herdeiro momentâneo de Lula (até um eventual retorno em 2014), mas também não queremos ser confundidos com tucanos e democratas. Somos diferentes e queremos ser assim identificados pela sociedade e pelo eleitorado.