Já está bem clara a minha opinião sobre a necessidade da renúncia imediata do presidente Michel Temer para não deixar o país andar para trás ou ficar estagnado diante das reformas necessárias, nem sangrando enquanto se apura o grau de envolvimento de cada um dos personagens governistas nos vários esquemas de corrupção desvendados pela Operação Lava Jato.
Agora proponho o enfrentamento de um novo debate: em uma eventual eleição indireta para cumprir um mandato tampão na Presidência da República até as eleições diretas de 2018, não podemos ceder simplesmente à velha lógica parlamentar ou da política partidária tradicional, que é escolher entre deputados e senadores aquele que for capaz de amealhar o maior número de votos entre os seus pares.
Isso porque, diante do desgaste crescente do Congresso perante a opinião pública, com um número enorme e ainda incerto de envolvidos, denunciados ou suspeitos, e do descolamento entre o dia-a-dia parlamentar e a realidade da maioria dos cidadãos deste país, não basta escolher qualquer congressista - por mais qualidades pessoais ou maioria de ocasião que ele possa ter - para garantir a estabilidade do governo de transição e a segurança jurídica e institucional que necessitamos.
O Brasil exige um "upgrade" da democracia. Novos ares, avanços, reformas, atualização, modernização, aprimoramento. Mal comparando, enquanto o mundo vivencia a era digital, o sistema político se mantém analógico, de baixa qualidade e incontornável dificuldade de recepção dos sinais emitidos pela cidadania, principalmente de ética, responsabilidade e transparência, com aquela velha imagem distorcida dos anseios da população. A era digital, ao contrário, gera, armazena e processa informações múltiplas, contínuas e em tempo real, sem sofrer distorções, interferências e ruídos. Assim também queremos a política.
Portanto, para o lugar de Temer e para garantir a normalidade da transição, precisamos de um nome que aglutine forças e que tenha respaldo da sociedade civil. Não basta somar mais votos no Congresso Nacional, nem fabricar uma liderança artificial momentânea. É preciso encontrar alguém vacinado contra todos os males da corrupção e da improbidade, que aponte para a continuidade da Lava Jato e para a manutenção da agenda de reformas que reconduzam o país para a retomada do crescimento econômico, do pleno emprego e da consolidação do Estado Democrático de Direito. Não é tarefa simples, não é um atalho fácil, mas é o melhor caminho.
Carlos Fernandes é presidente do PPS paulistano e prefeito regional da Lapa.