Em época de campanha (ou guerrilha?) eleitoral, pouca coisa ainda surpreende. Mas uma pesquisa divulgada pelo Portal R7 nesta quinta-feira (14) supera qualquer expectativa mais absurda ou bizarra.
O resultado é incrível: além de apontar Celso Russomanno (PRB) em 1º lugar, superando José Serra (PSDB), o que já seria bombástico na atual conjuntura, faz Fernando Haddad (PT) triplicar os índices de intenção de voto apurados em todas as pesquisas realizadas até o momento: de 3% para 9,5%.
O mais inverossímil, porém, que nem milagre explicaria, é registrar mais votos espontâneos do que estimulados para o petista Haddad.
A pesquisa - registrada oficialmente no TRE, como determina a legislação - teria sido realizada pela consultoria New Sense com 828 pessoas na capital paulista. O nome da empresa - e o resultado inusual - geraram um trocadilho óbvio: está mais para pesquisa Nonsense.
Segundo o levantamento, Russomanno teria 25,1% das intenções de voto na pesquisa estimulada. Nesse cenário, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) apareceria na segunda posição, com 22,5%.
O ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) ficou com 9,5% das intenções de voto. Atrás dele, viriam Soninha Francine (PPS) com 5,3%; Gabriel Chalita (PMDB), com 3,1%; Levy Fidelix (PRTB), com 1,9%, e Carlos Giannazi (PSOL), com 0,1%.
Picadinho de eleitor
Os absurdos são tão explícitos e o resultado tão "fake" (como se diz sobre as armações da internet), que fica até chato questionar. Vejamos um único exemplo: Giannazi teve 0,1% numa pesquisa com 828 entrevistados? Como se consegue apurar estatisticamente este 0,1% de votos entre 828 eleitores? Isso significa que ele teria sido citado por menos de um eleitor (para ser mais exato: 0,8 eleitor, ou 80% de um único ser humano, se fosse possível fragmentá-lo). Interessante, não?
O resultado da pesquisa espontânea também desafia qualquer explicação política ou científica: Haddad aparece com 13,9% das intenções de voto, enquanto na pesquisa estimulada (onde são apresentados os nomes dos candidatos), ele teria 9,5%.
Ou seja, praticamente desconhecido do eleitorado, Haddad teria sido mais lembrado quando não teve o seu nome mencionado ao eleitor. Consequentemente, teve menos votos quando o eleitor era informado da sua candidatura. Difícil acreditar nisso, não?
Registrem-se outras coincidências: a pesquisa foi divulgada no Portal R7, da Rede Record, propriedade da Igreja Universal do Reino de Deus, cujo braço político é o PRB de Celso Russomanno, integrante da base governista do PT de Fernando Haddad. Ah, tá!
Instituto New Sense responde ao Blog do PPS:
Sobre a informação de que Haddad tem mais votos espontâneos que estimulados, é improcedente a análise ou os número aos quais o PPS teve acesso foram inadequadamente divulgados pelo portal R7.
Como não cabe ao Instituto a divulgação mas ao contratante, podemos apenas afirmar que: mais de 77% da população não tem ainda, quando questionada espontaneamente, um candidato a prefeito. Do total dos entrevistados Haddad tem 3,1% de intenção de votos de forma espontânea, que se transformam em 13,9% quando se considera a base dos respondentes que indicaram que tem um candidato.
Para a avaliação de votação estimulada no cenário 2 (7 candidatos), Haddad tem 9,2. A evolução é de 3,1 – espontâneo – para 9,2 – estimulado com 7 candidatos.
Celso Russomanno está em região de igualdade estatística (um intervalo matemático) com Serra nos dois cenários estimulados pesquisados (cenário 1 – 10 candidatos e cenário 2 – 7 candidatos).
Os critérios de arredondamento variam. Normalmente os Institutos divulgam valores sem casa decimal – em função da margem de erro da pesquisa – no caso desta 3,5%, no do DataFolha 3%. No caso do uso de uma casa decimal votações abaixo de 0,5% seriam 0(traço) e, por exemplo, uma votação de 0,7% seria arredondada para 1%.
No caso dos números divulgados, sendo mais para utilização interna, mantivemos uma casa decimal. Gianazzi teve um voto, ou seja, 0,1208%, que foi arredondado em 1% para uma casa decimal. Se o arredondamento fosse para nenhuma casa decimal ele teria 0%.
Seria interessante o PPS, antes de divulgar uma informação “fake” - ou fugindo dos anglicismos uma “barriga “ - como o texto do Blog sobre uma pretensa pesquisa “fake” ou falsificada, ter entrado em contato conosco para esclarecimentos – os dados de contato estão no TSE ou facilmente localizáveis pela internet.
As conclusões sumárias da pesquisa – que o R7 não divulgou, talvez porque o contratante não tenha enviado foram:
"A eleição está no momento entre três nomes: Russomano, Serra e Haddad.
Russomanno desponta momentaneamente apoiado por uma exposição constante na mídia, um alto grau de conhecimento e, por enquanto, pouco desgaste por disputas partidárias e críticas adversárias. Seu desafio será neutralizar críticas, manter votos existentes em função do desconhecimento por parte do eleitor das opção partidárias (principalmente PT e coligações) e estabelecer uma estratégia que tire proveito da tentativa de polarização PSDB/PT durante a campanha.
Serra possui tecnicamente a mesma posição de Russomanno, demonstrando com isto uma certa fragilidade apesar de seu passado e patrimônio eleitoral. Esta situação pode ser oriunda tanto da falta de exposição no momento atual – a campanha ainda não começou oficialmente – quanto um desgaste tanto pelas gestões passadas mas principalmente pela gestão atual – seu sucessor ungido – na prefeitura. Seu desafio é capitalizar este patrimônio, reduzir o processo de desgaste da atual administração e resgatar a tradição do PSDB em eleições paulistas e paulistanas.
Haddad apesar do desconhecimento em torno de seu nome já é o terceiro colocado. A tendência é um grande crescimento de sua candidatura em função de sua associação com governo federal e políticas de bem estar social, bem como com o esperado patrocínio de Lula e Dilma durante a campanha e a legenda do partido. A perspectiva é que seu crescimento se dará com votos de indecisos e de Russomanno."
Infelizmente não posso divulgar as informações que mostram esta tendência de migração.
Avalie uma tabela comparativa de resultados (em anexo no e-mail) – o mesmo cenário NewSense e Datafolha. Veja que os números que apresentam maior diferença em termos de pontos percentuais são a votação de Serra e Soninha – maior para DataFolha do que para a NewSense e os indecisos – maior para NewSense do que DataFolha. E são justamente os valores que fogem da igualdade estatística. É incrível como os valores se compensam, não?
Apesar do apoio do PPS a Soninha e Serra, gostaria de indagar: você acha que temos só 3% de indecisos para a votação estimulada deste cenário? Você acredita que os votos em nenhum (nulos) são três vezes maiores que os não sabe (indecisos)?
PS: você viu o problema do arredondamento e do uso de nenhuma casa decimal: o DataFolha sumiu com 2% dos eleitores. Ao invés de picadinho temos abdução de eleitor – num total de 20 indivíduos, já que foram entrevistados 1000 eleitores.
Espero sua consideração jornalística, não partidária.
Atenciosamente,
José Paulo G. Hernandes
Instituto New Sense