Depois de viajar o país, a má reputação do PR chegou ao centro de São Paulo, no tradicional bairro do Brás, onde funciona a Feira da Madrugada, que reúne em torno de 5.000 comerciantes.
O caso veio à tona anteontem, quando a Folha publicou uma carta de Agnaldo Timóteo (PR-SP) dirigida ao ex-administrador da feira: "Você se lembra, Geraldo, que os oportunistas do meu partido te exigiram R$ 300 mil mensais?".
Às vezes é útil lembrar que este personagem histriônico do lúmpen-malufismo é um representante do povo -vereador e do PR, o aliado de sempre do governo petista. Não se sabe ao certo quem seriam os "oportunistas" (ou se há no PR alguém que não o seja), mas o próprio Timóteo disse anteontem ao jornal que "nada acontece no PR que não passe pelo Valdemar".
O deputado Valdemar Costa Neto parece estar em todas, no atacado do Dnit ou no varejo do Brás, mas o esquema de propinas da feira é abrangente, vai além do "boy" de Mogi.
Em carta que enviou ao prefeito Gilberto Kassab em março deste ano, o criador da feira, Geraldo de Souza Amorim, hoje afastado de seu comando, relata que vinha sendo achacado e ameaçado de morte. Na entrevista que a Folha publica hoje, ele reitera o que disse e se refere a chantagens que teria recebido do vereador Adilson Amadeu (PTB) e do deputado federal Milton Monti, mais um do PR paulista.
Sob o sucesso do comércio popular que se instalou no local (um antigo terreno da rede ferroviária federal), criou-se uma teia de conexões entre o submundo do crime e o submundo da política. Ela envolve personagens mais e menos graúdos que vendem proteção e extorquem dinheiro de quem trabalha em condições precárias e perigosas.
A feira do Brás talvez seja um retrato concentrado do país de Lula -onde ascensão econômica, selvageria social e gangsterização da política andam de mãos dadas. Quem quiser terá ali um roteiro pronto para um filme de máfia à brasileira.
(Artigo de Fernando de Barros e Silva, publicado na Folha de S. Paulo de sábado, 23 de julho de 2011)