Estão fazendo aniversário as primeiras manifestações contra o aumento da tarifa e por mais qualidade do transporte público na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), que atingiram o seu auge em junho de 2013, quando o povo nas ruas, com estas e outras justas reivindicações, começou a reescrever a história do Brasil.
Pois, passado um ano, a Prefeitura segue em marcha lenta no enfrentamento do caos no sistema, com o corte e o seccionamento de linhas, a quantidade insuficiente de ônibus em serviço, uma frota envelhecida e a prorrogação por tempo indeterminado de um contrato encerrado que não traz nenhum benefício ao usuário, visando apenas o lucro dos empresários do setor.
O que fez a Prefeitura para responder às manifestações? Segurou o preço da tarifa em R$ 3, anunciou uma auditoria nos contratos (que levou um ano para ser licitada e deve levar mais um ano para ser realizada) e orientou a sua base na Câmara para aprovar uma CPI chapa-branca enquanto o clamor popular, o bom senso e os princípios da boa governança exigiam que se abrisse a caixa-preta do transporte.
Objetivamente, o que se viu de ação do prefeito Haddad foi mandar pintar faixas exclusivas de ônibus em todas as principais vias da cidade. Em tese, o raciocínio é correto: devemos priorizar o transporte público em detrimento do interesse individual, representado pelo automóvel particular, ao mesmo tempo principal causador e maior vítima dos congestionamentos.
Porém, sem qualquer planejamento, a simples proliferação das faixas de ônibus tornaram caótico um problema que já era grave. Se é verdade que diminuiu o tempo do deslocamento das pessoas de um ponto a outro, é igualmente notável que a população está passando mais tempo à espera do ônibus, assim como são danosos os efeitos ao trânsito e ao comércio de rua.
A novidade agora é a promessa de ir além das faixas exclusivas e construir 150 km de corredores de ônibus. Para tanto, diz a Prefeitura, será necessário desapropriar até 7.000 imóveis em São Paulo. Num governo que corta até o kit de material escolar alegando falta de recursos e a necessidade de fazer economia, é difícil acreditar na viabilidade da proposta.
A palavra do prefeito também não vem merecendo muito crédito, ultimamente. Desde a campanha, quando anunciou em vão que teria recursos de sobra graças à parceria privilegiada com o governo federal, passando pelo abandono de promessas absolutamente inexequíveis como o Arco do Futuro e a própria auditoria dos contratos de empresas e cooperativas de ônibus, que sorvem anualmente dos cofres públicos subsídios bilionários e crescentes, o que o prefeito fala não se escreve.
O que a população cobra, com razão, é que as intervenções da Prefeitura no sistema de transporte resultem em melhor qualidade, mais agilidade e maior oferta de linhas. Nós, da oposição, esperamos tudo isso mais a transparência e a eficiência econômica e administrativa. O que temos hoje são ônibus superlotados, a espera interminável no ponto e uma necessidade maior de deslocamentos causada pelo corte e pela mudança constante de itinerários. Portanto, um passinho a frente, prefeito, por favor!
Carlos Fernandes é presidente municipal do PPS de São Paulo e foi
subprefeito da Lapa (2010/2011)
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