A movimentação do prefeito Gilberto Kassab, que ensaia a saída do DEM para uma nova legenda, vem recebendo intenso bombardeio de seus colegas de partido. Nada surpreendente. Afinal, tirando Kassab, qual outra liderança de projeção nacional dos Democratas, nome-fantasia do velho PFL e cria da costela da Arena, o partido sustentáculo da ditadura militar?
O prefeito de São Paulo é hábil articulador político. Transitou pelo liberalismo, pelo malufismo, assumiu como supersecretário com aura de salvador em pleno mar de lama da gestão paulistana de Celso Pitta e acabou se colocando por mérito na hora certa, no lugar certo: vice de José Serra na coligação que uniu PSDB, DEM e PPS em 2004.
Superou as desconfianças e provou ser, além de aliado combativo e leal, um administrador competente. Também mostrou ser bom de voto, derrotando petistas e tucanos na sucessão de Serra. E é como terceira via - fora da polarização entre PT e PSDB - que tenta se colocar para 2012 e 2014, alternando momentos de ira e de cumplicidade com antigos aliados e futuros adversários, não necessariamente nesta ordem.
Kassab tem o poder de revolucionar o ninho tucano, expondo as intermináveis divergências entre serristas e alckmistas. Foi o primeiro, em São Paulo, a derrotar o Centrão - grupo de vereadores que desde a gestão de Marta Suplicy controlava a Câmara e barganhava com o Executivo - para, em seguida, entregar a liderança de governo habilmente a um de seus líderes. Flerta com a base de Dilma, ao dialogar com PMDB e PSB, mas continua sendo um dos nomes fortes da oposição.
Ou seja, não se discute mais a política de São Paulo e do país sem considerar esta movimentação de Kassab. Mais uma vez, o prefeito fez valer sua visão estratégica e se colocou no centro dos acontecimentos. Para o lado que pender, certamente arrastará uma legião de seguidores - entre vereadores, deputados, senadores, prefeitos e governadores.
Resta saber qual o saldo de toda essa movimentação. Como o eleitorado vai reagir às decisões do prefeito de São Paulo e às suas ambições futuras, e como ele próprio vai articular com os partidos aliados toda esta mudança. Vamos aguardar e avaliar.