segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Uma boa crítica sob e sobre o olhar da direita

Muito bom artigo de Renan Santos, dirigente e idealizador do MBL: “Cadê o Queiroz? A direita e o caso Flávio Bolsonaro”.

Expressa uma visão crítica e sensata desta nova direita que chega ao poder. Demonstra também que há uma variedade de tons ideológicos dentro do pensamento liberal e dessa onda conservadora que vem ganhando corpo desde as manifestações de 2013, passando pelo impeachment de Dilma Rousseff e se materializando definitivamente nas eleições de 2018.

Sem qualquer preconceito, é uma leitura necessária. Até lideranças expressivas do PSOL, como Gilberto Maringoni, estão compartilhando: "Recomendo fortemente a leitura deste artigo de Renan Santos, dirigente do MBL. É surpreendente. O autor faz aqui uma diferenciação entre pelo menos três setores da direita que chegam ao poder no Brasil. São os oportunistas, os fisiológicos (a velha direita) e os ideológicos, entre os quais o MBL se coloca. Bolsonaro oscilaria entre os três."

E Maringoni prossegue: "Santos ressalta que o capitão não esteve na linha de frente da campanha pelo impeachment e que o MBL não pode lhe dar carta branca. Competente, sofisticado e bem escrito, é um dos raros textos da nova direita brasileira que não parte para a desqualificação pura e simples de seus inimigos e que busca construir teoria própria."

Leia o extenso artigo de Renan Santos abaixo, na íntegra:

“Cadê o Queiroz?”: a direita e o caso Flávio Bolsonaro

O recente escândalo envolvendo os assessores do Senador eleito Flávio Bolsonaro acendeu um debate há muito não encarado pelos brasileiros que saíram às ruas contra o PT: como se comportar quando o acusado é um dos seus? A campanha #CadeOQueiroz, tocada por influenciadores de esquerda, busca expor uma suposta hipocrisia da direita em não questionar os eventuais delitos do deputado estadual, enquanto aponta o dedo para o petismo. Responder a este questionamento é prioridade no debate político que se apresenta.

A discussão é complexa. Passa por (1) considerar, ou não, Flávio Bolsonaro e sua família como legatários do processo político-histórico que redundou na derrubada de Dilma Rousseff e na eleição de Jair; (2) por assumir que esta luta não é apenas contra a corrupção do PT ou do esquerdismo de modo geral, mas contra um modo secular de se fazer política baseado na apropriação do público pelo privado; e (3) por atestar, de modo claro, que a luta política por um Brasil mais justo e livre não terminou na eleição do primeiro presidente de direita desde a redemocratização.

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Deve-se levar em consideração estes três pontos pois, sem eles, iremos nos perder ora em histeria sem objetivo, ora em “passada de pano” injustificada. Sobre o primeiro deles — a atual proeminência da família Bolsonaro sobre o processo — não há muito o que objetar. Ao eleger-se presidente da República, Jair impôs-se como materialização política do fenômeno difuso que começou em 2013, ganhou corpo e consciência em 2015 e expressão eleitoral em 2018. Não que sua liderança represente ascendência sobre os demais atores ( MBL, Novo, Libertários, intelectuais da nova direita, etc); em verdade, os Bolsonaro pouco fizeram na luta pelo impeachment e pelas reformas, e seu trabalho nos últimos anos baseou-se quase que exclusivamente em viabilizar Jair como expressão eleitoral única da direita brasileira. Funcionou! — e ao agregar Moro e Guedes ao seu plantel (representando a luta contra a corrupção e o compromisso com reformas) , o capitão da reserva trouxe para si a responsabilidade pelo sucesso de um projeto de direita no comando do país. Somos todos, gostemos ou não, artífices e reféns do sucesso de seu governo; abalos éticos em sua estrutura central afetam sim a continuidade do movimento político. Mas isso não nos torna responsáveis por seus erros, tampouco advogados de suas escusas. Isto deve ficar muito claro!

A união entre os diversos setores da direita no segundo turno não deve ser interpretada como adesão automática ao projeto de poder da família Bolsonaro. Mesmo no seio do PSL existem figuras dotadas de brilho próprio e autonomia, como é o caso da advogada Janaína Paschoal e do escritor e membro da família real Luís Philippe de Orleans e Bragança; fora dele, nomes como Kim Kataguiri, Marcel Van Hatten, Paulo Eduardo Martins, Fernando Holiday, Arthur do Val, Romeu Zema, Wilson Witzel e até o governador João Doria — que ensaia um desengonçado direitismo de ocasião — possuem capital político tal que lhes permite se construir a despeito do capitão carioca. São figuras vistas como herdeiras e líderes do processo, ainda que sem a mesma proeminência de Jair Bolsonaro ou de Sérgio Moro.

Além deles, temos as figuras e instituições que são parte da direita sem exercer mandato na política institucional. Temos aí movimentos como MBL e Vem Pra Rua; grupos de mídia como a Jovem Pan – com sua constelação de formadores de opinião – e sites como o Antagonista, de audiência absurda. Uma miríade de institutos liberais e conservadores é ladeada por escritores best-sellers como Bruno Garschagen, Francisco Razzo ou João Pereira Coutinho; o maior apresentador de Talk Show do Brasil, Danilo Gentilli dialoga no twitter com empresários como Luciano Hang e Flávio Rocha, de posições abertamente conservadoras. Youtubers como Nando Moura, Bernardo Kuster e Raphael Hide apresentam audiência gigantesca, enquanto Olavo de Carvalho se converte no intelectual mainstreamque sempre desejou ser. A direita cresceu e apareceu. Precisa se organizar, mas ultrapassou a fase embrionária. É eivada de contradições, mas aprofunda seu debate nas colisões entre as correntes. É uma força em ascensão mais rica e pulsante que a bizantina esquerda brasileira.

Apesar disso, ao longo dos próximos 4 anos, será impossível para a direita dissociar-se dos erros e acertos cometidos pelo governo Bolsonaro. Seremos todos responsáveis em demonstrar que as ideias que defendemos — livre mercado, fim da tutela estatal sobre indivíduos e famílias, etc — são aplicáveis e efetivas em tornar o Brasil melhor para todos. Um fracasso do governo Bolsonaro, gostemos ou não, pode redundar no retorno da extrema-esquerda ao poder; conquanto iniciativas como MBL e NOVO possam criar alternativas viáveis para 22, seria arriscado demais abandonar este governo à própria sorte — especialmente neste início.

Há, porém, uma importante e alvissareira ressalva: o grupo político do presidente, que atuou de forma sectária e agressiva com outros setores da direita ao longo dos últimos dois anos, terá que buscar apoio para se manter viável; essa é uma oportunidade interessante para uma recomposição de forças que, ao menos, reduza os conflitos e contradições ensejados por oportunistas que buscavam espaço eleitoral a todo custo.

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O segundo ponto — a luta contra o patrimonialismo — é um pouco mais complexo. Ainda que converta-se, por vezes, na rejeição à velha política, conforme demonstrado pelo fiasco de Jucás e Piccianis, esta não é compreendida em sua integralidade. O brasileiro, intuitivamente, não vê conexão direta entre privilégios e imoralidade, especialmente quando se beneficia deles de alguma maneira. Também dá de ombros, no máximo resmungando aqui e acolá, para os dispêndios faraônicos dentro da máquina pública ou no exercício do mandato político. Percebe-se o patrimonialismo como algo natural, uma espécie de construto cultural herdado de nossos colonizadores e perpetuado por nossa burocracia. Até por isso, sua materialização enquanto alvo político é tão complexa; haviam milhares de donatários de privilégios, como assessores, membros do MP, comissionados em prefeituras, concursados acomodados e beneficiários de aposentadorias fraudulentas entre os brasileiros que pediam a cabeça de Dilma Rousseff. Quantos outros não votaram em Jair Bolsonaro?

Ainda assim, a própria campanha do presidente eleito chocou-se com a ideia dos “velhos políticos”. Apoiaram a greve dos caminhoneiros contra “o sistema”. Jogaram na vala comum todos os candidatos de centro sob o argumento de que “eram mais do mesmo”, “corruptos como o PT”. Trouxeram para si Paulo Guedes, que não teve medo de assumir a Reforma da Previdência e a luta contra privilégios em suas entrevistas oficiais. O mesmo Paulo Guedes que disse, para o Instituto Millenium:

“(…) o PT está fazendo em doses maiores o que já era praticado. E é um absurdo isso… que é o uso da máquina pública para propósitos que não são os propósitos republicanos“

“ (…) então houve uma inversão total de valores hoje no Brasil… no Brasil o povo é que serve o Estado, ao invés do Estado servir o povo”


Percebam: o novo ministro da Fazenda coloca o PT como herdeiro direto de uma mentalidade pré existente. Pressupõe uma lógica de privilégios profundamente injusta. E termina por constatar, com elegância e concisão, o regime de servidão imposto ao pagador de impostos brasileiro. Como não concordar com seus argumentos? Como não se irmanar a Guedes na luta contra tamanha injustiça? Fato é: a percepção de um Estado injusto e espoliador, expressa em especial na revolta de 2013, é condição fundamental para a derrocada do velho sistema e a eleição de Bolsonaro. Transformá-la em algo tangível e compreensível, como fizemos com o esquema petista, é obrigação das lideranças de direita para os próximos anos.

As denúncias contra Flávio Bolsonaro — caso comprovadas — são perigosas pois denotam que ele, e por consequência sua família, incorreram na mesma prática histórica de apropriação criminosa do público pelo privado; de enriquecimento ilegítimo baseado nos privilégios do cargo; da ideia de que políticos podem se servir de um Estado que se serve da população. Mesmo que Flávio não seja incriminado, seu caso traz luz para um comportamento público condenável de seu pai: a ideia de que algo possa ser imoral, porém não ilegal como bastante para justificar os privilégios seus e de seus colegas, como fez quando questionado sobre o recebimento de auxílio-moradia mesmo tendo apartamento em Brasília. É o mesmo Bolsonaro que sempre votou por aumentos de salário dos parlamentares e que afirmou, em pleno carro de som:

“(…) o que um deputado federal tem? Trinta e três mil por mês de salário, tá ok? Noventa mil para contratar funcionários — eu contrato…meu pessoal é competente. Funciona. Me assessora. Tá ok? Você tem quarenta mil para passagem aérea, transporte, carro, gasolina, almoço…e se é muito? Não sei. Eu uso quase tudo isso..”

“(…) eu não abro mão do que tô recebendo. Deixo bem claro isso aí. Se eu abrir mão disso, eu não tenho como viajar de avião para Brasília…não vou morar em Brasília? Não vou poder andar pelo Brasil? Vou ter que pagar o telefone do meu bolso? Correspondência do meu bolso? Aí não dá!”


É um Jair Bolsonaro que foi eleito para defender a categoria dos militares — e que nunca escondeu isso de ninguém. Que via com desconfiança as privatizações, que lutou contra a reforma da previdência e se opôs, inicialmente, à PEC do Teto. É um político que se não corrupto — e não há nada que o desabone nesse sentido — valeu-se de todos os privilégios que pudesse amealhar, sem lutar em momento algum pela sua redução ou extinção.”Ah, mas ele era sozinho!”, dirão seus defensores. Ok. E alguma vez denunciou esses privilégios na tribuna, como fizera no combate à ideologia de gênero e no voto impresso?

Justiça seja feita, sua campanha presidencial foi exemplar, tanto na questão dos gastos, quanto na fórmula adotada. Foi, sempre, o candidato com a comunicação mais eficiente, mesmo despendendo valores irrisórios; deu de ombro para o tempo de TV e alianças com o centrão, para o delírio dos brasileiros indignados. Foi tal postura que motivou uma campanha agressiva e voluntariosa jamais vista em nossa democracia; Lula, FHC ou Collor nunca contaram com militância parecida. Bolsonaro motivou o que havia de melhor em seus eleitores, e com eles caminhou triunfante até a vitória. E graças a esta aura anti-sistema, espontânea como seu pão com leite condensado, as inconsistências corporativistas do militar foram jogadas para debaixo do tapete pelo eleitorado.

Ainda assim, a sombra de seu passado patrimonialista, compartilhado por seu filho Flávio, parece ter chegado para ficar. O escândalo do COAF jogou luz sobre a “bagunça” no gabinete do deputado estadual — isto na melhor das hipóteses. Demonstrou, no mínimo, descontrole total e desleixo com a coisa pública. Como explicar os salários adotados, a contratação de familiares, os depósitos recorrentes? E a nomeação na Alerj da personal trainer Nathalia Queiroz— também filha do pivô do escândalo? O caso em questão refere-se apenas ao período 2016-2017, mas pode transformar-se numa devassa nos gabinetes da família durante a investigação do ministério público. As consequências poderão ser terríveis para o clã, e terão efeito sobre o discurso moralista que impuseram sobre sua militância, com reverberações no embate narrativo travado entre a nova direita e o establishment midiático.

É, portanto, mister que práticas patrimonialistas não se façam presentes no seio da liderança do movimento de direita. Até por isso, iniciativas como o MBL e o partido Novo incentivam seus candidatos a reduzirem gastos substanciais de gabinete, buscando uma administração mais racional e proba dos recursos públicos. Tais atitudes carregam também valor simbólico, enquanto expressão clara da vontade política destas lideranças em reduzir o Estado e devolvê-lo ao seu propósito original, que é servir o povo. Os militantes do MBL e da direita devem condenar práticas arcaicas e imorais, bem como pressionar parlamentares que buscam se posicionar no nosso espectro a adotar modelos de governança enxutos e austeros, como padrão de comportamento administrativo e moral único na direita brasileira.

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O terceiro ponto, por fim, é o entendimento de que a luta política do povo brasileiro, nas ruas desde 2013, permanecerá ativa mesmo após a vitória do capitão. Deixemos isso bem claro: a militância que repetia a hashtag #Bolsonaro2018 como mantra ao longo dos últimos 2 anos pode ter reduzido seu ativismo, por ter alcançado seu objetivo final. Mas ela não é, nem de longe, representação máxima dos brasileiros indignados de verde e amarelo. É expressão parcial, relevante, mas não fundamental. Ora, não foi o clamor por Bolsonaro que conduziu o impeachment de Dilma Rousseff ou a defesa da Lava Jato! Foram a indignação popular e o desejo por mudança — estas sim as molas propulsoras do fenômeno político atual. E elas não estão atreladas ao presidente eleito, e tampouco sucumbirão caso as investigações sobre o gabinete de Flávio cheguem a conclusões desabonadoras para o clã.

O cenário não é ruim. A despeito da crise, Bolsonaro vem acertando muito em sua transição. Nomes como Paulo Guedes e Sérgio Moro impõe um padrão técnico e ético muito acima do apresentado pelos governos anteriores, e até por isso suas escolhas contam com 75% de aprovação popular, de acordo com pesquisa IBOPE. Seria estúpido dissociar a luta por um Brasil Livre das proposições e reformas pretendidas por homens deste calibre. Nossa experiência nas reformas Trabalhista e do Teto de gastos demonstram que é possível a defesa de pautas reformistas independentes da credibilidade do governo; nada leva a crer que não seremos capazes de fazer o mesmo com as privatizações de Paulo Guedes ou as reformas no código penal de Moro. As causas — e a luta política nelas embutida — sempre falarão mais alto.

Porém, tudo isso será afetado pelas razões demonstradas no tópico 1: éramos capazes de nos dissociarmos completamente do governo Temer. O mesmo não será possível num governo Bolsonaro/ Guedes / Moro. Será obrigatório lidar com as consequências de seus eventuais erros, mesmo que para denunciá-los. Haverá, portanto, custo. São as consequências de se chegar ao poder, ainda que indiretamente.

Há, porém, campo bastante para que o trabalho político da direita possa ser exercido fora da “zona de convergência” com o governo. Um exemplo claro foi a crise que o Ministro Marco Aurélio, do STF, colocou o país com sua liminar: foram os movimentos de rua, a mídia independente e os influenciadores nas redes sociais que conduziram a devida resposta política — em especial o MBL e o site Antagonista. Ao novo governo, não cabe — nem pode — o papel de militante em casos de crise institucional. Extrapolando o tema, todo o restante da luta em defesa da operação Lava Jato, da prisão em 2a instância e do combate à corrupção ocorrerá, em grande medida, fora dos palácios em Brasília. Some a isso os desdobramentos estaduais e municipais desta luta, num país tomado por mensalinhos e mensalões, e terá, então, a real dimensão histórica da luta que nos aguarda. Ela, definitivamente, não se encerra na eleição do presidente.

Além deste front, existem outros campos de batalha merecedores de citação: a luta nos meio estudantis e acadêmicos, que devem ser independentes por excelência; o debate intelectual e o confronto de teses na arena pública; causas empresariais e o bom trabalho no terceiro setor; ocupação de espaços na grande mídia e em postos estratégicos de comunicação e influência. É todo um universo ainda a ser desbravado, repleto de particularidades; o reestabelecimento da ordem política e do bom debate democrático passa necessariamente pelo seu repovoamento ideológico.

As próprias contradições impostas por uma composição política frágil e heterogênea — que caracteriza o PSL e o grupo do presidente — se farão presentes e diversos momentos do seu governo. Não é injusto dizer que boa parte de seus deputados eleitos é composta por oportunistas e alpinistas eleitorais, cuja compreensão parcial de fenômeno lhes permitiu utilizar Bolsonaro como mola propulsora para angariar votos. Seu compromisso fundamental é com a própria existência política, posto que efêmera; foi o próprio Jair Bolsonaro quem constatou isso, quando observou que a enxurrada de parlamentares eleitos pelo PSL simplesmente lhe abandonara na disputa do segundo turno.

Em uma de suas transmissões ao vivo no Facebook, o então candidatou afirmou que eles se elegeram por sua causa, e deveriam trabalhar por ele na reta final. Não estava errado. Mas isso não basta para garantir a fidelidade de suas hostes nos momentos que o interesse particular falar mais alto que a obediência ao capitão. Não estamos no exército, afinal! Alguém aqui consegue imaginar o desprendimento de Luciano Bivar, Major Olímpio e Fernando Francischini quando o debate sobre fundo partidário eleitoral bater à porta? Irão eles abandonar de bom grande os milhões reservados para a legenda, como preconiza o movimento de direita? E na questão da previdência? Agora que defenderão a proposta de Temer, manterão o mesmo discurso irresponsável de outrora? Caso o governo se torne impopular por algum motivo, não é impossível imaginar uma debandada geral em nome dos interesses particulares… e dos números em redes sociais. É a nova regra do jogo entrando em campo.

Nesses momentos, a força política de uma direita responsável — independente da figura do presidente — deverá se fazer presente e impor-se, com sempre fez nos momentos centrais de nossa política desde 2014. Novos arranjos poderão ser construídos, voltados para a consecução da agenda reformista, em detrimento dos ganhos rápidos e fugazes da política de likes que elegeu o presidente e seus parlamentares. É este, portanto, o elemento mais complexo e interessante de todo o fenômeno, pois permite que através da crise, algo melhor surja. Algo que permita o prosseguimento da luta política para além da luta eleitoral.

Concluo, portanto, sem lhes dar a resposta mais óbvia: o que retrucar quando a esquerda surgir com o famigerado “Cadê o Queiroz?”. Ora, isso não é problema seu. Preocupe-se com a manutenção da sua coerência e do senso histórico de que estamos em uma luta que está longe de terminar. Compreender seu papel nesse processo é muito mais importante do que defender ( ou ao menos justificar) as desventuras de um gabinete desorganizado e tomado por práticas pouco ortodoxas. A nova direita é muito mais rica e complexa que as práticas pregressas da família Bolsonaro. Tornar ela melhor e mais capaz é a missão para todos nós que pretendemos tornar o Brasil, efetivamente, um país livre para todos.

Renan Santos
Estudante interrompido, músico frustrado, cozinheiro irregular, fundador e membro mais controverso do Movimento Brasil Livre. Colunista toda terça-feira e editor-chefe do MBL News.