sábado, 23 de junho de 2012

Soninha Francine: "Existe um porquê..."

Quando eu apresentava o RG, na TV Cultura, uma cena muitas vezes repetida me dava um desânimo brutal: logo no começo do programa, escolhia ao acaso meninos e meninas da plateia, formada principalmente por alunos de escolas públicas, e perguntava o que queriam fazer da vida. Cri...cri...cri... Nada. Não lhes ocorria nenhuma ideia. Um vazio angustiante. Não era uma dúvida diante de várias opções, era a incapacidade de conceber opções.

Eu insistia. “Do que você gosta na escola?”. Nada. “Não precisa ser uma matéria, pode ser alguma coisa no recreio”. Davam de ombros, dizendo silenciosamente “dá na mesma”. “Futebol, skate, não tem nada que você goste?”. Sem muita convicção, para encerrar a conversa, diziam “skate”.

Ficava chocada com a falta de SONHO. Nem o sonho bobo de ser pagodeiro de sucesso ou algum outro tipo de famoso-e-rico.

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A falta de perspectiva é tão fácil de explicar que justifica também a depressão. A escola não é propriamente estimulante. A família não oferece modelos inspiradores: pai e mãe se matam de trabalhar e vivem mal. Já a vizinhança tem modelos de sucesso: a bandidagem manda, é admirada, desejada, temida, compra o que quer e quem quer. Tem os melhores carros, roupas, celulares, mulheres, aparelhagem de som, joias. Armas. Felizmente, a tentação não chega ao ponto de dizer: “quero ser bandido”. Então não querem nada.

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Ah, sim, vendemos sonhos pra eles. “Vendemos” mesmo. “Se você tiver ESTE CARRO... Não precisa de mais nada na vida. Mas se não tiver...”. É um trouxa, um bocó, praticamente não existe, nunca despertará o desejo das mulheres. E não precisa ter dinheiro agora não - você só começa a pagar em dezembro! E são xxyyyxxxx prestações de apenas xxx,99. O juro tá baixinho, baixinho! Que importa quanto vai custar no total? E se você vai ou não vai ter dinheiro pra “sustentar” o carro, se vai ter emprego no ano que vem?

E a gente ainda espera que as pessoas se preocupem e se preparem para o futuro.

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Já houve momentos na vida em que parecia que eu era incapaz de querer alguma coisa (o nome disso era “depressão”). Outros em que o que eu queria parecia impossível . Nesses casos, eu me desanimava, resistia ou... desistia. Nem sempre uma saída covarde; às vezes desistir é sábia decisão.

As horas mais felizes são aquelas em que eu tenho certeza do que quero (e o que não quero). Aí pode parecer impossível que eu não ligo. Quer dizer, às vezes ligo - mas não desisto. Desanimo, tenho vontade de voltar pra cama sem prazo para levantar, de jogar a toalha e mudar de planos, mas, com certeza do projeto e do sonho, espero o desânimo passar e persisto.

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Já quis ser professora de Educação Física, modelo e manequim (confesso - fiz até curso de passarela na Central de Modelos, o Max (“Fivelinha”) foi um dos professores). Quis ser atriz - no teatro eu era muito boa, mas nunca passei em um teste de comercial (o que me daria um dinheirinho desesperadoramente necessário). Quis ser diretora, iluminadora, fotógrafa, roteirista, dramaturga. Contra-regra, assistente de direção. Bibliotecônoma. Pintora. Ongueira, cronista.

Fui professora (ainda me considero!), fiz trabalhos de faculdade por encomenda (#farsante!), recepção em eventos (como Salão do Automóvel), redatora, diretora, apresentadora, colunista, comentarista. Vereadora, Subprefeita, Superintendente de autarquia (Sutaco).

Agora eu quero ser prefeita.

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Sempre quis “mudar o mundo” (nem sei por que coloquei aspas). Acredito que somos capazes de mudar o mundo - claro, o que é “o mundo”? É o que fazemos nele e dele. E podemos fazer “diferente”, podemos fazer a diferença.

Tentei (e, em alguma medida, consegui) fazer diferença em meus empregos e atividades voluntárias - professora, jornalista, “manifestante”, agitadora rsrs. Mas fiquei frustrada, deprimida, com raiva do que não estava a meu alcance e daqueles eleitos para nos representar e resolvi tentar ser vereadora.

Consegui. Sofri pra caramba, principalmente nos dois primeiros anos. Meu partido me desapontava violentamente; não era nada do que propunha (ou do que eu tinha acreditado que propunha). Uma conduta egoísta, incoerente, nociva. Com exceções, claro - que me seguravam no partido. Eu queria ser leal a eles, lutar lá dentro, não abandonar o barco. Mas quando compreendi de fato o que significa “há EXCEÇÕES”, tive de reconhecer que a maioria do partido seguia uma linha da qual eu divergia com a cabeça, o fígado e o coração.

Aprendi horrores. Aprendi coisas boas também rsrs.

Pensei que nunca mais queria disputar eleição nenhuma. Tinha um sonho - disputar a prefeitura um dia. “Sabe quando isso vai acontecer?” (NUNCA).

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Entrei no PPS, feliz com o quanto o partido era azedo consigo mesmo rsrs. O quanto era coerente e escolhia, um sem número de vezes, o caminho mais árduo, mais improvável. Saiu do governo Lula assim que ficou evidente que seu caminho era o da política rasteira que sempre tinha condenado e que a política econômica era a mesma coisa sem ousadia do governo anterior (como se manter a “estabilidade” fosse a única coisa importante do mundo). Partido que expulsou um governador, que avisou seus dois únicos vereadores que eles não teriam legenda para disputar a reeleição.

Partido que aceitou meu domquixotismo, minhas teimas, correr o risco. Que me garantiu poder falar bem e mal das administrações conforme minha opinião, não a conveniência. Que respeitou meus diagnósticos e projetos. Quem tem velhos comunistas tão indignados agora quanto cinquenta anos atrás. Que são doces e gentis, sem amargor apesar das sequelas de tortura. Que condenam o Stalinismo. Que tem nojo de valetudo.

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Em 2008, disputamos a eleição para prefeitura pela primeira vez, fazendo um monte de gente perder dinheiro nas bolsas de apostas ehehe. Não botavam fé. Eu nunca tive um vestígio de dúvida.

Em 2012, parece até que nunca demos mostras da seriedade de nossos planos. Continuam nos tratando como “café-com-leite”. Nas primeiras entrevistas, respondi duzentas vezes “sim, eu vou MESMO ser candidata”. Sem me preocupar com o ceticismo - os fatos confirmariam, ué.

Amanhã, dia 23, (ô coincidência boa), a Convenção Municipal do PPS vai confirmar o que nunca foi motivo de hesitação, debate, controvérsia: a candidatura própria à prefeitura de São Paulo, em coligação com o PMN.

Nós queremos governar a cidade. Queremos ter uma bancada forte para influenciar seus rumos.

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Governar a cidade para que?

Para que seja menos irritante. Mais agradável. Mais saudável. Mais educadora. Menos injusta. Mais inteligente. Menos desigual. Mais respeitosa. Mais verde. Menos violenta. Mais segura. Mais estimulante para quem é honesto, menos promissora para quem não é. Mais acessível. Mais acolhedora, simpática, bonita.

Explicamos profunda e detalhadamente o que pretendemos fazer E COMO - um “detalhe” normalmente deixado de lado nas campanhas eleitorais. Difícil, no nosso caso, é resumir as propostas - mas estou trabalhando nisso, rsrs.

Estou feliz, muito feliz. Nem sempre contente, nem sempre animada (não sou feita de gelatina), mas convicta. Gosto muito do meu partido - seus dirigentes corrigem os rumos com honestidade e coragem e me dão a confiança de que estou no lugar certo (sem dirigentes firmes, obstinados, idealistas, os bons viram exceção outra vez, porque os desviantes triunfam e dominam).

Aqui estou eu, realizando um sonho de infância (de adolescente e de adulta rs). Fazendo política. Trabalhando no serviço público. Disputando eleição para Chefe do Executivo municipal. Vivendo a cada dia a construção do meu ideal.

“Um belo dia resolvi mudar/ E fazer tudo que eu queria fazer (...) Em tudo que eu faço/existe um por que (...) E fui andando sem pensar em voltar/ e sem ligar pro que me acontecer (...) Um belo dia vou lhe telefonar/ pra lhe dizer que aquele sonho cresceu/ No ar que eu respiro/ Eu sinto prazer/ de ser quem eu sou/de estar onde estou/Agora só falta você”.

Então não falta nada.

Quem foi que disse que isso é maluquice? :-)

Até amanhã. "Amanhãs".

Soninha