Outra afirmação que podemos fazer com segurança é sobre o iminente naufrágio do atual sistema político-partidário e eleitoral: as atuais legendas fazem água ano após ano, mostram-se completamente descoladas de suas bases e desconectadas dos anseios da população. A Operação Lava Jato, com os corruptos ao mar, vem apenas apressar o fim catastrófico de um modelo avariado e obsoleto. Não enxergar isso é querer fazer o papel figurativo de músico do Titanic e seguir tocando alegremente até que a água cubra todo o convés.
O momento exige responsabilidade, equilíbrio e lucidez. Que a onda que vem da França - não por acaso o berço da democracia, com a tríade liberdade, igualdade e fraternidade - possa também nos banhar de nova política, para a consolidação do nosso estado democrático de direito e o amadurecimento das nossas instituições republicanas.
A eleição de Emmanuel Macron pode ser o farol deste novo mundo que buscamos na política. O fenômeno do "dégagisme" - traduzido para algo como "cair fora", ou o descontentamento geral com todos os partidos franceses - leva à vitória o seu movimento "La République en Marche" e o apequenamento das siglas mais tradicionais, à esquerda e à direita.
A nossa elite - sempre tão sensível às influências que vem da Europa - poderia seguir o exemplo. É da dissidência dos grandes partidos, com políticos de centro-esquerda e centro-direita descontentes com os rumos da democracia, e dos novos personagens que emergem da sociedade civil, das redes e das ruas, livres dos velhos vícios e por isso mesmo muito mais preparados para fazer ressoar a demanda da população por uma nova forma de fazer política, que pode nascer de fato a mudança.
Não dá para simplesmente desprezar os fatos revelados em todas as investigações da força-tarefa da Operação Lava Jato, do Ministério Público, da Polícia Federal, do processo de cassação da chapa Dilma-Temer, tão detalhadamente relatado no TSE. Não dá para seguir pautando a agenda política e econômica com os sobressaltos das denúncias que ainda virão. O Brasil não merece ir a pique pela ação criminosa de seus comandantes nem pela omissão conveniente e conivente dos seus tripulantes. Chegou a hora de tomarmos este velho navio! Basta!