Aliás, também não tem como não concordar com a maioria das propostas renovadoras do Livres para a política e para os partidos. Quantas vezes postamos aqui textos semelhantes a esta sua visão da conjuntura: "O sistema político está em colapso. Vivemos a era das plataformas, mas os partidos ainda seguem cheios de caciques. O Livres nasceu para mudar isso e levar o poder de volta ao cidadão comum. Incubados no Partido Social Liberal como uma startup, somos um movimento de renovação da política baseado em liberdade, participação e transparência."
Daí também a nossa proximidade, afinidade e o diálogo constante com movimentos cívicos como Agora, RAPS, Acredito, Renova Brasil, Vem Pra Rua, Brasil Livre e outros. (Leia o artigo Acredito. Renova Brasil, Agora!)
Brincando, o Blog do PPS sugere um upgrade ao Livres: de 17 (o número que usava no PSL) para 23 (o número do PPS). Mas, como toda brincadeira tem um fundo de verdade, vamos nos empenhar de fato para que este contato incipiente possa geral uma parceria a partir das eleições de 2018.
As razões para o desligamento do Livres do PSL estão aqui muito bem relatadas: Não há obstáculos que possam deter aqueles que são Livres!
Hoje, um artigo na Folha de S. Paulo também trata do tema. Merece atenção.
Leia abaixo:
Diogo Costa: A rasteira da velha política
Na última sexta-feira (5), o Livres, movimento de renovação do Partido Social Liberal (PSL), sofreu uma rasteira da velha política.
Na condição de presidente do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE) anunciou a entrega da legenda para a candidatura presidencial do deputado Jair Bolsonaro.
Apenas dois dias antes, porém, um outro acordo havia sido firmado. Bivar concordara em se afastar da presidência do partido. A partir do dia 6 de fevereiro, o PSL passaria a ser Livres.
Nascido a partir de um grupo de jovens liberais, o Livres ia muito além de uma mera mudança de nome. O projeto consistia em refundar o PSL com uma nova liderança, uma nova coerência ideológica e um novo modelo de partido como rede social meritocrática e participativa.
Se o Livres colocasse de pé um projeto eleitoralmente viável, o PSL seria refundado como Livres. Este era o acordo.
Pouco a pouco, o terreno foi sendo limpo, e o partido foi ganhando nova cara e novos ares. Comissões foram destituídas, dirigentes foram afastados, mandatários derrotados. O Livres tornou-se a casa de uma nova geração de lideranças. Na última quarta-feira (3), quando Luciano Bivar confirmava o reset do PSL com parlamentares dispostos a inaugurar uma nova e qualificada bancada, o Livres estava de pé.
A rasteira veio em 48 horas. Ironicamente, foi o Livres que preparou o terreno em que hoje Bolsonaro finca sua bandeira. Em uma arena política onde os partidos sujam e desgastam seus nomes até trocá-los, o Livres fazia algo impensável: aumentar o valor da marca do PSL e enfraquecer velhos caciques. O efeito colateral foi concentrar o poder desse valor crescente nas mãos da presidência do partido.
O PSL se tornara uma apetitosa presa para a ofensiva de Bolsonaro. Havia apenas duas coisas em seu caminho: sua palavra para com o Patriota —partido com quem tinha acordado sua candidatura à Presidência— e a palavra do PSL para com o Livres.
Assim, numa quebra mútua de acordos, Bolsonaro levou o PSL "de porteira fechada", e Bivar passou a sonhar com a chance de se tornar vice-presidente do Brasil.
A ascensão e queda do Livres sumariza algo de errado na política brasileira. A renovação que dá sentido e confere dignidade aos novos projetos políticos que surgem pelo Brasil não pode ser feita de boas intenções se antes não houver boas instituições. As instituições do PSL concentravam poder na promessa de distribuí-lo. No fim, a concentração derrotou a promessa.
Há muita gente bem intencionada em grupos como Acredito, Agora, Frente, Raps, RenovaBR e Vem Pra Rua. Gente que merece entrar para a política. Que precisa entrar para a política.
Mas o que acontece quando a boa intenção se choca com as más instituições? Vencem as instituições.
Não basta mudar as caras do poder se não mudamos as engrenagens de concentração de poder. Pelos últimos 18 meses trabalhei na função de diretor-executivo do braço programático do PSL/Livres, a Fundação Indigo de Políticas Públicas.
Minha missão, além de criar um abrangente guia de políticas públicas, incluiu desenvolver instituições partidárias inéditas na política brasileira: governança compartilhada, auditoria por uma grande firma contábil, programa de "compliance" (conformidade com normas), convenção nacional online permanente com hierarquia no modelo de plataformas como Wikipedia e GitHub.
O arranjo entre Bolsonaro e PSL não oferece nenhuma dessas perspectivas de poder compartilhado. No fundo, Bolsonaro quer tomar o Brasil da mesma forma como tomou o PSL: de porteira fechada.
No mesmo momento em que Bolsonaro anunciou seu acordo com o PSL, o Livres decidiu deixar o partido. Como conselheiro do Livres, votei pelo desembarque. Quando o populismo entra pela janela, a liberdade sai pela porta.
Cabe às lideranças do Livres agora reunir as forças para a reconstrução de um projeto que balize seu sucesso na superação dos modelos atrasados de fazer política.
DIOGO COSTA, mestre em ciência política pela Universidade de Columbia (EUA) e doutorando em economia política pelo King's College, de Londres, é diretor-executivo da Fundação Indigo e fundador do movimento Livres
Na última sexta-feira (5), o Livres, movimento de renovação do Partido Social Liberal (PSL), sofreu uma rasteira da velha política.
Na condição de presidente do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE) anunciou a entrega da legenda para a candidatura presidencial do deputado Jair Bolsonaro.
Apenas dois dias antes, porém, um outro acordo havia sido firmado. Bivar concordara em se afastar da presidência do partido. A partir do dia 6 de fevereiro, o PSL passaria a ser Livres.
Nascido a partir de um grupo de jovens liberais, o Livres ia muito além de uma mera mudança de nome. O projeto consistia em refundar o PSL com uma nova liderança, uma nova coerência ideológica e um novo modelo de partido como rede social meritocrática e participativa.
Se o Livres colocasse de pé um projeto eleitoralmente viável, o PSL seria refundado como Livres. Este era o acordo.
Pouco a pouco, o terreno foi sendo limpo, e o partido foi ganhando nova cara e novos ares. Comissões foram destituídas, dirigentes foram afastados, mandatários derrotados. O Livres tornou-se a casa de uma nova geração de lideranças. Na última quarta-feira (3), quando Luciano Bivar confirmava o reset do PSL com parlamentares dispostos a inaugurar uma nova e qualificada bancada, o Livres estava de pé.
A rasteira veio em 48 horas. Ironicamente, foi o Livres que preparou o terreno em que hoje Bolsonaro finca sua bandeira. Em uma arena política onde os partidos sujam e desgastam seus nomes até trocá-los, o Livres fazia algo impensável: aumentar o valor da marca do PSL e enfraquecer velhos caciques. O efeito colateral foi concentrar o poder desse valor crescente nas mãos da presidência do partido.
O PSL se tornara uma apetitosa presa para a ofensiva de Bolsonaro. Havia apenas duas coisas em seu caminho: sua palavra para com o Patriota —partido com quem tinha acordado sua candidatura à Presidência— e a palavra do PSL para com o Livres.
Assim, numa quebra mútua de acordos, Bolsonaro levou o PSL "de porteira fechada", e Bivar passou a sonhar com a chance de se tornar vice-presidente do Brasil.
A ascensão e queda do Livres sumariza algo de errado na política brasileira. A renovação que dá sentido e confere dignidade aos novos projetos políticos que surgem pelo Brasil não pode ser feita de boas intenções se antes não houver boas instituições. As instituições do PSL concentravam poder na promessa de distribuí-lo. No fim, a concentração derrotou a promessa.
Há muita gente bem intencionada em grupos como Acredito, Agora, Frente, Raps, RenovaBR e Vem Pra Rua. Gente que merece entrar para a política. Que precisa entrar para a política.
Mas o que acontece quando a boa intenção se choca com as más instituições? Vencem as instituições.
Não basta mudar as caras do poder se não mudamos as engrenagens de concentração de poder. Pelos últimos 18 meses trabalhei na função de diretor-executivo do braço programático do PSL/Livres, a Fundação Indigo de Políticas Públicas.
Minha missão, além de criar um abrangente guia de políticas públicas, incluiu desenvolver instituições partidárias inéditas na política brasileira: governança compartilhada, auditoria por uma grande firma contábil, programa de "compliance" (conformidade com normas), convenção nacional online permanente com hierarquia no modelo de plataformas como Wikipedia e GitHub.
O arranjo entre Bolsonaro e PSL não oferece nenhuma dessas perspectivas de poder compartilhado. No fundo, Bolsonaro quer tomar o Brasil da mesma forma como tomou o PSL: de porteira fechada.
No mesmo momento em que Bolsonaro anunciou seu acordo com o PSL, o Livres decidiu deixar o partido. Como conselheiro do Livres, votei pelo desembarque. Quando o populismo entra pela janela, a liberdade sai pela porta.
Cabe às lideranças do Livres agora reunir as forças para a reconstrução de um projeto que balize seu sucesso na superação dos modelos atrasados de fazer política.
DIOGO COSTA, mestre em ciência política pela Universidade de Columbia (EUA) e doutorando em economia política pelo King's College, de Londres, é diretor-executivo da Fundação Indigo e fundador do movimento Livres