terça-feira, 2 de setembro de 2014

Nem homofobia, nem apologia: quando o bom senso vai "sair do armário" nessa polêmica sobre os gays?

O termo "armário", para quem não sabe, surgiu no longínquo século IX, dentro do exército, e significava ao pé-da-letra exatamente um local para guardar armas.

Mais tarde o nome se generalizou para móveis com portas, prateleiras e gavetas onde se guarda todo tipo de roupas e objetos.

Até surgir, mais recentemente, a expressão "sair do armário" para descrever o ato - voluntário ou não - de revelação da orientação sexual de um gay ou uma lésbica.

Agora, por incrível que pareça, o "armário" domina a pauta da campanha presidencial de 2014: a homofobia e o preconceito são usados como armas; por outro lado, como antídoto ou escudo, existe toda uma glamourização dos gays. 

Enquanto isso, exageros à parte de um extremo a outro, do pastor da fé-ostentação Silas Malafaia ao deputado-celebridade Jean Wyllys, a verdadeira opinião dos candidatos segue oculta e o bom senso permanece enrustido.

O assunto ganhou as manchetes em dois momentos distintos: quando foi anunciado o Programa de Governo de Marina Silva com avanços extraordinários e surpreendentes até mesmo para os militantes da causa gay e, menos de 24 horas depois, quando a campanha da candidata divulgou uma "errata" sobre o tema.

Foi o bastante para municiar o passatempo da moda: o jogo de vale-tudo "Destruindo Marina", que une de petistas a tucanos, dos pólos conservadores aos progressistas, de pastores homofóbicos a militantes extremistas gays.

Tudo foi bem explicado, mas de pouco adiantou. É mais fácil rotular Marina, de um extremo a outro.

Até um "cientista" mequetrefe entrou na parada contra Marina, endossado pela Folha de S. Paulo, para dar seu veredito: quem acredita em Deus tem um distúrbio mental. Uma doença. Leia em Desafio eleitoral: um balde de ofensas e mentiras. É o preconceito oposto ao sofrido por FHC há quase 30 anos, quando perdeu votos e não foi eleito Prefeito de São Paulo, em 1985, porque se declarou ateu.

Mas voltemos à polêmica sobre os gays. Entre a 1ª versão do Plano de Marina e a 2ª versão, corrigida, mudaram alguns termos, mas foi mantido absolutamente irretocável o espírito da coisa, que é a ampla defesa da igualdade de direitos, sem preconceito ou distinção de sexo, classe, idade, etnia, orientação sexual e identidade de gênero.

Compare as duas versões:


Mais que isso: compare com as propostas de todos os demais candidatos a presidente, de Luciana Genro (PSOL) ao Pastor Everaldo (PSC), passando por Dilma (PT), Aécio (PSDB) e Eduardo Jorge (PV). Não existe nenhum Programa de Governo que avance mais e tenha maior reconhecimento sobre os direitos de gays, lésbicas e trans.


Desesperada pelo favoritismo de Marina, a presidente Dilma tenta uma última cartada oportunista ou, como se diz popularmente, "dá uma no cravo, outra na ferradura": passou a se manifestar a favor da criminalização da homofobia enquanto anuncia um "pacote de bondades" para as igrejas evangélicas. Quer dizer, Dilma oferece com uma mão aos "procuradores" de Deus na Terra e com a outra aos pecadores "varões de Sodoma". Vai é acabar dando com os burros n´água.

Uma coisa é certa: falamos com conhecimento de causa. O PPS foi o primeiro e único partido a se posicionar institucionalmente, por meio de ação no STF do presidente nacional Roberto Freire, pela criminalização da homofobia. Enquanto Dilma sempre cedeu às pressões de preconceito e intolerância da bancada evangélica.

Além disso, quer saber o que Marina Silva pensa realmente sobre o Estado Laico e o preconceito contra gays? Veja o que ela disse em entrevista na madrugada desta terça-feira ao Jornal da Globo.

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