sábado, 23 de janeiro de 2010

Os 456 anos da cidade de São Paulo

A Folha de S. Paulo trouxe neste sábado dois artigos que tentam responder a mesma pergunta formulada pelo jornal: "Há o que comemorar no aniversário de 456 anos da cidade de São Paulo?" Veja abaixo.

NÃO

INSATISFAÇÃO GERAL
Oded Grajew e Padre Jaime


NO MOMENTO em que a população paulistana volta a enfrentar situações até então tida como superadas -alagamentos catastróficos, recordes de congestionamentos, habitações insalubres, entre tantos outros problemas que vêm à tona diariamente-, fica difícil encontrar motivos para comemorar os 456 anos de São Paulo.

Os fatos concretos fazem com que a cidade enfrente uma grave crise de credibilidade perante seus cidadãos. E a insatisfação dos paulistanos está retratada na recém-lançada pesquisa do Movimento Nossa São Paulo encomendada ao Ibope. De 1 a 10, os paulistanos avaliam sua qualidade de vida com uma média de 4,8 -nota que se reflete em outros dados importantes: 87% das pessoas consideram São Paulo um lugar inseguro e, se pudessem, 57% sairiam da cidade.

Essas são apenas algumas das dezenas de questões abordadas na pesquisa que, de forma inédita, avaliou o grau de satisfação da população sobre os indicadores de bem-estar levantados durante a fase de consulta pública do Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), realizada entre junho e outubro de 2009 com mais de 36 mil pessoas.

Em dezembro, o Ibope foi às ruas e perguntou sobre o grau de satisfação da população em 25 áreas temáticas, detalhadas em 174 itens. Destes, só 39 receberam nota acima da média.

Outro dado revelador foi obtido com a pergunta sobre o tempo de espera no sistema público de saúde. Entre os usuários, a média ficou em 65 dias para consultas, 77 dias para exames e 162 dias para procedimentos mais complexos, como cirurgias. Como podemos falar em comemoração quando outra pesquisa do Nossa São Paulo com o Ibope revelou que o paulistano passa em média duas horas e 43 minutos por dia no trânsito? Quando nossos rios, que poderiam servir para transporte, esporte e lazer ou como fonte de água, são verdadeiros esgotos a céu aberto?

A insatisfação generalizada está calcada em dados objetivos, já que os indicadores sociais e econômicos continuam atestando a marca cruel da desigualdade na capital paulista.

Por exemplo, na Subprefeitura da Sé, 0,31% dos domicílios são favelas, enquanto no Campo Limpo esse percentual é de 40,4%. A diferença (que chamamos de desigualtômetro) é de 130 vezes. Várias regiões são absolutamente carentes de empregos, leitos hospitalares, áreas verdes e equipamentos públicos culturais e esportivos (pode-se conferir no site www.nossasaopaulo.org.br).

É bem verdade que a força da sociedade civil é um fato que merece comemoração em São Paulo. Força esta que proporcionou o início de uma verdadeira revolução na administração pública municipal, com a aprovação da lei do Programa de Metas (que obriga todo prefeito recém-empossado a apresentar, em até 90 dias, um conjunto de metas para toda a gestão), apresentada pelo Movimento Nossa São Paulo e que, justiça seja feita, contou com o apoio do Poder Executivo e da Câmara Municipal.

Hoje, qualquer cidadão pode acompanhar, via internet, a execução de cada uma das 223 metas apresentadas pela prefeitura. Muitas das metas, se cumpridas, ajudarão a reduzir as diferenças internas em nossa cidade, além de elevar o grau de satisfação da população com o lugar onde vive.

Nós, do Nossa São Paulo, movimento apartidário que busca o desenvolvimento justo e sustentável da cidade, esperamos que os dados do Irbem sobre a grande insatisfação da população com a qualidade de vida, somados a uma análise responsável dos indicadores sociais e econômicos que revelam enorme desigualdade e exclusão em São Paulo, promovam uma saudável autocrítica na sociedade e no poder público.

Torcemos para que não tomem atitudes defensivas ou busquem culpados, mas que assumam as responsabilidades e reorientem ações e prioridades para que possamos ter realmente muitos motivos para comemorar nos próximos aniversários da cidade.

ODED GRAJEW, 65, empresário, é um dos integrantes do Movimento Nossa São Paulo. É também membro do Conselho Deliberativo e presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq. Foi assessor especial do presidente da República (2003).

JAMES CROWE, 65, o padre Jaime, teólogo, é presidente da Associação Sociedade dos Santos Mártires e integrante do Movimento Nossa São Paulo. Foi organizador da Caminhada pela Vida e pela Paz e criador do Fórum em Defesa da Vida e pela Superação da Violência.


SIM

SÃO PAULO MELHOR PARA QUEM MAIS PRECISA
José Police Neto


É EVIDENTE que há motivos para comemorar o aniversário de São Paulo. É a cidade em que vivemos, a terra das oportunidades, das pessoas de todas as raças, origens e religiões. É a cidade do trabalho, onde todos podem lutar para demonstrar valor e construir a felicidade. É uma cidade complexa, que está melhorando e que, apesar de todos os problemas, nós amamos de todo o coração.

É a cidade dos paulistanos, representados não só por quem nasceu no município mas também por nordestinos, orientais, europeus, sul-americanos, africanos, sulistas, enfim, gente de todas as origens. Gente que se encontra aqui para formar um harmonioso conjunto de culturas e valores. Morar nesta cidade não é apenas sentir as dificuldades e viver os dramas mas também usufruir de tudo o que existe de bom, de prazeroso, de liberdade, dos parques, dos estádios, das praças de esporte.

É estar dentro de um dos maiores centros culturais do mundo, onde se pode curtir um chorinho, ver espetáculos de música clássica na Sala São Paulo, visitar exposições mundiais em nossos importantes museus ou simplesmente viajar por sua espetacular culinária.

Pesquisa recente do Observatório do Turismo, núcleo de estudos e pesquisas da SPTuris, mostra que o número de turistas na cidade cresceu 37% entre 2004 e 2009, atingindo 11,3 milhões de pessoas no ano passado. E os guias internacionais já tratam a cidade com mais respeito. O "Wallpaper City Guide São Paulo", por exemplo, recomenda: "Vá logo".

Nossa cidade chega aos 456 anos entre as maiores e mais globalizadas do planeta. Ainda não é a cidade ideal que desejamos. Mas, se fizermos uma análise racional, concluiremos que, nos últimos cinco anos, o trabalho iniciado por José Serra e continuado por Gilberto Kassab resultou em inegáveis avanços e conquistas.

Um breve olhar sincero e despojado sobre a metrópole mostrará uma cidade em que, para cada quarteirão com problema, há quilômetros e quilômetros de soluções em produtividade, progresso e geração de riqueza. A saúde pública é uma das prioridades da gestão. O percentual de receita tributária destinado ao setor passou de 15,08%, em 2004, para 21,46%, em 2009. Isso ajudou, por exemplo, na construção do hospital de M'Boi Mirim e na conclusão de uma moderna unidade em Cidade Tiradentes.

Na educação, 228 novas escolas garantiram o aumento de vagas, as matrículas em creches mais do que dobraram em relação a 2004 e a população das áreas mais distantes do centro ganhou 25 CEUs. Na habitação, serão investidos até 2012 cerca de R$ 4 bilhões em programas importantes, como a urbanização de favelas. Serão beneficiadas quase 300 mil famílias.

Favelas como Paraisópolis, Heliópolis e Jaguaré estão se transformando em bairros, com moradias dignas e dotados de equipamentos públicos. A Lei Cidade Limpa reduziu a poluição visual e valorizou a arquitetura de São Paulo. Foram retomados os investimentos no Metrô, substituídos cerca de 8.300 ônibus e anunciados investimentos no transporte de média capacidade.

Em breve, o governo do Estado, com o apoio da prefeitura, entrega a Nova Marginal, e, com a inauguração do trecho sul do Rodoanel, teremos um trânsito melhor. Antes mesmo de o governo federal tornar obrigatória, São Paulo saiu na frente ao exigir a inspeção veicular. A meta da prefeitura é ultrapassar os cem parques municipais.

Os recursos para obras de drenagem passaram de R$ 75 milhões em 2004 para R$ 309 milhões em 2009. Neste ano, a previsão é de R$ 381 milhões. Temos orgulho de nossa cidade e trabalhamos por ela. É claro que temos nossos momentos de tristeza, de viver dramas. Mas sabemos que podemos fazer uma cidade melhor.

A quem interessa criar um clima de condenação de tudo que São Paulo representa? Com certeza não aos paulistanos, de nascimento ou coração. A correta análise dos fatos mostra, claramente, que São Paulo não só avança como também está em um patamar mais elevado de desenvolvimento e pronta para dar um novo salto de qualidade nos próximos anos.

JOSÉ POLICE NETO, 37, pesquisador social, é vereador em São Paulo pelo PSDB e líder do governo na Câmara Municipal.