Dois fatos acontecendo ao mesmo tempo, nessa espécie de farra com o dinheiro público, expõem as contradições da nossa democracia diante de um país desigual e injusto. Demonstram mais: práticas que podem até ser legais, mas parecem imorais exatamente pelo contraste em que vive o país e a nossa população.
O anúncio da fusão entre os supermercados Pão de Açúcar e Carrefour, bancada em 85% por dinheiro público, do BNDES, é uma demonstração inequívoca do desvio de função de um banco que deveria financiar o desenvolvimento industrial do país, mas se dedica, nos governos Lula e Dilma, a aportar enormes quantias de recursos na formação de grandes conglomerados privados, com a justificativa esfarrapada de defender o nacionalismo econômico.
Por outro lado, os vereadores de São Paulo aprovam a concessão de incentivos fiscais de até R$ 420 milhões para a construção do estádio do Corinthians, na Zona Leste da cidade. Na prática, um cheque nominal à construtora responsável pela obra. Dizem, aliás, empresa que estaria bancando as viagens do seu novo garoto-propaganda, Luis Inácio Lula da Silva.
O PPS protesta contra esses dois absurdos.
O líder do PPS na Câmara Municipal de São Paulo, Vereador Claudio Fonseca, afirma ser favorável ao desenvolvimento da região, mas é contra a destinação de recursos públicos para a construção de um estádio particular. “É uma atividade privada que precisa ser financiada por recursos privados. A cidade já fez a sua parte cedendo a área para a construção da arena esportiva”.
Segundo ele, com esses recursos destinados pela Prefeitura ao Corinthians, seria possível construir 840 escolas de educação infantil para atender, em cada uma delas, 240 crianças. Ou seja, mais de 200 mil crianças atendidas por dia.
A história do Pão de Açucar, da família Diniz, coincidentemente também amicíssima de Lula, indica as mesmas contradições entre interesses públicos e privados.
"Eu não entendo essa estratégia de concentrar 30% do mercado nacional de varejo na nova empresa e colocar o desemprego na antessala dos trabalhadores de ambos os supermercados", afirma o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire.
"Não vamos sonhar que após a fusão os empregos serão somados. Onde houver uma loja Pão de Açúcar vizinha de uma do Carrefour, certamente sobrará apenas uma, desalojando os empregados daquela que foi fechada."
"Também não devemos imaginar que, com a concentração do mercado, os preços serão nivelados por baixo. Vai sobrar para o consumidor, que terá de pagar mais caro nas compras. Os fornecedores também perdem, porque terão menos poder de barganha."
Agora vá voce, humilde leitor, tentar um empréstimo bancário. Ou vá fazer uma comprinha no mercado, ou assistir um jogo no futuro estádio. Diga lá que eu e você somos sócios dessas obras... ;-)