sábado, 15 de setembro de 2018

Fé cega, faca amolada e a eleição presidencial


"Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada" 
(Milton Nascimento)

Ao ler e ouvir nas redes e rodas democráticas tantas análises e projeções de 2º turno, especialmente sobre a importância do convencimento do “voto útil” em Alckmin pelos eleitores de Marina, Amoêdo, Meirelles e Álvaro, entre outros democratas, eu me forço a refletir.

A dúvida que fica é: Por que o eleitor não identifica em Alckmin a melhor opção? Por que a maioria enxerga uma realidade diferente de nós? Por que estamos sempre certos e os outros supostamente estão errados? Ou será que a “culpa” não é do eleitor que procura algo diferente?

Obviamente, nossa tarefa e desejo (para o bem do Brasil e da democracia) é não ter um 2º turno entre Bolsonaro e Haddad. O problema é ter acreditado um dia que a coligação frankenstein do Alckmin e seu tempo monopolizado de TV bastariam para convencer ou cativar um eleitor arredio.

A “culpa”, portanto, não é de quem vota em Amoêdo, Álvaro, Marina ou mesmo Ciro. A culpa é de líderes e partidos desgastados e dissociados do mundo real das ruas e das redes. O autismo político poderá nos custar uma derrota já no 1º turno.

Por outro lado, a sobrevida da liderança de Lula e o crescimento de Haddad se devem à narrativa da vitimização que colou. “Todos são corruptos, mas ele ao menos governou para os pobres, melhorou a vida das pessoas”. É a reedição do rouba mas faz, atrelada à cultura e tradição nacionais. Fora a fé cega no lulismo, que é uma religião.

Os "ismos" marcam a história mundial, mas às vezes este sufixo de origem grega indica muito mais uma doença do que propriamente uma ideologia ou um sistema político: nazismo, comunismo, getulismo, janismo, populismo, coronelismo, malufismo, lulismo, bolsonarismo... E o Brasil, com o seu ainda jovem democratismo e frágil republicanismo, corre um risco inominável de retroceder décadas no dia 7 de outubro.

Comemorar a facada em Bolsonaro, ou simplesmente fazer uso eleitoral deste atentado insano (para o bem ou para o mal), tanto como vibrar com a ruindade das entrevistas com os presidenciáveis no Jornal Nacional ou desejar a falência dos veículos de comunicação do tal PIG (o fictício partido da imprensa golpista) me parece um tanto fascista. Pior ainda quando vem atrelado à torcida por alguma facção criminosa. Parodiando o outro, vejo nisso 50 tons de fascismo. Variações à direita e à esquerda do radicalismo que o Brasil precisa se livrar. Mas sou meio antigo, devo ter perdido as últimas atualizações dos conceitos de democracia. Talvez só me reste rezar.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente