A pesquisa Datafolha que mostra o crescimento significativo de Marta (PMDB) e João Doria (PSDB), com a queda de todos os outros adversários, já permite uma constatação e algumas projeções. Primeiro, fica evidente que a propaganda de ambos está funcionando. O tucano, com a mensagem anti-petista explícita, inclusive abusando do humor (vide as inserções inspiradas nos comerciais do Posto Ipiranga), e a ex-prefeita e ex-petista reconhecendo seus erros do passado (taxas, frases infelizes) e mostrando o bom legado deixado para a cidade, principalmente na periferia.
Por outro lado, os candidatos que desejavam surfar na onda crescente das manifestações pelo #ForaTemer caíram do cavalo: Luiza Erundina (PSOL) e Haddad (PT), além de não subirem nada nas intenções de voto, sofrem com um tipo de autofagia do eleitorado tipicamente petista, ou da parcela reduzida que sobreviveu fiel depois do Mensalão e da Lava Jato. Ambos se anulam à esquerda neste quadro concorrido pela Prefeitura paulistana e acabam dizimados pela altíssima rejeição.
Na realidade, avaliando friamente, São Paulo nunca votou propriamente no PT quando elegeu Erundina, Marta ou Haddad, mas nos candidatos que representavam a mudança. Vejamos: Erundina, em 1988, veio para substituir Jânio Quadros (numa conjuntura nacional deplorável com o presidente Sarney); depois, Marta, em 2000, foi eleita após oito anos de Maluf e Pitta; e finalmente Haddad, em 2012, foi a alternativa encontrada após oito anos de Serra e Kassab. Além disso, o PT nunca reelegeu suas prefeitas, assim como não reelegerá o atual, justamente pela preferência do paulistano por um nome oposicionista (sem contar, hoje, o ódio ao PT).
Os três candidatos que lideram todas as pesquisas (Russomanno, Marta e Doria) se enquadram bem neste figurino de oposição à gestão Haddad. Um candidato tradicionalmente anti-petista, bem representado pelo tucano João Doria; uma candidata recém-convertida, mas que passou sinceridade ao se desvincular do petismo (principalmente com o reforço do vice, Andrea Matarazzo); e um nome sempre muito bem lembrado mas longe de ser confiável para grande parte do eleitorado, que é Celso Russomanno, numa coligação frágil que reúne o seu PRB, sigla da Igreja Universal, com o PSC de Bolsonaro, Feliciano & Cia., além do PTB de Campos Machado com a esposa dublê de vice (Marlene).
Nestes 20 dias até a eleição, é possível que João Doria e Marta acabem se encontrando no 2º turno. O que parecia improvável pode ser, enfim, um bom um presente para a cidade: um cenário sem Russomanno e Haddad, que chegou a ser a principal aposta de ambos, justamente por enxergarem as fraquezas do oponente (e os dois tem razão na avaliação da ruindade um do outro). Pode não ser a escolha dos sonhos do paulistano, mas definitivamente nos afasta dos nossos piores pesadelos.