Artigo de Carlos Fernandes (PPS/SP) |
A Prefeitura de São Paulo contratou uma auditoria externa para diagnosticar as falhas do sistema, tal qual os pais que recorrem a um psicólogo para ajudar na orientação do rebento mal comportado. Mas eis a surpresa na conclusão da análise quando o filho recebe alta, enquanto os próprios genitores acabam responsabilizados por negligência, maus tratos e abandono.
Mal comparando, foi esta a conclusão da auditoria: o problema não está no contrato do transporte, mas na sua gestão. Ou seja, se a qualidade do serviço prestado se mostra insatisfatória, não é por falta de mecanismos legais. Estão todos ali, previstos contratualmente, para remunerar o trabalho eficaz e punir as ineficiências.
Voltando ao exemplo inicial: é como em nossa casa, se não dermos a necessária atenção aos filhos, estabelecendo regras, colocando limites e cobrando responsabilidades, a tendência natural é a acomodação. Depois que os pais perdem a autoridade, não adianta lamentar a rebeldia do filho, a falta de respeito e consideração.
No caso do transporte foi a mesma coisa. A Prefeitura tinha nas mãos todos os instrumentos de fiscalização e controle do sistema. Podia acompanhar passo a passo cada ônibus da frota, a quantidade de passageiros transportados, os quilômetros percorridos, a velocidade, o tempo de percurso, o número de partidas por dia, a localização exata por GPS.
E o que Haddad e Tatto fizeram com todos esses recursos disponíveis? Absolutamente nada! A Prefeitura é frouxa na gestão do transporte e leniente com os problemas que foram se avolumando: ônibus superlotados, veículos mal conservados ou com idade superior à permitida, lucro mal auferido, partidas não realizadas, entre outras falhas que deveriam gerar multas e outras punições (no limite, até a exclusão da empresa), mas que foram sendo toleradas.
Conclusão: apesar de constatar que o serviço prestado é caro e insatisfatório, a única ação da Prefeitura após a auditoria foi aumentar o valor da tarifa e anunciar que está prevista para este ano uma nova licitação para o sistema (no lugar do atual contrato, vencido e prorrogado indefinidamente).
Mas Haddad e Tatto fingem desconhecer que o problema central é a má gestão. Se prosseguirem neste autismo político, podem abrir concorrência, fazer auditoria e dissecar a planilha de custos que não vão resolver a demanda da população por um serviço eficaz, de qualidade, com ônibus pontuais e confortáveis, em linhas bem planejadas e por um preço justo. São ruins de direção e não dão passagem para quem entende (inclusive o corpo técnico da SPTrans) poder avançar.
Carlos Fernandes foi subprefeito da Lapa e preside o PPS paulistano.