Pouco importa, nesta "narrativa do golpe", tão enviesada, se o vice estava ali para isso mesmo - e chegou lá com os mesmos 54 milhões de votos de Dilma. Ou se a presidente e o vice viviam trocando juras de amor, assim como Lula fez com Maluf, e Sarney, e Collor, e Kassab, e Renan, e toda a corja que um dia já foi "inimiga do povo", passou a aliada estratégica e agora voltou a ser hostilizada nas ruas. Ou se o PT pediu o impeachment de todos os presidentes anteriores a Lula e Dilma, por motivos muito mais banais que o crime de responsabilidade e a corrupção institucionalizada que derrubaram o governo petista.
O PT e os ditos movimentos sociais, organizações anabolizadas com muito dinheiro público liberado pelo governo federal na última década exatamente para servir de lastro do petismo no poder, não estão aí para explicar, mas para confundir. Não é à toa que, derrotados até aqui em todas as batalhas, arriscam a última manobra desesperada para não serem dizimados na guerra: passaram a mimetizar o discurso das #DiretasJá, o mesmo do qual até ontem fugiam como o diabo foge da cruz.
Perdido por um, perdido por mil. Quando Dilma - querendo se agarrar ao último fio de esperança para se manter no cargo - defendeu a tese do plebiscito por eleições presidenciais imediatas, o PT foi contra. Afinal, a vitimização do partido com a narrativa do golpe parecia muito mais interessante e promissora para trilhar o desejado retorno de Lula em 2018. Agora, porém, malandramente, petistas começam a surfar na onda natural das ruas, que pede o #ForaTemer mas não se contenta com o #VoltaDilma.
Então, precisamos falar sobre as #DiretasJá. O apelo histórico e nostálgico deste slogan no Brasil, além das condições objetivas que levaram o indesejado Michel Temer à Presidência, podem dar o caldo de cultura necessário para a proliferação do movimento. Lembremos que o próprio impeachment surgiu como grito isolado e desacreditado até emplacar como palavra de ordem das ruas e levar à queda de Dilma Rousseff. O mesmo pode se repetir com o movimento que pretende antecipar as eleições presidenciais.
Para termos eleições diretas ainda em 2016, Temer teria que renunciar ou cair. Se uma renúncia ainda parece improvável, a não ser que a situação se torne realmente insustentável com a mobilização maciça da população nas ruas e um rápido esvaziamento do apoio partidário no Congresso, uma possibilidade mais concreta seria a cassação da chapa Dilma/Temer no TSE por crime eleitoral cometido em 2014 ou no STF por crime comum.
Conhecidos os métodos que levaram e mantiveram no poder este nosso presidencialismo de coalizão, tão bem explicitados durante as investigações do Mensalão e da Lava Jato, não seria surpresa a queda de Temer. É uma hipótese a ser considerada. Se cair até dezembro, leva a eleições diretas. Uma queda a partir de janeiro de 2017 provocaria eleições indiretas, a não ser que se mexa na Constituição. Ou então vamos respeitar o calendário e o regramento político já postos e seguir apostando na transição com Temer na Presidência até as eleições de outubro de 2018.
Queiramos ou não, são variáveis - algumas incontroláveis - que se colocam na pauta política nacional. Imaginemos uma eleição presidencial imediata. Quais seriam os candidatos? Pelo PT, naturalmente, Lula. Isso se o juiz Sergio Moro não lhe impedir com uma condenação cada vez mais esperada. Aí parece que a alternativa deste campo gravitacional petista seria Ciro Gomes (PDT). Pelo PSDB se engalfinham Aécio, Serra e Alckmin. Pela Rede vem Marina Silva. À direita, Bolsonaro (PSC) e Caiado (DEM) tem um campo conservador crescente a explorar. Fala-se ainda em Álvaro Dias ou Eduardo Jorge (PV), Cristovam Buarque (PPS), Luciana Genro (PSOL)... Quem mais se habilita?
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