O governo, parte dos economistas e a indústria automobilística adoram comemorar recordes na produção e venda de veículos, como se isso, por si só, representasse um grande progresso para o país.
Não deixa de ser interessante no sentido da geração de empregos e até como sinal de que parte da população tem o seu poder de compra preservado. Porém, no aspecto urbano e ambiental, é uma catástrofe que milhões de carros sejam despejados nas ruas, sem que se avalie o impacto desse tsunami com aura progressista.
A malha urbana não suporta tamanha invasão de carros. Ruas, avenidas, pontes, viadutos, estradas não esticam para absorver tão festejada produção. Medidas restritivas e paliativas como o rodízio de veículos, implantado há mais de uma década em São Paulo, mostram-se ineficazes. Alternativas de transporte coletivo são insuficientes. Pior: os carros novos não substituem os velhos, mas se somam a estes na tentativa de burlar o rodízio.
Com isso, aumenta o caos: congestionamentos intermináveis, poluição letal, problemas de saúde para grande parte da população. O que fazer? Quem se preocupa verdadeiramente com o "desenvolvimento sustentável" e dá conteúdo efetivo ao termo, além do discurso?
Números e mais números
A produção de veículos no país cresceu 15,3% no acumulado dos dez primeiros meses do ano na comparação com o mesmo período em 2009, atingindo a fabricação de 3,043 milhões de unidades e batendo mais um recorde. A maior marca até então (2,922 milhões) havia sido contabilizada em 2008.
De acordo com os dados divulgados pela Anfavea (associação das montadoras) nesta segunda-feira, em outubro foram produzidos 321.814 automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões, o melhor resultado para o mês, com alta de 5,5% ante setembro e aumento de 1,5% no confronto com igual intervalo em 2009, ano que teve o desempenho afetado pelo agravamento da crise econômica mundial.
O número de empregados nas montadoras somou ao final do mês passado 116.673 trabalhadores, superando o patamar contabilizado em setembro (115.577).
As vendas de veículos novos no país apresentaram expansão de 8,0% no acumulado dos dez primeiros meses deste ano, no confronto com o mesmo intervalo em 2009, batendo o recorde para o período com o emplacamento de 2,805 milhões de unidades.
Em outubro, 303,2 mil automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões foram licenciados, atingindo também um novo patamar para o mês, mesmo com a redução de 1,3% ante setembro. No comparativo com igual período no ano passado, houve acréscimo de 3,0%.