terça-feira, 23 de maio de 2017

Por favor, senhores, respeitem a inteligência do povo

Pelo que se lê na tentativa desesperada (e por vezes desvairada) de defesa dos mais recentes denunciados no mar de lama que engole a política nacional, o discurso da "vítima" é sempre o mesmo: "eu não sabia de nada", "não foi bem assim", "é armação", "o denunciante não merece credibilidade" etc.

Até aí, consideramos que tanto delatores quanto delatados são igualmente bandidos, os dois lados da mesma moeda da corrupção, sejam agentes ativos ou passivos dessa relação promíscua entre agentes públicos e os donos do capital (aliás, dinheiro que muitas vezes também é público, como se vê nessas operações escandalosas de empréstimos do BNDES, caixa 2, propinas, contribuições eleitorais e mesadas a políticos, seja em troca de favores, seja como cala-boca para "passarinhos" dentro ou fora da gaiola).

Mas, convenhamos, dá para acreditar que o presidente Michel Temer é tão ingênuo e desinformado a ponto de receber clandestinamente no Palácio um investigado em múltiplas operações da Polícia Federal e do Ministério Público sem saber disso? Pior, quem no Brasil não sabia que os donos da JBS, figuras notórias no meio político e maiores patrocinadores de partidos e candidaturas nas últimas eleições, estavam envolvidos em uma série de suspeitas de ilegalidades?

Dá para acreditar, sinceramente, que o senador Aécio Neves tenha igualmente caído em uma armação do "empresário falastrão" e seja simplesmente vítima de calúnia, como quer nos fazer crer ao lermos seu apelo emocionado, de alguém "de carne e osso", jurando uma suposta "ingenuidade" e "boa fé" ao ser delatado injustamente por "um criminoso sem escrúpulos, sem interesse na verdade, querendo apenas forjar citações que o ajudassem nos benefícios de sua delação"?

Dá para levar a sério quando os caras-de-pau Lula e Renan Calheiros, dois dos campeões de inquéritos na Operação Lava Jato, vem a público com declarações estapafúrdias de que ambos teriam muito a ensinar ao país sobre o combate à corrupção, como disse o ex-presidente da República sobre o seu partido, o enlameado PT, ou o ex-presidente do Senado que garante que daria voz de prisão a quem conversasse com ele sobre propina?

Por favor, senhores, respeitem a inteligência do povo. Este, sim, o eleitor brasileiro, muitas vezes peca verdadeiramente por ingenuidade ou desinformação, votando seguidamente em figuras tão sórdidas e inescrupulosas como estas que vão (ou deviam) parar atrás das grades após condenações exemplares, para que o Brasil possa minimamente voltar ao rumo da normalidade e as nossas instituições democráticas e republicanas sejam preservadas do assalto praticado por esses mafiosos nas últimas décadas. 

Contra o imediatismo e a irresponsabilidade destes que só desejam salvar o próprio pescoço, e dane-se a economia e a sociedade brasileira, o melhor antídoto é mesmo o povo nas ruas e nas redes. O #ForaTemer é inevitável. Por isso, inclusive, consideramos legítimo e salutar o movimento espontâneo pelas #DiretasJá.

Mas, espera lá, qualquer argumento e sensatez caem por terra quando vemos, na mesma manifestação, um bando de lunáticos associar o slogan "Diretas Já" com "Lula Presidente", como assistimos nesse fim-de-semana. Ai não dá! Deve ter sido o excesso de chuva que embolorou o cérebro dos manifestantes. Anti-propaganda mais eficaz não existe! Tô fora!

Ora, meus caros, como alguém pode defender ao mesmo tempo o #ForaTemer e o #VoltaLula se ambos estão enredados no mesmíssimo modus operandi da velha política e dos esquemas de compadrio, aliciamento, improbidade e desvirtuamento da coisa pública, como foram vergonhosamente flagrados no Mensalão, no Petrolão e em outros escândalos que estão por vir se não barrarem por baixo dos panos a devida apuração?

Portanto, é preciso repetir, alto e bom som: quem foi a favor do impeachment de Dilma Rousseff não pode se calar diante dos fatos que colocam diretamente o nome do presidente Michel Temer no olho do furacão de irregularidades e malfeitos da política nacional. Por outro lado, quem encampou a narrativa do "golpe" não deveria agora jactar-se da queda semelhante do governo que a sucedeu após um processo constitucional amparado pela sociedade civil, pelo Congresso e pelo Supremo Tribunal Federal. Não cola! É contraditório! É burrice!

Então, pelo bem do Brasil, vamos reiterar o apoio à transição para as eleições de 2018, vamos ser favoráveis às reformas estruturais necessárias à volta do crescimento, ao combate da recessão e do desemprego, ao saneamento da política nacional, ao fortalecimento das nossas instituições e à consolidação da nossa jovem democracia. Sem atalhos, sem aventuras e sem improvisos, com respeito à lei e à ordem, e a obediência à soberania popular com as regras que estão colocadas desde a promulgação da Constituição de 1988. É o único caminho justo e seguro a seguir.